segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Exilada da Vida

Vê mulher, não sei por que insiste!
Pega seu caminho e vai! Não é bem quista aqui, no mundo.

De que adiantou mendigar a comida?
De que adiantou contar todas essas histórias tristes e sem nexo?
Para! Basta!

Que importa onde está sua família ou seus filhos?
Que importa quem lhe deixou e tudo lhe tirou?
Que importa seu sofrimento, sua vida?

Não vê que a ninguém importa?
Ninguém lhe quer por perto?
Nem piedade mais lhe dão.
Você está suja, você suja!

Você é um borrão na paisagem,
Um estorvo que anda, pegajosa, evitada.
Você desurbaniza!

De que adiantou lhe pagarem a refeição se não é digna de recebê-la? Não vê?
Agora corre aos prantos e desespero pelo meio fio feito ratazana enxotada pela cadela de guarda.
Volta para seu buraco e se contente com as migalhas magras e sujas que conseguir junto aos seus.

E não mais insista. Está marcada, condenada.
Se esconda para sempre dos olhares, pois ao mundo já não é mais bem-vinda!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Insônia

Numa noite dessas, em que tudo o que foi tão carinhosamente preparado para o desfrute e vivência das promessas que se concretizavam a cada dia,
Personifica-se a negação a pôr abaixo tudo aquilo que poderia ser futuro. Um futuro.

Após o atropelo, impotente, o corpo se entrega cansado e os olhos se fecham – por obrigação – e a mente não cessa.
Castiga o todo com um turbilhão de pensamentos, angústias e dúvidas que arrebatam o que restava de talvez.

A cama torna-se um enorme tablado farpado.
O travesseiro se enrola a sufocar a vida.
O relógio faz greve e o cobertor trai.

O silêncio da madrugada irrompe por todos os cantos e frestas
Trazendo consigo os mais impensáveis e insuportáveis ruídos e sensações.

Ouve-se à distância o bater descontrolado do coração inconformado,
Enoja-se às histéricas reivindicações abdominais,
Enfurece-se ao ranger arrepiante dos dentes massacrados pela mandíbula nervosa,
Assusta-se aos jatos de sangue subindo zumbindo assustadoramente pela garganta,
Embaça-se a cega visão às lágrimas amargas que salgam os olhos inquietos,
Contorce-se o corpo dolorido aos músculos enrijecidos e incrédulos.

O tempo que tanto tudo cura, não passa – nem vem.
A mente que tanto guia, não volta, mas se diverte.
A escuridão só enegrece e apavora aos vultos e fantasmas que gritam e riem satisfeitos aos ouvidos.

E o pânico e a decepção entram em cena aos primeiros raios de sol que anunciam a realidade de um pesadelo a ser vivido
Por entre noites e dias, segundos e horas, lembranças e amarguras, sorrisos e lágrimas, esperanças e derrotas.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Adorável Proibida

Entre tantas quedas, negações, alegrias, decepções, conquistas e derrotas,
Você sempre esteve ali, graciosamente presente.

Não longe; perto, mas proibida – de tão completa, quase tocável.
Sorrindo de um jeito seu ao meu, através dessa parede de vidro.
Hora um passo atrás, hora um à frente, mas ali, no seu mundo.
Encantando-me com seu ser, com seus contos, me aguçando os sentidos,
Afogando minhas dores, meus lamentos e meus temores.

Ternos e inesquecíveis foram os curtos momentos em que nossos mundos se encontraram,
Entre desejos e quereres enrustidos e destratados.

Quisera eu, enfurecido e inconformado, por abaixo essa parede
E a você chegar com toda minha vontade – bicho-homem – e lhe tomar em meus braços, antes da mínima reação.
Trazer seu corpo ao meu, com força e jeito, sentindo seus contornos se moldando a mim.
Sentir seu corpo, trêmulo, perder o controle, enquanto lhe beijo com todo meu ímpeto e toda vontade aprisionada, transformando dois em um, fundindo nossas almas libertas!

Tomaria seu corpo e dele beberia sedento em um ninho qualquer,
Onde despejaríamos nossa incurável insanidade e se tornaria um leito invejável.
Seria mulher em mim, indomada, desejada, tomada, amada!

Mas ao quebrar essa parede, também levaria os meus cacos e meus espinhos.
E mesmo que lhe alcançasse, o seu mundo é que seria posto abaixo.

Ao invés da sua ausência, que perpetuem os desejos e os quereres.
Ao invés de suas lágrimas, que brotem seus sorrisos verdadeiros e encantadores.
Ao invés do sangue corrente em seu rosto, que paire, interminável, seu cheiro pelo meu ar.

sábado, 8 de agosto de 2009

Culturando em Santa Gertrudes: Presente de Aniversário!

