domingo, 22 de dezembro de 2013

O Vendedor de Joias (E um Feliz Natal)

Semana passada, eu e um amigo saímos do trabalho e fomos para um barzinho encontrar o pessoal do trabalho para revelação do nosso “amigo-secreto”. Mas como ele deixou para comprar o presente de última hora, paramos na Rua Maria Antônia que tem uma loja para o presente que ele precisava comprar. Acho que ali já era Avenida Higienópolis, sei lá... Enfim... Ele entrou comprar o presente e eu fiquei junto à minha moto o esperando, na calçada. Como é inevitável para mim, comecei a olhar para os lados, a olhar para a paisagem, a olhar para os estabelecimentos, a olhar para as pessoas.

Era um quente, muito quente fim de tarde. As pessoas já saiam do trabalho, outras saiam da faculdade, outras simplesmente passavam. Umas passavam apressadas, outras passavam preocupadas, outras se arrastavam; mas passavam. Neste “olhar” que me leva para longe os pensamentos e me aguça os sentimentos, desacelerando minha ansiedade, notei um senhor que não passava. Um senhor que tentava se situar na calçada larga. Como não passava, o olhei melhor e logo nossos olhares se cruzaram, pelo menos tive esta impressão, não sei. Mas o olhar distante dele foi a segunda coisa que me chamou mais a atenção para ele. Não era um olhar distante de quem olha sem objetivo, sem foco; mas de quem busca algo, algo de que precisa e não encontra. Um olhar que chega a misturar desespero e persistência. Uma persistência que só serve para não se entregar ao desespero que já consome a esperança.

Um senhor de idade avançada, escorado com uma das mãos em uma bengala velha e que com a outra segurava gargantilhas que tentava vender. Sem agilidade, ele ficava no meio da calçada, tentando abordar as pessoas que passavam. Umas desviavam antes, não dando tempo suficiente para serem alcançadas. Algumas ele tentava abordar com mais intensidade, outras nem tanto. Outras se assustavam e desviam de supetão, até puxando os braços para não tocá-lo, deixando-o a ver navios. Algumas ele ainda tentava seguir, do jeito que podia, virando-se sobre a bengala e falando abafado que nem podiam ouvir. Perambulava em vão.

Insistente, conseguiu a atenção de uma das pessoas. Uma moça, simpática até. Ele colocou uma das gargantilhas na mão dela, ela conversou um bocado com ele, aparentava não poder comprar ou não tinha interesse; mas com ele conversou e para com ele foi gentil. Outro rapaz também parou e também nada levou. Foi simpático para com o senhor, mas tinha pressa.

Era um senhor grisalho, vestia um largo paletó cinza, calças marrom-claro, também largas, sapatos preto surrados, camisa xadrez e uma gravata escura. Tem uma expressão dura que ora apresentava o cansaço, ora a frustração. Abaixa os braços, respirava, olhava em volta, tomava fôlego e continuava sambando pelo passeio entre as pessoas. Mas estava cansado e acho que lutava contra a hora de ir embora, como uma criança que luta contra o sono.

É o que sobrou para o fim de uma vida inteira, vivida seja lá como – não nos interessa, já foi – mas que agora cobra um preço demasiado alto para se aceitar, sem nem permitir um breve descanso antes da partida.

Espero que ele, pelo menos, tenha um bom Natal...

*         *         *





Com o pensamento no bem do próximo, sem esquecer o descaso dos nossos dias:
Desejo um Feliz Natal e um Novo Ano repleto de sorrisos e abraços para todos!

domingo, 15 de dezembro de 2013

Heróis Escarrados

Despercebidos, impregnados à paisagem,
Ofuscados pelas nossas prioridades
Movem-se aglomerados de células que formam corpos,
Corpos a se descriminar, corpos a se castigar.

Corpos que ganham nomes [para se xingar] e números [para se cobrar]
Que suam para comer e outros gozar
Que se arrastam aos bandos sobre a superfície sem nem poder viver.

Que são abençoados pela ignorância para suportar a existência
Que lhes restam as migalhas do pão que o tal do diabo amassou e cuspiu
Que se esgueiram por entre a desgraça e o desespero.

