segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Desenformado

Este texto foi minha primeira publicação no Rasuras.

Foram tantas as fôrmas que me são sinicamente presenteadas,
Sob os mais diversos disfarces e nomes,
Preparadas pelos alheios desejos, vontades e sonhos frustrados de vidas suspensas pelo comodismo justificado por um divinizado conformismo,
E que são ridiculamente impostas por acuações emocionais.

Fôrmas às quais deveria me submeter para que as minhas formas atendam os movimentos, os resultados, os passos e os comportamentos formulados por expectativas que guiam planos de vida traçados e postos em execução sem minhas concessões,
Que desconsideram, inclusive, as minhas vontades, minhas loucuras, minhas manhas, minhas frescuras.

Formas assumi das fôrmas que entrei, porque quis; também as rejeitei e a elas retornei, porque sim!
Não me trato de uma metamorfose, ou de uma rebeldia desvairada contra vida; ao contrário, apenas de uma apaixonada loucura pela vida, como eu quiser.
A cada passo faço meu caminho, guiado apenas pelas minhas vontades, que desalinham planetas, embaralham cartas, desorientam anjos e multiplicam números.

Sou a mancha que encarde a melhor das camisas,
Sou a rasura que incomoda no canto da página,
Sou a pequena nuvem grossa no céu azul de uma quente tarde de domingo,
Sou errante, inesperado, inconveniente; livre para mim e feliz de mim.

Àquelas fôrmas, deixo minha arrogância;
Aos seus proponentes, o meu sarcasmo;
Aos enformados, os meus pêsames.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Música: Por que gosto tanto? [Vencedora do concurso de redações do Culturando]

Há algumas semanas, a Odila Góes Araujo Pinto promoveu, em seu programa Culturando da Rádio Cidade de Santa Gertrudes, um concurso de redações sob o tema "Música: por que gosto tanto?". Participei e muito felizmente ganhei!

Além do texto, compartilho com vocês a página do jornal de Santa Gertrudes com o anúncio do resultado do concurso.

Eita colheita boa!!

Abraços a todos...

* * *

Música: Por que gosto tanto?

Não me recordo quando a música entrou na minha vida e muito menos de algum momento em que ela não tenha estado. Lembro das primeiras, digamos, experiências com músicas. Foram aquelas infantis da escolinha e de programas de televisão para crianças. Música era diversão naquela minha época, não havia como ouvir e não rir, pular e brincar. Mas um empurrãozinho materno virou os ouvidos para estilos diferentes e um novo mundo fora criado. Com o tempo se passando as coisas começaram a tomar rumo e os estilos a serem definidos e fundamentados em mim – ou eu neles? Vai saber!

Refiro-me a uma definição gradativa que era restrita pela disponibilidade, costumes e preconceitos. Mas ao caminhar, as angústias, os anseios, os eventos da vida se fortaleceram, tomaram as rédeas e assumiram o controle, transformando tendências e experimentos em gostos, selecionando os estilos e musicalizando minha personalidade.

E nesse caminho, a música deixava de ser apenas um lazer pueril e tomava uma amplitude considerável, tornando-se uma atmosfera para a vida, não mais um pano de fundo, mas de meio que a permeia, se entranha. E o fez de tal forma que hoje é a melhor ferramenta que me liga ao meu passado. Muitas são as músicas que ao ouvir – ou simplesmente ao lê-las na contracapa de um álbum – me trazem imagens, sensações e sentimentos de uma forma tão intensa que reduz a distância de tempo e transforma em labaredas pequenas chamas que se quer sabia que ainda existiam dentro de mim.

Muitas foram as frustradas tentativas de compreender os significados das músicas – algumas vezes pelo ímpeto de fã que quer personificar seu ídolo, outras por atentar-se para o que era dito e não apenas por um conjunto de sons. E as frustrações apareciam diante da constatação de absurdos, de faltas de nexos, de heresias e até por simplicidades inaceitáveis, que também colaboravam para colocar em dúvida o valor dos próprios músicos e até a punir alguns deles de serem exibidos no toca-discos. Mas a música deixa de ser um pano de meio para tornar-se vestimenta de noites de sábado quando, com o tempo, vem a verdadeira compreensão que me dá todo o sentido: o verdadeiro significado não está apenas na letra da música, na intenção, no momento ou no comportamento artista, mas no efeito que é gerado em mim diante da música, no que ela significa para mim, no meu momento, no meu modo de ver e viver. E é nesse momento que passo a entender o que certas pessoas – até então doidos – faziam parados diante de telas borradas aleatoriamente por duas ou três cores de tinta: arte! Momentos, efeitos e intenções diferentes, ou até iguais, entre criadores e expectadores.

Das artes, música é a que permite a maior carga de expressão de seus criadores e a que mais é absorvida, digerida e incorporada pelos apreciadores inveterados de todos os tipos. Música representa, influencia, define, relembra, revive e, posso dizer, toca a minha vida!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Inconsistências (texto se mexendo!)

Desde o chamado feito pela parceria "Ítalo-brasiliana" para participação do Livestream da revista Multipoesia, ideias e tentativas não faltaram para tentar compor a primeira mistura de palavras, imagens e sons para participar con gli amici italiani.

O resultado incerto é o experimental vídeo "Inconsistências" que pode ser visto a seguir e está sendo adicionado ao Livestream da Multipoesia. O texto em português segue logo abaixo.

Vamos ver no que vai dar essa nova "empreitada"!

Abraços......



* * *


Há muito barulho, muita falação, conversa fiada.
Palavras escarradas à cara sob o pretexto do serem ditas pelo coração.

Promessas deliciosamente declamadas, sedutoras, que encantam e inspiram,
Que fundamentam planos de vida, que orientam a vida;
Mas que já nascem mortas, mortas na língua.

Sorrisos apresentados como espontâneos, rasgados, que completam a paisagem e reforçam a cumplicidade.
Afagam o coração e regam o chão duro da caminhada;
Mas que riem os movimentos seguintes, os frutos a serem tomados, lambuzados, ignorando a crueldade do golpe.

Abraços aconchegantes oferecidos com toda dedicação e companheirismo, aos quais são derramadas dores, mágoas e temores, expondo a mais deplorável fragilidade;
Mas que só garantem o ludíbrio da caça, mantendo-a próxima ao matreiro caçador que a ceva e a prepara para ser facilmente abatida e ridicularizada.

A indiferença vaga ardilosa pelos becos escuros da falsa cumplicidade premeditadamente proposta,
Que abre o caminho às mais vulneráveis feridas latentes, por onde invade e se entranha, tornando-se parte inseparável, câncer.
E é quando os sonhos se tornam reais, quando a realidade se torna deleite, que ela mostra sua cara e tudo aniquila de dentro para fora.
Corrói, destrói, desgraça, estraçalha e parte sem ressentimentos, exalando a consciência tranquila fundamentada em uma verossimilidade profana fruto de um justo apresentar-se por completo, como realmente o é, mas como nunca o foi.
Então parte às gargalhadas, completa, enriquecida; deixando para traz os cacos de uma vida estilhaçada, espalhados por onde um dia bailou.

Chega, cansei! Estou voltando para casa!