segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Naquela Mesa de Bar

Sentado desacreditado à mesa do bar,
Estrategicamente escolhida para impedir que as minhas tristezas
Das vontades e desejos fracassados não se espalhem pelo ambiente,
Disfarço minha carranca melancólica buscando a diversidade com os olhos ébrios.

Encontro distração e afago nas outras mesas: sorrisos, gargalhadas rasgadas, flertes,
Segredos abertos, sentimentos declarados, corações transbordantes, toques delicados por debaixo das mesas, perdões concedidos e condenações aplicadas a réus que nem ao menos sabiam de suas acusações.

À minha frente meu copo e meu cinzeiro enchem-se e esvaziam-se em frenético descontrole.
Ao redor, os céus em forma de nuvens enegrecidas, horripilantes, como que enviadas para o castigo anunciado.
Ventos gélidos começam cessar e o silêncio parece pairar.
Dentro, um vazio corrosivo, ardente, inquieto que perpetua sob a anestesia etílica.

Como se tudo se calasse e passasse a movimentar-se e acontecer de forma lenta,
Fica apenas o eu, e são meus olhos que não vêem o resto e meus ouvidos que ignoram o todo.
Meus sentidos se afloram e sinto um leve calor me tocar na nuca,
Meu copo, meu cinzeiro e eu estendemos nossas formas em translúcidas sombras à mesa.
Tenho forma, tenho contorno e tenho meio.

Às minhas costas, o sol, moleque ligeiro, mostra-se em seu pôr com cores maravilhosamente indescritíveis.
É como se anunciasse a renovação, o renascer, a esperança perdida.
Meu peito enche-se tão rápido quanto as nuvens que corrigem o pequeno desleixo e me retornam à escuridão de mim mesmo.
Não era o fim, mas o meio, um fôlego!
É hora de ir, não me encaixo nesta paisagem.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

José Leitão: Passagem do Ano

Deitado em meu quarto vejo a chuva cair lá fora, debatendo-se contra o vento, numa luta titânica para ver qual chegará primeiro ao asfalto na ultima tentativa do ano de varrer a maldade do homem da face da terra.
Derradeira chuva, que ao cair do céu vem cantando hinos de esperança, que se misturam com os silvos dos carros e com o espocar dos fogos, que mesmo sob água desfazem-se em cores dando um cintilar às gostas fazendo-as parecerem-se com as estrelas, anunciando o crepúsculo de mais um espetáculo que durou 365 dias.
Ao meu redor a solidão se fez presente, por momentos cheguei a ouvir o silêncio. Queria paz, paz na alma, paz no espírito. Queria pensar...Sonhar...com os olhos abertos sem nada enxergar. Daqui a 10 minutos será novo ano, as cortinas novamente se abrirão, outro espetáculo será iniciado...mas meu Deus, não mude só as cores da roupagem dos palhaços, faça-o também e principalmente com as mascaras, quanto ao cenário é lindo, não deve se incomodar com ele.
Não tire a grandeza da terra, nem a imensidão do mar, nem o azul do céu, nem a beleza das aves e muito menos o calor do Sol que acalenta até a indolência dos homens.
Meus olhos se encheram de água, eu estava falando para mim mesmo. Eu me desdobrava em dois e conversava no meu intimo. Tu sabes por que, não? Tu também já tiveste alguém. É fácil compreender.
Lembraste da solidão da vida? E quantas vezes não desejaste uns braços que te abrissem? Umas mãos que enxugassem as lágrimas de teus lindos olhos, hein? Solidão...silêncio...mais silêncio...distancia...zero hora. Ano novo. Mais uma vez sozinho...mas sinto você perto de mim, sinto na carne a sensação de teus braços em meus braços, de teu rosto em meu rosto, vejo meus olhos refletidos nos teus; entro em êxtase e num esforço supremo elevo meu olhar para o infinito e peço ao Senhor Deus para te dar tudo de bom.
Sinto uma dor em meu peito motivada pela angustia que comprime meu coração sofrido; tento respirar profundamente em busca de alivio, que chega lentamente, acompanhado pelo cansaço, pelo sono, por meu suspiro de saudade e duas lágrimas de esperança...


José Leitão

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Improvavelmente...

E foi numa noite desta que o improvável deixou de sê-lo para tornar-se impossível.
E por improvável, história não pode ser, pois nunca existiu.
Existiu em mim e em mim foi verdade, foi futuro: improvável, impossível.
E em mim será lembrança, terna e eterna, sem permissão de ser minha própria história.
Talvez, vez ou outra, possa ser provável em meus sonhos. Sonho!
E quando tudo sucumbiu, entre poeiras e ruínas, pude ver a mim mesmo, novamente.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Palhaço

Cansado palhaço?
Com essa maquiagem não se pode saber.
Nunca se sabe como você está,
Cada dia é uma:

Lágrimas escorrendo de olhos tristes
Por cima de um sorriso invertido;
Ou olhos esbugalhados com pestanas altas
E uma gargalhada sem limites, rasgada.

Mas isso não importa,
Servem apenas para lhe esconder.
Esconder o que sente, o que é.

Os risos não vêm de suas acrobacias
Muito menos de suas habilidades,
Mas de seus tombos, dos tapas que toma,
Das decepções que encontra, da sua desgraça.

A corda bamba não pode atravessar,
Tem que cair.
Da cartola não pode tirar um coelho,
Tem que explodir.
Dos trapézios não pode rodopiar,
Tem que se misturar à serragem.

À desgraça está condenado, pois é palhaço!
Agora, sem maquiagem, personificado:
Saia deste espelho, assim ninguém lhe quer.
Nem eu!