Reses que fedem o suor do trabalho ainda no ir,
Que já não sabem sonhar, apenas se conformar
Que carregam a tristeza e o cansaço nos olhares
Que levam um dia após o outro na certeza de nada mudar

Que vivem à beira do abismo sem nada para se escorar
Que entrega a vida ao abate lento e impiedoso
Que concedem seu todo sem um nada pedir.
Quem não têm mais afagos, mas bocas reclamantes a alimentar.

Sombras uniformes que surgem e somem na escuridão
Lombos que assam ao sol, talhados pela opressão e pelo descaso.

Heróis escarrados, indignos até de abortos!

domingo, 1 de dezembro de 2013

Eu Sou

Por minha tia Cris Castelar.

*          *          *

Eu sou a metáfora de um poema incompreensível,

Eu sou a claridade de uma luz que nunca se acende,

Eu sou a adolescente que nasceu idosa e que viveu eternamente,

Eu sou a sombra de uma árvore sem copa,

Eu sou o mistério que provoca mas não mostra,

Eu sou o inimaginável, o que não se alcança, o que não se atinge,

Eu sou o real e o obscuro, o passado e o futuro,

Eu sou o hoje , o sempre, o nunca mais,

Eu sou o Eu, o interno e o profundo,

Eu sou um rio, um pesadelo e um suspiro,

Eu sei quem sou, apenas Eu e somente Eu.



domingo, 10 de novembro de 2013

Diário de um Zé Ninguém - Grátis!

Pessoal!

Com muita alegria apresento a vocês o "Diário de um Zé Ninguém", mais um livro meu que está disponível gratuitamente para download aqui no blog e em diversas ferramentas pela internet.

"Um romance que trata da existência humana inserida nas atuais condições sociais que ditam as regras comportamentais, mas se sobrepõem e obscurecem as verdadeiras intenções e reações de cada indivíduo. Trata-se de um morador de rua que passa a receber frequentes visitas de um cidadão comum com quem conversa abertamente sobre a vida: as dificuldades, a exclusão, as reviravoltas, os preços pagos por decisões antigas e a complexa lida com a invisibilidade imposta pelo mundo; tudo sob uma óptica simples e sábia, própria do espírito do nosso protagonista. Salpicada de pensamentos e questões existenciais, esta obra propõe ao leitor reflexões sobre a vida real, em um nível mais humano, que podem mexer consigo, com a maneira que lida com sua própria vida e, quem sabem, com as vidas ao seu redor."

Todos os detalhes abaixo sobre este e os outros meus livros estão também disponíveis e atualizados na página "Meus Livros", aqui no blog.

Agradeço aqui as minhas revisoras gratuitas e dedicadas Juliana, Daniela e Iracema, sem as quais isso tudo não seria possível.

Aproveito também para pedir o apoio de todos vocês com a divulgação destes meus trabalhos. Contemos ao mundo!

Diário de um Zé Ninguém
Um morador de rua que passa a receber frequentes visitas de um cidadão comum com quem conversa abertamente sobre a vida sob uma óptica simples e sábia, própria do espírito do nosso protagonista. Salpicada de pensamentos e questões existenciais, esta obra propõe ao leitor reflexões sobre a vida real, em um nível mais humano, que podem mexer consigo, com a maneira que lida com sua própria vida e, quem sabem, com as vidas ao seu redor. Romance Conclusão:
08/2011

Publicação:
10/11/2013

Atualização:
10/11/2013
Download:

- ePub

- PDF

- Mobi

É um trabalho novo e diferente. Espero que gostem!

Grande abraço e obrigado pelo apoio!

Rafael

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Le Storie di AreaLibro - Eu na Literatura Italiana



Olás!

Há pouco tempo conheci a Arealibro, uma comunidade italiana de autores e amigos dos livros. Tivemos algumas parcerias bacanas.

Mas agora gostaria de compartilhar com vocês a mais importante: "Le storie di AreaLibro"! Trata-se de uma antologia eletrônica (e gratuita) com textos de diversos autores, entre eles, meu texto "E Se...?" (em português e italiano).

Clique aqui para conhecer mais sobre o projeto aqui.