Desta vez o provável se tornou fato! O melhor presente de aniversário que o "Desce Mais Uma!" poderia ganhar: estivemos ao vivo na Rádio Cidade de Santa Gertrudes!

Neste último sábado, conforme anunciado, o "Desce Mais Uma!" participou do programa "Culturando" apresentado pela Odila Góes de Araujo Pinto na rádio de Santa Gertrudes (107,9 Mhz - aos sábados das 10h00 às 12h00) e como eu estava por lá, pude participar e ler alguns de meus textos, sob um nervosismo descontrolado e sob o acompanhamento do Rodolfo Oliveira, do Anderson "Negão" Rodrigues e do João Guilherme Giniselli que estavam por lá mostrando como é que se toca um violão de verdade!

Mas chega de escrever porque esta postagem é para ser ouvida. Seguem alguns trechos selecionados. Foi muito bom!

Abertura (Odila e Rodolfo)


Apresentação (João Guilherme e Anderson "Negão")


Saudades de Lá de Casa (Anderson "Negão" e eu)


E Se...? (Eu)


Paraíso Meu (João Guilherme e Anderson "Negão")


À Deriva (Odila)


Até Logo (Odila, Rodolfo, João Guilherme, Anderson "Negão" e eu)


Agradeço imensamente a Odila e toda equipe da Rádio Cidade de Santa Gertrudes por esse sensacional presente! Foi um prazer memorável poder participar do "Culturando" e divulgar meu trabalho na minha terra!! Muito Obrigado!!

Rafael

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"Desce Mais Uma!", Culturando em Frequência Modulada Gertrudense

Durante dezoitos anos, Santa Gertrudes tinha as notícias e eventos veiculados através do jornal "O Arauto" - lembro muito bem da seção de recadinhos, a primeira a ser lida em busca de um recado de uma admiradora secreta. Odila Góes de Araujo Pinto foi a matriarca redatora, corretora, fotógrafa, escaneadora, agente de publicidades, diagramadora, enfim, "O Arauto" propriamente dito. E por trás disso tudo estava a grande intenção de plantar o interesse do nosso povo em ler grandes jornais.

Hoje, Odila mantém um programa na Rádio Cidade de Santa Gertrudes, intitulado "Culturando", que é apresentado todos os sábados das 10h00 às 12h00) e pode ser acompanhado via internet no endereço www.radiocidade107.com.br.

"Apesar de duas horas, o tempo parece-me que fica curto para tudo o que eu gostaria de fazer." - nos conta Odila que ainda acrescenta leituras de poemas, programação cultural e dicas dos bons compositores. Os ouvintes participam ativamente pedindo músicas ao único programa MPB da nossa rádio.

É com extrema satisfação que informo que a partir deste sábado, alguns dos meus textos serão lidos no "Culturando", em frequência modulada lá na terrinha!!

Convido aos que estiverem sob nossas ondas, a nos acompanhar nos 107,9 MHz, e aos que estiverem longe, pelo site: www.radiocidade107.com.br.

Um grande abraço,

Rafael

P.S.: Ainda, há a possibilidade de eu me juntar à Odila neste sábado, ao vivo!!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Sagrada Refeição

O sol já passava do meio do mundo quando ele retomou os ingredientes, disposto a cumprir a tão espedaçada promessa de uma decente refeição dominical.
Os ânimos enrijeciam os nervos e a faca descia lenta, as mãos se arrastavam desajeitadas e a atenção não existia, mas a receita seguia.

Arrastou o tempo o quanto pôde e, entre desligares de fogo e pequenos afazeres inventados no último momento, conseguiu preparar seu prato, com o acompanhamento já frio.

A mesa estava posta e decorada com migalhas das últimas duas semanas.
Sentado à ponta, com um garfo torto escorado à mão, viu-se um rei sem reinado.

Ouvia as gargalhadas das crianças brincando no pátio gelado sob o pálido sol de inverno que custava a adentrar pelas vidraças embaçadas e cortinas encardidas.
O ar era velho e denso de angústia e vapores oleosos das panelas cansadas e condenadas ao gotejar da pia transbordante.

Olhou em volta: tudo era o que sempre fora, como sempre estivera, no mesmo lugar, do mesmo jeito que deixara.
E o coração se espremeu quando, relutante, conformou-se que somente compartilharia o tão digno momento da refeição com o chiado rouco do velho rádio a pilhas na cozinha.

Derrotado, fraquejou a mão e tombou o garfo.
Abandonou o prato gelado na despensa e o corpo cansado aos trapos sujos no canto da cozinha, com apenas um pedaço de pão velho que lhe arranhava a garganta seca ao descer contorcido.
E a distante possibilidade de uma fagulha, sequer, de dignidade, desaparecera ao chegar das primeiras lágrimas já tão companheiras.