domingo, 19 de outubro de 2014

"Jeitinho Brasileiro"

Estes dias conversei com um agente de trânsito para tentar entender uma sinalização adicional usada em uma conversão. Eram aqueles contes grandes ligados pelas fitas coloridas:

- Por favor, por que neste horário vocês usam estes cones e fitas?
- É para reforçar a sinalização desta conversão, pois este é horário de pico.
- Ah, é? Então quer dizer que não é permitido cruzar este pondo em qualquer horário do dia? Por exemplo, se eu sair dali do estacionamento eu não posso cruzar aqui?
- Exatamente, em nenhum momento do dia pode, esta hora apenas reforçamos. Mas faz o seguinte, se você sair fora deste horário e não ver nenhum de nós, você pode arriscar.
- Mas não é proibido?
- É, mas você pode arriscar fora deste horário... Mas se a gente ver, a gente multa!
- Não, pode deixar... É proibido!
- Você é quem sabe... Mas dá pra arriscar sim!
- ...

É isso! Nós brasileiros somos orientados pela punição e não pelos deveres, não pelos limites cívicos. O termo "proibido", ou simplesmente "não pode", é interpretado ao sabor da conveniência, a não ser que haja fiscalização e consequente punição. É o maldito "jeitinho brasileiro" que tantos se orgulham de reverencias de boca.

"Não pode atravessar no farol vermelho!" - Ah, mas não tem ninguém vindo!
"Não cruze fora da faixa de pedestres!" - Ah, mas está muito longe! (10 passos)
"Não pare na vaga de deficientes!" - Ah, mas é só um pouquinho!

Mas na hora que tratamos dos nossos direitos... Ah, meu amigo! Aí se segura, porque para onde se olhar só haverá compatriotas corretos, cumpridores da lei e dos bons costumes, pagadores de impostos, oprimidos e injustiçados!

O que estamos vendo por aí, ainda mais nestes tempos de eleições, não é algo pontual, mas uma consequência atemporal do "jeitinho brasileiro" em proporções e profundidades muito maiores!

Se liga, mané!


domingo, 12 de outubro de 2014

As Cartas do Alessandro

Semanalmente, o Alessandro Martins tem nos presenteado com suas provocadoras e inspiradoras cartas que abordam de maneira natural, direta e até divertida, diversos temas cotidianos, uns bastante discutidos, outros muito escondidos...

Sem muito, gostaria de apresentar-lhes este trabalho e convidá-los a "receber" as cartas do Alessandro e até, quem sabe, participar do grupo secreto!!

A carta toda pode ser lida aqui. A seguir, uma degustação. No fim estão informações para receber as cartas...



[...]
 
Estava no carro com uma amiga, recentemente e ela observou que eu tinha levado uma fechada. Eu nem tinha notado. Intuitivamente eu já tinha reduzido a velocidade para permitir que o outro entrasse na minha frente como se aquela fosse uma manobra normal. Nem eu e provavelmente, nem ele, percebemos o risco pois, graças a uma postura não agressiva e sim instintivamente defensiva, não houve risco algum.

Ainda fico irritado com quem muda de pista sem dar sinal (quanto mais com quem faz conversões desse modo). Antigamente, chegava ao ponto de ultrapassar o sujeito e mudar de pista na frente dele, dando seta, só para mostrar como é que se faz. Mas hoje nem isso.
De vez em quando, xingo barbeiragens quando as vejo, mas mais por diversão, para rir desse comportamento mesmo, do que por estar irritado de verdade.
Ainda fico bastante contrariado quando alguém visivelmente errado me cobra a sua razão. Mas tenho tentado usar a estratégia da minha amiga Claudia Regina: se o cara está acima da velocidade, talvez ele realmente tenha um bom motivo para a pressa; se ele me fechou, talvez esteja abalado com um algum problema muito sério; se me xingou, está com problemas nos nervos.
Talvez esse problema muito sério seja pura e simplesmente falta de empatia e a pessoa acredita que a estrada é dela e os outros só estão ali para atrapalhar.
Mas isso é um problema sério também: no futuro, daqui a uns mil anos falta de empatia será tratada como uma moléstia da saúde. Todos têm motivos para seus erros. Inclusive eu ou você. Não cabe a nós julgar, mas aceitar que essas coisas existem e nos precaver. Perder a gentileza para com os outros e consigo mesmo é desperdício de energia e uma agressão.
É responsabilidade daquele que é mais consciente cuidar daquele que é ou, por força das circunstâncias, está menos consciente.
E, por isso, ele deve agir com gentileza e até cautela, observando o mínimo detalhe de seus atos, até a forma como está respirando, pois a respiração tem a ver com as emoções, boas e más.
Já, em casa, porque aqueles com quem temos intimidade são os mesmos com quem nos sentimos à vontade para, de vez em quando, mostrar nossas piores partes, também temos grandes dificuldades. E justamente esses deveriam ser aqueles que recebem de nós apenas o melhor que temos.
Mas isso fica para outra carta, pois esta já se alonga.
Sugira mais temas
Existem muitos outros temas ali no post. Vou deixar ele por ali para receber mais sugestões de assuntos. Os que ainda não abordei, abordarei. Tentarei fazer pela ordem, a não ser que exista algum sobre o qual eu não saiba, não possa ou não queira falar.

Crônica da semana
Às vezes, como hoje, acho que escrevo de uma maneira superficial, simples até. Mas fazer o quê? É como eu penso. O pensamento de uma pessoa comum, com dias comuns, numa rua comum de uma cidade comum. Ainda que minha vida tenha algumas peculiaridades e eu veja algumas coisas de um modo diferente, acredito que em 99% das vezes minhas experiências e minhas reações a elas não diferem das de ninguém no planeta.
Assim, sempre que possível e sempre que eu achar necessário compartilharei uma crônica minha que são o 1% em que faço questão de ver o mundo de uma maneira única (ainda que, admito, nem tanto).

[...] 

O escritor merece ser pago. Sim. Merece.
Se você acha que meu trabalho merece ser pago de alguma forma:
Quero agradecer, em especial, àquelas pessoas leitoras de minhas cartas que, não podendo pagar via internet ainda se dão ao trabalho de ir até o banco, debaixo de sol, para fazer um depósito em minha conta. 
Todos que me leem me incentivam a continuar a escrever, mas certamente os pagantes são os que efetivamente garantem que isso continue acontecendo. Obrigado.

Leia as cartas antigas

Últimas palavras

Frase da semana: "Onde vemos as cruzes do ebola, tenha a certeza de que há os que veem cifrões."
Nome de cachorro: Gangrena.