Clique aqui para baixar o seu exemplar (depois de criar uma conta, clique no botão Scarica (Baixar)). Estou aguardando permissão deles para colocar o exemplar diretamente aqui no blog.

Abraços a todos,

Rafael

sábado, 26 de outubro de 2013

Doçura

Bem que se podia dos céus choverem jujubas,
Verterem os rios em doces de leite,
Das árvores amadurecerem pencas de brigadeiros
E serem os morros e pedras pilhas de chocolates.

Que tal nos lambuzarmos de cocadas brancas, de cocadas queimadas, de cocadas todas...

Lambamos melaços até doer as testas,
Comamos balas de goma a baciadas,
Enchamos as mãos com pirulitos,
Chupemos canas sem pensar no assoviar.

Que venham musses, manjares, tetas de negas, bombas, balas, geleias, trufas, pudins, quindins, beijinhos [abraços também], cajuzinhos, bichos-de-pé, algodões-doces, pipocas doces, marias-moles, suspiros, rapaduras, doces de mamão, de cidra, de figo, de tudo, de todos.

Esvaziemos todas as compotas!

E quem sabe, assim, sejamos menos amargos, menos azedos,
Restando ao mundo um pouco de doçura.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

#MM04

"Ainda prefiro a decepção de uma confiança cega à mediocridade da desconfiança inicial. Alguns chamam de inocência: eu os compreendo!"


terça-feira, 24 de setembro de 2013

#MM03

"Não basta passarmos pela vida, temos que nos imortalizar. "

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Livro-objeto: Além da Leitura

Há poucos dias conheci Martinho Torres (Richard Towers) e seu trabalho que vem desenvolvendo sob a ideia de “Livro-Objeto”: um livro que vá além da leitura e que possa ter maior presença na vida do leitor, não apenas em sua prateleira!

Conheça um pouco mais:



Martinho é proprietário da Neoma Produções (Portugal), através da qual viabiliza seus trabalhos mantendo o foco estrito na originalidade.

Abraços....

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Lição de Amor - Direto do Busão

No ônibus voltando para casa, eu estava pensando em algum texto para publicar aqui no blog esta semana. De repente, vieram essas palavras ébrias de um senhor sentado sozinho mais ao fundo:

*          *          *
Às vezes cansa:
Tudo isso que a gente passa.
A fila anda e o mundo gira,
Tudo agora é permitido.

É o bêbado que está falando...
Na sua mão tem dez dedos, na minha também.
Você já me viu prejudicar alguém?

Uns me chamam de 171, vagabundo e de muitos outras coisas.
Mas nunca assumem o que fazem.
Acha que é fácil?
Passo tantas coisas, é tudo dão difícil...
Difícil, sabe? Às vezes cansa...

Eu já trabalhei em tudo quanto é lugar.
Já tive mulheres bonitas...
A do Maranhão era bondosa, era carinhosa.
Tive muitas mulheres. Nunca desrespeitei ninguém.
Todas se apaixonaram.
Enquanto durou eu dei todo meu amor para elas.
Não foi bonito? Como foi...

Namorei uma antes dessa, aqui na Praça do Pôr-do-Sol.
A gente vinha com meu primeiro carro, meu fusquinha.
Pra mim tanto faz, o que importa é o bem que o amor faz pra gente.

O amor que Deus me deu é a coisa mais forte que tenho.
E eu amei! Amei sim...
E nunca mais vou esquecer essas duas que tanto amei,
Nunca mais vou esquecer, não importa quantas lágrimas caiam,
Lembro delas todos os dias da minha vida,
Pois esse é o amor que Deus me deu... É infinito... Nunca vou esquecer.

Podem estraçalhar meu corpo, minha cabeça, minhas pernas e meus braços,
Mas não o amor do meu coração.

Quando aperta eu choro... Mas nunca vou esquecer, porque sempre vou amar!

*          *          *

E aí chegou o meu ponto...

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Sugestão de Leitura - Marcos Mairton

Eu gosto muito de ler contos. Gosto destas pequenas e completas histórias que rapidamente nos pegam de surpresa e nos deixam pensativos após a última palavra.

