terça-feira, 19 de março de 2013

Sopa de Chuchu

Desde que se conhecia por gente, seu Guimarães não gostava de chuchu. Aliás, ele não suportava chuchu. Ele dizia isso para a sua senhora todas as noites dos seus trinta e dois anos de casamento, mas isso nunca a impediu de rir enquanto lhe enfiava com truculência uma colher cheia de sua sopa fervente de chuchu goela abaixo.

O que, no início, foi um inocente “sim meu amor, vou experimentar, mas só desta vez” para satisfazer a vontade da sua jovem esposa, se transformou em uma obrigação cotidiana inquestionável e intransponível. Seu Guimarães, com o tempo, passou a ter medo da esposa, já havia provado o peso de seu braço gordo e o saboreado o fedor de suas palavras escarradas sob ódio.

Seu Guimarães não gostava de chuchu e fazia o possível para passar o dia na rua. Ia às praças, aos bares, às bancas de jornais, aos açougues, a qualquer lugar em que pudesse se encostar e esperar o tempo passar. No fim das tardes, tinha que voltar e isso era suficiente para lhe embrulhar o estômago. Todas as manhãs saia de casa pronto para não mais voltar, mas era o medo que tinha da sua esposa, não a idade, que o desencorajava.

Ele entrava à casa de fininho, tentando não ser notado, mas o enjoo do cheiro da sopa de chuchu que vinha da cozinha lhe causava perturbações intestinais monstruosas que lhe traiam e revelavam sua presença.

Durante trinta e dois anos, seu Guimarães sentou no mesmo lugar da mesa, ele que não gostava de chuchu, enquanto a esposa, sem lhe dar opção, enfiava-lhe colheradas fumegantes de sopa de chuchu.

Na semana passada, seu Guimarães foi encontrado morto na cadeira que costumava sentar da sua mesa de jantar. Parece que já havia cinco dias que ele estava morto naquela posição. Os vizinhos ligaram para a polícia por conta do cheiro forte de carne podre e chuchu exalava da casa. Dizem que o corpo do pobre coitado estava todo lambuzado e empanturrado de sopa de chuchu que a mulher continuou enfiando todas as noites goela abaixo do cadáver do marido. Os motivos da morte ainda não estão claros, mas a vizinhança, que conhecia muito bem a rotina do seu Guimarães, conta de tudo um pouco. Uns dizem que ele se enforcou, outros dizem que tomou veneno de rato, outros dizem que ele simplesmente infartou, há quem diga que ele caiu da escada e bate a cabeça enquanto procurava alguma coisa na prateleira, mas a verdade é que o estômago do seu Guimarães explodiu de tanto comer sopa de chuchu. A esposa estava inconformada e contou que ele estava cansado e que ela o tentava animar com a sopa de chuchu de que ele tanto gostava.

Seu Guimarães não gostava de chuchu e todas as noites dos seus trinta e dois anos de casamento ele comeu sopa de chuchu até explodir. O bairro todo ainda está cheirando a sopa de chuchu e a seu Guimarães, mas logo passa.

quarta-feira, 13 de março de 2013

À Outra Margem

Que coisa adianta pôr-te cômodo à margem do rio
A desejar lamentoso a outra?

Que coisa adianta alimentar um desdém latente,
Para conformar os olhos obcecados e o coração inquieto?

O rio não baixará,
A correnteza não diminuirá,
Barco algum chegará,
E a vida passará.

Há de lançar-te a braçadas, por completo,
E permitir-te o risco de ao outro lado chegar.

quinta-feira, 7 de março de 2013

O que você quer ser quando crescer?

Uma amigo me enviou este vídeo motivacional estes dias. Não foge muito do padrão daqueles que vieram após o do "SunScreen" (excelente, por sinal), mas gostei também do foco deste: sonhos! Isso vem ao encontro de muitos dos meus textos: a ideia de lutarmos com todas nossas forças por nossos sonhos sem deixarmos de ser crianças. Isto é algo sobre o qual tenho trabalhado muito (literariamente e pessoalmente) e por isso compartilho este vídeo.

Mas antes de pensarem se o vídeo é bom ou ruim, tentem ouvir a sua mensagem. Tentem refletir sobre o como tem sido a lida em seus dias consigo mesmo. Tentem refletir como tem sido a lida de vocês com aqueles que os cercam. Olhem dentro de si e vejam se estão caminhando bem, se estão sendo fiéis aos seus próprios sonhos, se estão permitindo que os sonhos dos outros aconteçam, se estão vivendo com amor, próprio e comum. Pensem até onde podem ir para realizar os próprios sonhos e se este "onde" é suficiente. Pensem em como podem contribuir para o sonhos alheio, sem passar por cima dos seus sonhos. Pensem em como encaram os sonhos e desejos dos outros (ironia, arrogância, simpatia, aceitação?). Mas, acima de tudo, pensem se estão sendo felizes, pois a sua felicidade depende somente de vocês, mas a sua infelicidade causa dores ao seu redor. Assim como a felicidade, a infelicidade contamina e toma conta.

Sejamos adultos e crianças (os dois), não sejamos imbecis rastejando pegajosos dia após dia sobre a superfície. A vida é uma, é rápida e difícil... Já temos muitas dificuldades nos nossos dias para que criemos e distribuamos outras por puro descaso ou egoísmo. Sejamos felizes NESTA VIDA, pois dela temos certeza!