sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Rasuras: a expansão da parceria luso-tupiniquim

Eta semana boa!!

Para encorpar o ciclo de boas notícias, anuncio a concretização e expansão da "parceria luso-tupiniquim" iniciada com o amigo Manu (vide post Blog do Manu: Uma Parceria Luso-Tupiniquim): nesta semana entrou no ar o blog "Rasuras".

Rasuras é um um blog coletivo composto por amigos brasileiros (eu) e portugueses com o objetivo de promover um amontoado de bons textos de diferentes estilos e visões independentes.

Mais uma vez, convido a todos a visitar e acompanhar o crescimento do Rasuras e, também, o trabalho dos demais amigos escritores!!

Um grande abraço,

Rafael

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Siamo nell'Italia!!

Olás!!

Nesta lida de escritas, uma das grandes recompensas à dedicação que presto ao meu trabalho é poder conhecer as reações e efeitos transmitidos e recebidos por aqueles que me acompanham, ou simplesmente passam para uma visita. São diferentes sensações, opiniões, interpretações e reações diante de textos que nascem de ideias ou momentos totalmente às avessas. Poder interagir e acompanhar esta troca é incrível.

Mas, ainda, existem momentos em que o reconhecimento deste trabalho extrapola a família, os amigos, a cidade, o estado, o país e o continente. Mais uma vez, posso dizer com uma grande felicidade e satisfação, que o "Desce Mais Uma!" foi homenageado no blog "Blanc de ta Nuque" do amigo italiano Stefano Guglielmin, que preparou um maravilhoso e gratificante post com três textos fidedignamente traduzidos e um grande complemento biográfico.

Convido a todos a visitarem o blog do Stefano e conferir essa homenagem, no link abaixo, que gostaria de dividir com todos vocês!

Homenagem no "Blanc de ta Nuque"

Saluti a tutti... e grazie Stefano!!

Rafael

sábado, 24 de outubro de 2009

Adorável Psicose

Olás!!

Nesta Blogosfera encontramos diversos trabalhos que valem muito a pena acompanhar. Esta semana encontrei um blog muito, mas muito divertido, com um humor muito inteligente acerca do dia a dia das psicóticas - ops, quero dizer, mulheres!

O blog Adorável Psicose é mantido pela Natalia Klein, que é redatora do programa "Zorra Total" e, segundo ela mesma, uma psicótica!

Visitem, vale muito a pena, estou rindo até agora...

Abraços,

Rafael

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Mansa Morada

Foi depois de muito trotar, de em encruzilhadas nos assustar, de valetas desviarmos, de riachos nos saciarmos e de novos caminhos arriscarmos, que avistamos a casinha.
Já não era mais mata do Caju, nem a do Bourbon e muito menos o Morro Alto.
Apressei-me nas rédeas e ela no galope ligeiro e macio, erguendo poeira na subidão batido.
Parou sozinha à entrada e, ainda sem fôlego, pôs-se a lamber o colonião maduro, como se eu lhe tivesse sussurrado onde eu pretendia apear.
Apeei!

Era meados de julho e já ventava como agosto,
O sol era esbranquiçado e morno, a sombra gelada como só lá.
O vento era seco e incessante, me arranhava gentilmente o rosto, ardia as narinas e ressecava a garganta,
Resfriava o suor do peito meu e do lombo dela – como tanto gostei e há muito não podia.

A casa já não tinha pintura, mas rachaduras.
As telhas se escoravam sacolejando umas as outras,
As janelas estavam podres e não mais preenchiam como antes.
Tijolos quebrados e desarrumados, cobertos por um grosso e gelado tapete de musgo velho, a circundavam revelando o que já fora um tímido calçamento.
O silêncio era atropelado apenas pelo colonião alto e denso que dançava e cantava ressecado ao balanço do vento, rodeando a grande paineira e preenchendo o vazio entre as paredes e os mourões frouxos que um dia recostaram cercas.