Há pouco tempo me encontrei pessoalmente, pela primeira vez,  com meu amigo Marcos Mairton aqui em São Paulo. Foi quando nos conhecemos pessoalmente e trocamos nossos livros. Estes dias consegui ler os do Mairton. Gostei de todos eles, mas o seu livro, recém lançado "Contos, Crônicas e Córdeis" foi o que mais me impressionou. Há muito eu não lia contos tão envolventes, que têm tanta relação com nossa história e com nosso dia a dia como estes.

São escritos com muita fluência, simplicidade e plenos de um conteúdo muito forte. Em alguns eu li, em outros eu relembrei momentos difíceis da vida; em todos eu grudei os olhos como há muito não fazia.

Por isso, recomendo fortemente que conheçam este e outros trabalhos do Mairton (cliquem aqui).

Não vou dizer "espero que gostem", porque este é garantido... Tem para todos os gostos!

Um grande abraço,

Rafael

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

#MM002

"Tudo que tem utilidade deve ser usado, porém (sempre porém) uma vez usado torna-se inútil: descartável, esquecível, abandonável."


domingo, 25 de agosto de 2013

A Terceira Rodada

Eis a "Terceira Rodada", devidamente registrada na FBN e agora, pra variar, disponível gratuitamente para download!

Não esqueçam de acompanhar todos os detalhes deste e dos meus outros livros na página "Meus Livros", aqui no blog. Fiquem sempre atentos: logo, logo teremos mais novidades!

Compartilhem!!

Desce Mais Uma! - Terceira Rodada
Antologia dos meus textos escritos entre 2011 e 2013. Poesias, Crônicas, Contos e Ensaios Conclusão:
06/2013

Publicação:
25/08/2013

Atualização:
25/08/2013
Download:

- ePub

- PDF

- Mobi


Abraços e obrigado...


terça-feira, 20 de agosto de 2013

#MM001

Para dar vazão aos pensamentos sem pés e sem cabeças, que aparecem e se vão do nada e que não são acomodados em lugar nenhum, comecemos aqui a séria Masturbação Mental!

*          *         *

"Respeito não é educação; é consideração."


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Enfim Sexta

Mal se esfria o sol de uma sexta-feira,
Como em outras, mas não as mesmas,
Já correm todas aos milhares, alheias às demais
E enlouquecidas por um logo chegar.

Atropelam-se enfurecidas,
Tremulam irritadas,
Esbarram-se nervosas,
Formam fantásticas filas douradas,
Reluzindo geladas sob o começo da noite.

Seguem alucinadas num fluxo só,
Aglomerando-se doce e mortalmente
Em um magnífico congestionamento branco,
Que inunda minha boca e refresca minha mente.

domingo, 28 de julho de 2013

Mais Livros Grátis

Pessoal!

Seguindo a minha decisão de tornar meu livro "Patos" gratuito e ainda em comemoração aos cinco anos de Desce Mais Uma!, estou disponibilizando gratuitamente a Primeira e a Segunda Rodada. São compilações dos meus textos publicados aqui no blog e que agora estão disponíveis em formatos de livros eletrônicos.

Todos os detalhes abaixo sobre os meus livros estão também disponíveis e atualizados na página "Meus Livros", aqui no blog. Fiquem sempre atentos: logo, logo teremos mais novidades!

Seguem os detalhes dos meus três livros disponíveis para download gratuito. Contem para a mamãe, para o papai, para o vovô, para a vovó, para os amiguinhos, para o Facebook, para o Twitter, para tudo que é lado, para o mundo todo: são livres!

Desce Mais Uma! - Primeira Rodada
Antologia dos meus primeiros textos, escritos entre 2008 e 2009.

Saiba como foi o primeiro lançamento.
Poesias, Crônicas, Contos e Ensaios Conclusão:
07/2009

Publicação:
28/07/2013

Atualização:
28/07/2013
Download:

- ePub

- PDF

- Mobi


Desce Mais Uma! - Segunda Rodada
Antologia dos meus textos escritos e publicados entre 2009 e 2011. Poesias, Crônicas, Contos e Ensaios Conclusão:
05/2011

Publicação:
28/07/2013

Atualização:
28/07/2013
Download:

- ePub

- PDF

- Mobi


PATOS
A saga de um jovem de espírito inquieto que, na busca de seu caminho, encontra-se diante de um novo "eu" desprovido de valores e de conduta questionável.
Um novo "eu" descontrolado e perturbado que é submetido a um tratamento psiquiátrico duvidoso lhe revelando a pior e mais torturante fase da sua vida.

