domingo, 24 de agosto de 2014

Mudanças

Esse mundo parece mais uma bolsa pulsante que muda de formas cores, sabores e cheiros a uma velocidade alucinante. Cada vez mais, mudanças acontecem a todo momento, em todos os lugares, frutos da evolução tecnológica, econômica e, por que não, social.

Vivemos em ritmo cada vez mais frenético em que as adaptações devem estar, no máximo, a meio passo atrás das mudanças. Não é algo fácil, pelo contrário, é difícil e tortuoso, mas graças à nossa incrível capacidade intrínseca de adaptação, sempre alcançamos. E foi esta capacidade de adaptação que garantiu à nossa espécie não só a sobrevivência, mas também toda a nossa evolução. Evoluímos porque nos adaptamos, nos adaptamos porque mudamos!

O interessante é que, ultimamente, os indivíduos da nossa espécie, ou seja, nós, resolvemos nos sentar sobre nossas arrogâncias e nos colocarmos como imutáveis. Ou seja, os indivíduos da espécie que mais mudou, hoje são “assim mesmo”. Estranho, não?

É comum a quantidade de vezes que ouvimos esta frase covarde: “sou assim mesmo”. Sim, somos assim mesmo: mutáveis, adaptáveis; não pedras teimosas cheias de si que se posicionam donas de qualquer verdade. E é isso que mais vemos hoje. As pessoas estão intransigentes e intolerantes, mas por assim escolherem. Isso é uma bola-de-neve dos diabos, pois é o tipo de sentimento que machuca e provoca o sentimento de autodefesa nos outros.

Isto não se aplica apenas às relações sociais, aquelas dos trânsitos e das padarias, mas entre amigos, entre familiares, em relações amorosas nas quais o sentimento de bem-querer devia prevalecer sob uma grande forma de amor, mas que sucumbe diante das estagnações e intransigências das partes. É comum vermos casamentos, noivados, namoros, amizades e até relações familiares se deteriorarem pela estagnação. Não por falta de amor, mas por ser água mole em pedra dura, que dissolve e enfraquece o amor: “tenho minha verdade e ela é absoluta na minha e na sua vida, não me diga o contrário se quiser manter-se comigo”. Adaptabilidade? Só se for da parte que consegue conviver com isso. Mas esta opção me parece um tipo de autoflagelação.

Onde foram parar as conversas? Onde foram parar a vontade de ver o outro sorrir? Onde foi parar a possibilidade de ceder para satisfação alheia (que também se torna comum às partes)? Onde foram parar as pequenas negociações que mantêm em pé as relações? Por que tanta arrogância? Por que a impossibilidade de ouvir, de coração, uma palavra, um pedido, uma reclamação que seja, sem indignação para com quem a profere, transferindo-lhe todas as responsabilidades daquilo que ele mesmo pede?

Estamos intolerantes, estamos arrogantes e estamos sem educação básica.

Escolher não mudar, não se adaptar é uma opção de cada um e deve ser respeitada. Porém, quem faz esta escolha precisa compreender que escolheu o individualismo, o que não se aplica a uma vida em sociedade, que escolheu viver somente as suas verdades como as únicas.

O triste é que, como estas escolhas estão cada vez mais comuns, as pessoas estão vindo dos berços prontas para este tipo de vida individualista. Infelizmente, é o tipo de ser que vai acabar seco, sozinho e arreganhado, sem ter nem em quem colocar a sua própria culpa.


É verdade que não mudar é a opção mais fácil, pois é possível viver apenas com as próprias verdades, impor e exigir a satisfação apenas das próprias vontades e caprichos, sem nada dar em troca. É possível atribuir as próprias falhas aos outros e a eles também as responsabilidades de adaptação que deveriam ser comuns aos seres em sociedade. É possível viver só de direitos sem considerar a existência de deveres. Contudo, as consequências devem ser consideradas. Aquele que assim prefere viver vai machucar os outros e nunca estará satisfeito. Os outros irão, inevitavelmente, se afastar, mantendo uma distância inversamente proporcional aos sentimentos relacionados – mas irão se afastar. E aquele que não quer mudar, definhará, se tornará uma pessoa amarga e desagradável, escolherá a si próprio e renunciará ao conjunto, à vida coletiva.

