segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Travessia

Neste constante balançar inabalável, instável de si, que só faz lançar, de uma só vez, de uma borda à outra, tudo e todos,
Perde-se dos pés o chão, perde-se das pernas a firmeza e cai-se, num instante, no infinito vazio que rouba o fôlego e engasga a voz; e cai-se, sem do lugar sair.

E neste desespero, é a esperança de ao outro lado chegar, outro qualquer lado que seja, diante do desespero da derrota e do abandono completo, que faz com que o levantar, mesmo sobre trêmulos joelhos esfolados, ainda que incerto, seja possível.

E envergado sobre os pés vacilantes, recosta-se e timidamente se segura, da forma que se pode, a algo discreto e que não afete a imagem, mas dê gratuita firmeza até a próxima ressaca, que certo como o sol no amanhecer seguinte, virá!

Enxuga-se o rosto, firma-se o semblante e fixa-se o olhar ao turvo e questionável destino, disfarçando os medos e as vergonhas que ainda na garganta palpitam, para que permaneça a imagem heroica, ao menos como deveria: invejável, intocável e inquestionável.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Meu Ranchinho Paulistano

        Ontem foi segunda-feira e, como uma boa segunda-feira, o dia começou lento, pesado e desmotivador. O trânsito estava carregado, os motoristas com dificuldades em manter-se nas respectivas faixas, em seguir a sinalização e respeitar os concidadãos. O sol já fazia bem o seu trabalho – e muito bem feito – elevando a temperatura rapidamente desde bem cedo. Bom, é São Paulo e é verão, e é óbvio que já sabemos como termina esta história: temporal garantido!

        Só que ontem não foi um simples temporal, foi um temporal de segunda-feira, carregado de mau-humor e azedo da ressaca. E ele veio por volta das duas horas da tarde. O dia virou noite, aquele sol machão da manhã desapareceu num relâmpago (que trocadilho mais sem graça, hein?). Mas sim, relâmpagos foi o que não faltou, teve para tudo quanto é gosto: barulhento, demorado, assustador, tímido... E o mundo caiu, é lógico, caiu de uma só vez com toda força e em enorme quantidade. Foi um pouco mais de uma hora no mesmo ritmo, sem diminuir, chuva da grossa, ventania, raios, trovões, pessoal assustado no escritório, boatos brotando mais rápido que o refluxo dos bueiros, e eu assistindo a inundação na rua da frente, que nunca tinha visto daquele jeito.

        Enfim, não vou entrar em detalhes porque os telejornais vespertinos fazem isso como ninguém. Mas o que aconteceu foi que o caos se instaurou e não restava opção que não fosse prolongar o horário de trabalho e esperar. E esperei! Então, a chuva passou, até saiu um solzinho entre as nuvens, o chão começou a secar e as buzinas a diminuir. Achei que aquela era minha hora e fui embora. Ainda havia um chuvisco aqui, outro ali, mas nada de alarmante. As ruas que eu passaria haviam sido inundadas por córregos transbordantes, mas quando passei havia apenas um barro fétido nas laterais, restos de lixos e outras tralhas. Aproveitei para passar no mercado comprar umas coisas para casa, inclusive meu jantar, e fui para casa. Conforme me aproximava de casa, aumentava a quantidade de semáforos apagados, alguns com agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) tentando orientar os motoristas, outros abandonados à sorte. Cabe aqui um parêntese: os semáforos de São Paulo não estão aguentando chuva alguma, de qualquer tipo, eles estão entrando em pane até com espirros!

        Mas continuemos! E conforme eu me aproximava ainda mais de casa, comecei a notar que uma escuridão tomava lugar por entre as ruas, prédios, casas, bares... Tudo estava um breu só, iluminado apenas pelas luzes dos carros. É claro que não achava que eu seria afetado, mas fui! Cheguei tarde a minha casa, cansado e com minha mochila e a bagagem do mercado que tive que levar no lombo até o oitavo andar, descontando o mezanino, à luz do meu celular que estava com a bateria praticamente zerada. Com o calor que fiquei da subida, o banho gelado foi como um prêmio. Jantei à luz de velas e lamparina, ouvindo as notícias no meu radinho a pilhas – presente do meu irmão, obrigado, e agora kit indispensável para se viver em São Paulo! – e depois me joguei no sofá enquanto o tempo se arrastava a passar. Mas eu não moro longe, não tenho que pegar diversas conduções apertadas para rodar vários quilômetros e fazer uma verdadeira viagem para casa; imaginemos as pessoas que não têm como escapar disso!