Saiba mais aqui.
Romance Existencialista Conclusão:
05/2010

Publicação:
16/06/2013

Atualização:
16/06/2013
Download:

- ePub

- PDF

- Mobi


Abraços,

Rafael

quinta-feira, 18 de julho de 2013

5 Anos de Desce Mais Uma!... E Outras Cositas Mas...

Pessoal,

Este mês o Desce Mais Uma! completa cinco anos no ar. Em 29 de julho de 2008 foi publicada a primeira postagem e de lá para cá não paramos mais. Muitas coisas boas aconteceram, muitas coisas mudaram e tudo isso graças ao apoio e presença de vocês por aqui, pois sem vocês não há sentido em todo este trabalho: Obrigado! Parabéns!

Aproveito para compartilhar algumas atualizações com vocês:

  • Blog de Cara Nova: no embalo do aniversário, mudei o modelo do blog. Apliquei um modelo dinâmico do Google que ainda está sendo evoluído, pois está difícil conciliar o tempo. É um modelo bacana, mais enxuto e moderno, contudo, algumas instabilidades ainda são percebidas - estou trabalhando nisto. 
  • Patos: alguns leitores, como o Alex, perceberam problemas de sobreposição e repetição de textos nos capítulos finais dos arquivos ePub e Mobi do meu livro "Patos" que está disponível gratuitamente. Já fiz os devidos ajustes e atualizei os arquivos. Quem já baixou, peço que baixe novamente para não prejudicar a leitura. Seguem os links novamente:
    • EPub: padrão internacional específico para livros eletrônicos, compatível com quase todos leitores digitais.
    • Mobi: formato de livros eletrônicos da Amazon, compatível com o Kindle.
    • PDF: formato de arquivos eletrônicos da Adobe.
  • Outras Rodadas: estou preparando outras "Rodadas" do Desce Mais Uma!. São compilações dos textos deste blog, inspiradas na Primeira Rodada, e que logo disponibilizarei também gratuitamente por aqui.
  • Outros Trabalhos: outros trabalhando estão em andamento e logo teremos mais notícias por aqui.

Bom, é isso. Obrigado por sempre acompanharem meu trabalho por aqui e pelo voto de confiança ao meu livro "Patos", que nunca foi tão lido e tão bem comentado!

Que venha mais um ano, que venham mais notícias boas...

Grande abraço a todos e parabéns para todos nós!

Rafael

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A Vida em Duas Vozes: Passiva!

Engraçado como é difícil escrever na voz passiva sem que seja em um tom negativo, derrotado e de responsabilidade alheia...

*          *         *

Eu fui trazido à luz e alimentado,
Mostraram-me e me fizeram rir,
Eu fui criado e posto a andar,
Fizeram-me correr e brincar,
Ensinaram-me a falar e me transformaram.

Eu fui instruído e passei a temer,
Eu fui envolvido e me fizeram chorar,
Rebelaram-se contra mim e me fizeram experimentar,
Assustaram-me e me fizeram xingar.

Arrepiaram-me e estremeceram-me,
Tomaram de mim e não deixaram conquistar,
Desviaram-me e não me mostraram o caminho,
Fizeram-me gritar e me envergonharam.

Comungaram o que era meu e me exigiram a multiplicação,
Lutaram comigo e me humilharam,
Eu fui cercado e derrotado,
Eu fui injustiçado e me fizeram chorar,
Enfiaram-me goela abaixo e vomitei.

Derrubaram-me e ninguém me levantou,
Fui empurrado e passaram rasteira,
Ensinaram-me, mas errado,
Lembram-me do que me fizeram,
Estagnaram-me a ver tudo que se repete [é assim mesmo].

Fizeram-me rever tudo de novo,
Não me encorajaram e nem me ouviram,
Fizeram me sentir para eu me arrepender,
Cantaram e dançaram minha derrota,
Não fui abraçado e nem beijado.