Mudar é difícil, dói, pois erra-se e apenas com os erros é que se aprende; mas aquele que tenta, inclusive o que apenas intenta, mantém-se cercado de pessoas que o querem bem, que o apoiarão e quererão com ele sorrir. Quem muda, quem tenta ser uma pessoa melhor, erra; o perfeito, aquele que não tem mais o que fazer (ou não quer), não está mais vivo, apenas existe!

Cito Érico Veríssimo: “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.”

Para sermos, hoje, pessoas melhores do que ontem e, amanhã, melhores do que hoje, temos que mudar, um pouquinho por dia, com o que aprendemos, ouvimos e vemos à nossa volta. Caso contrário, seremos pedras, estátuas incômodas que cansam a visão das pessoas e mal se encaixam aos cantos.

Mudemos, tentemos ser pessoas melhores e vivamos de verdade em comunhão; caso contrário, soframos!

8 comentários:

  1. Perfeito! E as mudanças são tão necessárias, precisamos nos adaptar ao novo e sempre, pois a natureza muda o tempo todo, a terra muda o tempo todo, ela gira não é? nunca está no mesmo lugar, ela caminha conosco. As novas gerações estão vindo e se não acompanharmos ficaremos estagnados, como você bem o disse. Também acho Rafa que essa situação nos remete a um desentendimento profundo, na diversidade de opiniões, no egoísmo, no egocentrismo. É preciso haver empatia para tudo! mas não há, infelizmente.
    Esses homens e mulheres dos tempos das cavernas ainda são latentes por toda a parte, mulheres ainda são arrastadas pelos cabelos e tantas coisas mais. É preciso força e paciência para progredirmos pois muitas vezes nossos próprios amados são nossos piores obstáculos. Acredito que essa geração de crianças que estão vindo, já estão com as armas necessárias para mudar o mundo, e será uma grande mudança! Se eu não puder ver, vou lutar de onde estiver para apoiá-las em tudo.
    Grande texto, profunda inspiração e palavras eficazes. Parabéns!!!
    Beijos
    Cris.

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    1. Que possamos dar a elas condições/apoio para esta grande mudança. Pois estes homens das cavernas estão aumentando e muito mesmo, tia!!

      Que bom que gostou....a gente vai tocando...corações! rs

      Beijos!!!!

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  2. Rafa, pra fechar com chave de ouro, essa foi a música em que me inspirei por toda a vida, minha companheira em todas as minhas mudanças. Além da musicalidade ser linda, a letra é perfeita!
    Ouça! https://www.youtube.com/watch?v=le5_CiR4xaY
    Cris
    Beijos

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    1. Vou ouvir mais tarde, daqui de onde estou não consigo acessar....

      Beijos tia!

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  3. A tecnologia que surgiu pra ser o grande condensador está reduzindo as barreiras de uma forma perigosa, isolando mais do que agrupando.

    que não nos falte um encontro na mesa de um bar!

    muito bom.

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    1. Com certeza, Thuan!! Está nos conduzindo a isso mesmo, mas acima de tudo: mesa de bar!!!!

      Abraços, meu velho! Obrigado pela visita!

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  4. Que bom retornar Rafa e ver que está aqui a escrever....
    a vida muda...mas que mude para melhor dentro de nós!

    Que ótimo!

    Abraços

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    1. Oi Ju!! Que bom que retornou! A casa está sempre de portas abertas!

      E tem que ser pra melhor mesmo, para pior já vimos que vai fácil..rsrs

      Abraços!

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