        Não vou negar que foi gostoso ter uma noite tranquila e prematura como as de um rancho no interior (rio até tinha lá fora), mas a energia elétrica acabou por volta das duas horas da tarde, voltando mais de dez horas depois (isso no meu bairro, há bairros que ainda estão sem energia), sem nenhuma resposta da companhia elétrica aos usuários solicitantes. Estamos falando de São Paulo, uma das mais importantes cidades do mundo e que sucumbe, submerge diante de qualquer chuvisqueiro e agora, além das tradicionais enchentes, tem estas novidades certas: semáforos fragilizados e energia elétrica rebelada. Aí começa toda a discussão: é o fornecimento que foi afetado; não há semáforo que aguente; a chuva foi muito forte! E eu pergunto aos senhores governantes deste povoado: quanto tempo faz que as chuvas de verão não são tão fortes por aqui? Qual é a novidade? Chuvas torrenciais no verão de São Paulo há tempos são tradicionais.

        São vários os fatores que contribuem para isso, mas o descaso dos nossos governantes não pode ser encoberto com a simples passagem de responsabilidades para o povo e para a “mãe natureza”. O incrível de tudo isso é que, a cada dia mais, São Paulo, a capital do estado mais rico desta nação, uma das mais importantes cidades do mundo, não é menos precária que um ranchinho aconchegante à beira do rio.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Este Blog é Recomendadíssimo!!

O José Vitor Lemes, do blog “Um Passeio... Longe...” recomendou o “Desce Mais Uma!” em uma lista de indicados, em seu blog, a receber o selo “Este Blog é Recomendadíssimo” do Projeto Créativité. Diante desta gentil homenagem do José Vitor e da interessante proposta deste projeto, resolvi participar e obedecer às mandatórias duas as simples regras (as quais deverão ser obedecidas pelos amigos indicados que resolverem levar o selo):

- Publicar o selo no próprio blog;

- Indicar quinze blogs para receber este selo de acordo com estas regras;

- Responder às oito perguntas a seguir.

Parece simples, mas escolher os quinze blogs, sem cometer injustiças não é nada fácil! Espero que nenhum amigo se ofenda caso não encontre o seu blog nesta lista limitada, mas ainda estou seguindo vocês!


[Eis o selo, é só levá-lo e seguir as regras]


Vamos às perguntas (que me lembram aqueles caderninhos da escola):

Nome: Rafael Castellar das Neves

Músicas: bom e velho Rock.

Humor: considerando o que ouço das pessoas, tem um pouco de tudo, mas acho que “engraçado” é o que predomina.

Uma Estação: Outono, sem pestanejar.

Uma Cor: verde.

Como prefere viajar: bem acompanhado.

Frases ou palavras ditas por você:
- A verdadeira compreensão se restringe aos limites do seu próprio ser.
- Na melhor das situações, estou sozinho.
- Amar é como lançar-se livre a um precipício desconhecido, ignorando a sua profundidade e fim; apenas saboreando, de peito aberto e sorriso no rosto, o vento fresco da queda.

O que achou do selo: achei uma ótima ideia, pois, além de divulgar o projeto, ajuda muito a difícil tarefa de divulgação de blogs. Temos muito conteúdo de qualidade que precisam ser descobertos.


Vamos à Lista de Blogs:

- NimbyPolis - Nilson Barcelli
- Amador do Verso - Emanuel "Manu" Lomelino
- Os 7 Degraus - Maria Luisa Adães
- Cântico das Palavras - Cynthia Lopes
- Palavras e Poemas - Livinha
- Memórias Vivas e Reais - Pena
- Parole - Solange
- Poemas da Ria - Carlos Pereira
- Falando ao Coração - Verinha
- Mundo Cordel - Marcos Mairton
- No Passo do Mundo - Daniel Maia Silveira
- Sentimentalidades - Juliana.
- Um Lugar ao Sol, Perto do Vento - Ju Fuzetto
- Perfumes e Palavras - Ingrid
- JefhCardoso - Jefh

É isso aí... divulguemos... abraço a todos!!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Pelos Campos de Batalhas

Não depois,
Nem antes,
Mas na guerra, somente na guerra,
Entre uma batalha e outra,
Poderá o soldado, escondido de si, desempunhar sua arma e afrouxar-se sobre os próprios joelhos cansados,
E de si, feito criança, despejar todos os seus medos, todas as raivas e todas as derrotas que lhe assolam o coração;
Todas as mentiras, todos os descasos e toda a ignorância premeditada que lhe fraquejam a alma.

Somente assim,
Na pior das suas formas,
Humilhado por si próprio,
Cansado de toda uma caminhada incerta,
Atordoado de tanto lutar,
Sem nem mais o motivo lembrar – ou importar –,
Que poderá o soldado, então, conhecer verdadeiramente a paz!