Ignoraram o quanto me estragaram,
Envelheceram-me sem me perguntar,
A vida me levou e nem se despediram,
Restou-me o descanso da injustiça que vivi,
Fui passado e esquecido, jamais lembrado.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A Vida em Duas Vozes: Ativa!

Qualquer inclinação à passividade deve ser excomungada; é uma postura covarde e corrosiva à vida.

Vejamos hoje a voz ativa.

*          *          *

Eu nasci e comi,
Eu olhei e sorri,
Eu cresci e andei,
Eu corri e brinquei,
Eu falei e me transformei.

Eu descobri e temi,
Eu me apaixonei e chorei,
Eu me rebelei e experimentei,
Eu me assustei e até xinguei.

Eu me arrepiei e estremeci,
Eu perdi e conquistei,
Eu me perdi e me reencontrei,
Eu gritei e me envergonhei.

Eu comunguei e multipliquei,
Eu lutei e falhei,
Eu tentei e ganhei,
Eu sorri e sempre chorei,
Eu provei e me lambuzei.

Eu caí e me levantei,
Eu balancei e me esquivei,
Eu aprendi e reconheci,
Eu esqueci e nem me lembrei,
Eu renasci com os meus dos meus.

Eu revi e antevi,
Eu encorajei e ouvi,
Eu senti e não me arrependi,
Eu cantei e dancei,
Eu abracei e beijei.

Eu me espantei quando enruguei,
Eu me assustei e aceitei,
Eu parti, nem me despedi,
Eu descansei e nada mais eu vi,
Eu passei e não me arrependi.

domingo, 16 de junho de 2013

"Patos" Está Livre!

Pessoal,

Considerando a situação do meu livro "Patos", que comentei no post anterior, gostaria de comunicar que "Patos" agora é "di grátis" em formato digital.

Meu objetivo é a disseminação dos meus trabalhos, o que se tornava inviável com os valores praticados.

Infelizmente, só me é possível disponibilizar gratuitamente as versões eletrônicas. Porém, manterei a venda da versão impressa no site da Bookess.

Todos os detalhes e novidades sobre este livro continuarão sendo atualizados na página "Patos" deste blog. Nesta página também estarão os arquivos para download, o livro todo para leitura on-line aqui no blog.

Estou agora buscando ferramentas de divulgação e livrarias eletrônicas na internet para disponibilizar estas versões eletrônicas gratuitas. Se tiverem alguma dica, será muito bem-vinda!

Seguem as versões eletrônicas para download (qualquer problema que encontrem com estes arquivos ou com downloads, por favor, entrem em contato):
  • EPub: padrão internacional específico para livros eletrônicos, compatível com quase todos leitores digitais.
  • Mobi: formato de livros eletrônicos da Amazon, compatível com o Kindle.
  • PDF: formato de arquivos eletrônicos da Adobe.
 
Peço descaradamente o apoio de todos nesta divulgação, seja por e-mail, por rede sociais ou por conversas com amigos. Gritem a todos que "Patos é livre"!

Muito obrigado pelo apoio de todos!

Um grande abraço,

Rafael

terça-feira, 21 de maio de 2013

"Patos" está se afogando! Alguma ideia?

É isso mesmo, "Patos" (e não o ganso..rs) está se afogando!

Enquanto a procura por livros tem aumentado, o mercado editorial expandido, as editoras trabalhando com margens mais agressivas e competitivas e os valores dos livros diminuindo (fonte: O preço do Livro), "Patos" teve um aumento muito constrangedor. "Patos" teve seu preço inicial, na edição impressa, por volta de R$ 37,00, que não é um valor muito amigável; porém agora está R$ 45,43, o que não acho nem um pouco viável.

Não se trata de um aumento negociado, mas uma adequação da editora aos valores "de mercado". Não quero entrar nos detalhes destes problemas, pois já têm sido muito mais do que se pode a boa paciência e compreensão aceitarem, em todos os âmbitos.