A sala era pequena e suja, mas aconchegante.
Restos de cortinas ainda pairavam sobre as janelas.
Uma estante larga e empenada, rejeitada pelos cupins, dividia o espaço com a velha cadeira de repouso de pano comido pelo tempo, sobre o soalho histérico.
Na cozinha, o velho fogão à lenha e a pequena pia de pedra estavam cobertos por poeira e ciscos de cana queimada.
Um pequeno banheiro à moda antiga fazia companhia ao único quarto,
Onde jazia uma velha cama de colchão de palha mofada e deformada.

Foram meses e meses de trabalho pesado, calos novos, feridas velhas e o mesmo eu:
As telhas foram recolocadas, o calçamento aprumado e o musgo raspado.
O colonião virou trato e estofado, a cerca remendada, e uma baia levantada.
As poeiras renovadas, os ciscos assoprados – ao menos até a próxima safra.
As tábuas repregadas, as janelas rematadas
E os restos das cortinas remendaram a velha cadeira, onde agora descanso.

Descanso em paz na entrada, sob a sombra da paineira,
Com minha xícara de café e o cigarro apagado,
Perdido no gélido entardecer alaranjado,
Sentindo no rosto outro vento julino – ou talvez agostino – que me presenteia com todo o meu passado temperado pelo saboroso cheiro da cana jovem.

A cama já está confortavelmente pronta, os lampiões cintilando abastecidos,
E a chaminé denuncia calmamente o fogão acordado que ainda mantém quente o feijão encorpado
Para, quem sabe, alguém que resolva se achegar, ao menos para o jantar!



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Inútil Busca Eterna

Foi em busca das minhas planícies verdejantes,
Dos meus vales intocados,
Dos meus aconchegos prometidos,
Dos meus desejos insaciáveis,
Das minhas metades separadas no banquete,
Das minhas vontades insanas,

Que cruzei desertos escaldantes,
Desbravei florestas amaldiçoadas,
Movi montanhas, abri mares,
Atropelei pessoas – eu mesmo –,

Lancei bombas, derrubei exércitos,
Levei a fome, alimentei,
Machuquei os que curei – e curei –,
Aqueci os friorentos e então soprei e cuspi,

Invadi os infernos,
Revirei os céus,
Trapaceei os demônios,
Negociei com os arcanjos,

Revirei túmulos,
Chorei às igrejas,
Ri, causei e senti as maldições,
Vinguei-me de mim mesmo as minhas desgraças!

Mas foi ao me arrebentar, atirado montanha abaixo,
Estirado sobre a pedra, de bucho rasgado,
Que encontrei, escondido nas minhas entranhas verdes e latejantes,
Desajeitadas em minhas mãos mortificadas, o que tanto procurei: Eu!


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Visionário

É bonito aqui na praia, não é?
Estava calor hoje, muito; mas agora está bom.
O sol está se baixando e o vento é fresco.
As águas estão calmas, olha, olha os barcos voltando!

Olha o céu! Não é mais azul, está alaranjado.
Não, róseo. Não, é quase roxo. Ah, são muitas cores.
E esse vento? Que sensação, me leva o cansaço e me refrescam as gotículas.
Tantas lembranças boas! Sinto-as!

Veja as aves aos bandos. Estão brincando, não estão?
Acho que estão fartas, veja! Não, ouça! Ouça como cantam, como gritam!
Estão voando em círculos, não estão? Que nada, estão se divertindo!

Aposto que você não esperava por isso, não é?
Eu não! Era para ser apenas mais um dia longo e cansativo.
Veja como tudo mudou e tornou-se agradável,
Até sorrio, está vendo?

Mas o que estava eu falando, mesmo?
Ah sim, lembrei! É que...

Ué!
Cadê você? Onde se meteu?

Mas...
[Olhando para trás, vê apenas as suas pegadas, por todo o caminho.
Senta-se e contempla incrédulo o velho estofamento amarelado das paredes.]