Traída pela vida

Segue ela a esbravejar pela praça suas e outras desgraças
àqueles que passa menos percebidos que ela.
Distribui injúrias e incompreensões que exigem de todos o seu
esquecimento,
A pô-la fora de seus caminhos pesados e esfolados.
Segue ela a coçar as partes,
A sacudir os trapos de seu vestido velho – há muito no mesmo labor,
Sob cabelos desgrenhados e definhados,
Obrigando-se a ser desprezivelmente sentida no ar.
A cada poucos passos estagna-se em novos protestos e clamores,
Despeja-se por tudo e a todos,
Infringe o pouco de dignidade que sobrevive nos primeiros entre dois ou três olhares.
E assim esquece-se entre o ir e vir,
Esquece-se já esquecida,
Esquecida pelos seus,
Esquecida pelos dos outros,
Esquecida pela própria sanidade,
Que lhe priva das dores e das tristezas,
Das possibilidades e das aleatoriedades,
Que se revelam nas vidas.