Diante disso, estou buscando alguma outra alternativas para "Patos" não se afogar. Como ganhar dinheiro com livros é algo muito difícil e meu principal objetivo é difundir meu trabalho e, quem sabe, ter um bom reconhecimento, havia pensado, inicialmente, na possibilidade de disponibilizá-lo gratuitamente em versão eletrônica (apesar de ainda preferir a versão impressa).

Este, na verdade, era meu primeiro plano diante de tantos "nãos" das editoras e tantos "venha, por favor" destas novas "gráficas de elite". A primeira é de difícil acesso, a segunda cobra caro e não tem nenhum comprometimento com o livro depois de pronto e nem com o fato de estarem lidando com "sonhos".

Enfim, enquanto tento encontrar alguma alternativa, gostaria de saber a opinião de vocês na enquete ao lado. Isto me ajudará muito nesta decisão!

Todas e quaisquer sugestões são sempre muito bem-vindas, então, por favor, fiquem à vontade para fazê-las!

Abraços e obrigado pela ajuda!

terça-feira, 14 de maio de 2013

Novas Parcerias

Olás!!

O meio literário já é um meio muito complicado, sem divulgações fica ainda mais emperrado. Mas nestes últimos dias fechei duas importantes e gratificantes parcerias, as quais gostaria de compartilhar com vocês:


Autores S/A
Um espaço onde os estudantes e professores pudessem compartilhar seus textos e trocar ideias sobre literatura, música, cinema e cultura em geral. Esta foi a ideia original do blog Autores S/A, que surgiu em 05 de julho de 2009. Alguns contatos foram feitos e aos poucos os amigos foram chegando e associando-se. O blog cresceu, apareceu, e em pouco tempo já acolhia pessoas de outras cidades e estados. Administrador pelos dedicados Lohan Lage e Camila Furtado, que, juntamente com cada escritor do blog, trabalham para fazer deste espaço um lugar interessante e dinâmico. Sem dúvida, trata-se de uma Sociedade diferente das outras, pois sem qualquer fim lucrativo, seu objetivo continua sendo a propagação da leitura, a descoberta de novos talentos e a valorização do pensamento e das diferentes formas de expressão. Estarei no Autores S/A todos os dias sete de cada mês. A minha primeira publicação é "E Se...?".



AreaLibro



Fruto da editora italiana Stampalibri.it, o AreaLibro é um blog tem o objetivo de formar um novo canal de divulgação da literatura mundial e um grande ponto de encontro entre artistas de todos os tipos. Tudo sob o escudo desta editora que há tanto tempo está na estrada. A minha primeira publicação também é "E Se...?" mas em italiano.


Visitem!!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Mais uma Revolta

Há três semanas o Legislativo e o Judiciário estão nesta rincha besta, discutindo a essência de cada um, como já me ensinara minha querida professora do primário. Legislativo querendo tomar um lugar ainda mais ao sol e, assim, aumentar seu questionável poder.

Há meses, moleques estão a assombrar as nossas ruas: atiram na cabeça de quem lhes dá o que pedem; ateiam fogo em que não tem o suficiente para lhes satisfazer; estupram em ônibus público, em público, quem está no seu ir e vir; arrebentam vidas de ex-namoradas que abriram os olhos e resolveram com eles não mais conviver; avassalam famílias; roubam, matam, estupram, tiram, destroem, fazem o que bem entendem e ainda saem ilesos: riem na cara de todos nós diante da certeza da impunidade garantida por lei.

Há mais meses ainda, "ilustres excelências", mensaleiros que meteram as mãos no dinheiro público de forma tão desaforada e foram condenados pelo nosso cavaleiro das trevas tupiniquim, andam à solta de narizes empinados, com a arrogância estampada na cara deslavada enquanto serpenteiam por eventos de alto padrão, clamando por revanches jurídicas - aqui um exemplo de conveniência jurídica - àqueles que os "difamam" em meios de comunicações sérios e comprometidos com verdade e o bem-estar público.

Há anos uma mãe foi presa, sem direito a nada recorrer, por roubar um pote de margarina para dar à filha que não tinha o que comer! É um crime e merece punição? Claro que sim! Mas só ela? Só ela não tem deveres? Fico pensando: se uma manteiga dá no que deu, imagina os milhões desviados por aquelas "excelências"? E chego à seguinte conclusão: sou um completo idiota!

