Semana passada, eu e um amigo saímos do trabalho e fomos para um barzinho encontrar o pessoal do trabalho para revelação do nosso “amigo-secreto”. Mas como ele deixou para comprar o presente de última hora, paramos na Rua Maria Antônia que tem uma loja para o presente que ele precisava comprar. Acho que ali já era Avenida Higienópolis, sei lá... Enfim... Ele entrou comprar o presente e eu fiquei junto à minha moto o esperando, na calçada. Como é inevitável para mim, comecei a olhar para os lados, a olhar para a paisagem, a olhar para os estabelecimentos, a olhar para as pessoas.
Era um quente, muito quente fim de tarde. As pessoas já saiam do trabalho, outras saiam da faculdade, outras simplesmente passavam. Umas passavam apressadas, outras passavam preocupadas, outras se arrastavam; mas passavam. Neste “olhar” que me leva para longe os pensamentos e me aguça os sentimentos, desacelerando minha ansiedade, notei um senhor que não passava. Um senhor que tentava se situar na calçada larga. Como não passava, o olhei melhor e logo nossos olhares se cruzaram, pelo menos tive esta impressão, não sei. Mas o olhar distante dele foi a segunda coisa que me chamou mais a atenção para ele. Não era um olhar distante de quem olha sem objetivo, sem foco; mas de quem busca algo, algo de que precisa e não encontra. Um olhar que chega a misturar desespero e persistência. Uma persistência que só serve para não se entregar ao desespero que já consome a esperança.
Um senhor de idade avançada, escorado com uma das mãos em uma bengala velha e que com a outra segurava gargantilhas que tentava vender. Sem agilidade, ele ficava no meio da calçada, tentando abordar as pessoas que passavam. Umas desviavam antes, não dando tempo suficiente para serem alcançadas. Algumas ele tentava abordar com mais intensidade, outras nem tanto. Outras se assustavam e desviam de supetão, até puxando os braços para não tocá-lo, deixando-o a ver navios. Algumas ele ainda tentava seguir, do jeito que podia, virando-se sobre a bengala e falando abafado que nem podiam ouvir. Perambulava em vão.
Insistente, conseguiu a atenção de uma das pessoas. Uma moça, simpática até. Ele colocou uma das gargantilhas na mão dela, ela conversou um bocado com ele, aparentava não poder comprar ou não tinha interesse; mas com ele conversou e para com ele foi gentil. Outro rapaz também parou e também nada levou. Foi simpático para com o senhor, mas tinha pressa.
Era um senhor grisalho, vestia um largo paletó cinza, calças marrom-claro, também largas, sapatos preto surrados, camisa xadrez e uma gravata escura. Tem uma expressão dura que ora apresentava o cansaço, ora a frustração. Abaixa os braços, respirava, olhava em volta, tomava fôlego e continuava sambando pelo passeio entre as pessoas. Mas estava cansado e acho que lutava contra a hora de ir embora, como uma criança que luta contra o sono.
É o que sobrou para o fim de uma vida inteira, vivida seja lá como – não nos interessa, já foi – mas que agora cobra um preço demasiado alto para se aceitar, sem nem permitir um breve descanso antes da partida.
Espero que ele, pelo menos, tenha um bom Natal...
* * *
Com o pensamento no bem do próximo, sem esquecer o descaso dos nossos dias:
Desejo um Feliz Natal e um Novo Ano repleto de sorrisos e abraços para todos!
Desejo um Feliz Natal e um Novo Ano repleto de sorrisos e abraços para todos!