E a lei? Há lei? Todas as respostas sobre as impunidades reclamadas pela sociedade se dizem embasadas na lei. Então, que porcaria de lei é essa? Que porcaria de legislativo é esse que até hoje não deu um jeito nestas leis? Que lei são essas que garantem uma justiça injusta? Justiça, meu caro leitor, é aquela em que todos têm direitos e deveres iguais. Esta nossa lei é conveniente. A justiça justa só é feita quando a imprensa consegue garantir, aos trancos e barrancos, ameças e acordos, uma grande repercussão ao caso, sob um papel justiceiro que devia caber aos nossos governantes e senhores da tal lei. A justiça justa acontece quando exímios promotores, inconformados com a deturpação dos resultados do seu trabalho, se põe em uma busca incessante de brechas legais que lhes permitam reverter o trato leve e desconsiderado de certos juízes apáticos e descomprometidos que só fazem correr mecanicamente um processo alegórico, quando em suas palavras e olhares estariam as possibilidades de, no mínimo, um corretivo exemplar.

E quem poderia ajudar a mudar estas leis? Quem poderia colocar o sistema do lado da vítima? Quem poderia garantir, legalmente, uma justiça justa? Aqueles senhores que estão, no momento, brincando de tomar a cadeira do judiciário, ludibriando a realidade, se preparando para a próxima eleição, enquanto deveriam honrar as calças que vestem e se postar como sérios e responsáveis representantes do povo? Não, acho que não!

Isto aqui já virou terra de ninguém faz tempo. Pago impostos altos, mas não vejo nenhum retorno. O que vejo é a desigualdade reinando, a falta de uma saúde digna, ausência de uma educação decente, a completa insegurança e poderosos cada vez mais poderosos.

Falo com revolta e indignação de um cidadão que tem respeito e esperança pelo seu país. Que não se conforma diante desta palhaçada que fazem nossos representantes. Falo isso como cidadão que tem que se desdobrar para garantir aquilo que os seus impostos [pagos] deveriam lhe garantir. Falo com a indignação que me dão por direito, de graça e sem eu pedir!

E, por isso, dispenso qualquer comentário, explicação técnica ou "revoltinha" de qualquer jurídico ou governante que se sinta ofendido e se ache no direito de me dar lição de moral. Se assim o achar, peço que abotoe a carapuça que já vestiu e siga seu caminho para a copa do mundo.

No mais, fica aqui mais um dos meus irrisórios inconformismos e mais uma das minhas entediantes indignações!

terça-feira, 30 de abril de 2013

Num Twitter

Com os inúmeros canais de comunicação e interação disponibilizados tão facilmente pela internet, as formas de se viver e de se comunicar têm tomado rumos, digamos, no mínimo, inusitados. Confesso que está cada vez mais difícil manter-se atualizado sobre as constantemente renovadas codificações de comunicação e comportamento. Hoje se comunicam com dispositivos, com pessoas reais, com pessoas que não existem e, acreditem, com ninguém (ou talvez alguém, ou talvez o nada?). Confesso que eu tento, mas me perco. Não sei se é porque estou ficando velho, mas acho que perdi alguma parte no meio deste caminho (risos).

Pensando nisso (e rindo sozinho), resolvi montar a situação irônica a seguir, que apesar de fictícia não tem nada de improvável. Se você não conseguir compreender, corra, dê um jeito, se vire, pois esta parece ser a nova forma de comunicação!

*          *          *

Num twitter:

@twitteiro (10:32:34): estou super indo para casa #nemacredito

@twitteiro (10:33:18): nossa, que curva louca que o motô fez, quase caí #motoestressado

@twitteiro (10:33:43): a tia tá xingando o motô, lol

@twitteiro (10:34:13): @amigaseguidora soh vc mesmo #doidinha

@twitteiro (10:34:28): RT @amigoseguidor1 se os motorista andam assim, onde este país vai parar? #hiperrevoltado

@twitteiro (10:35:04): tá chegando, vou apertar o botão para parar #seraquepara

@twitteiro (10:35:04): eca, alguém tem um lenço? #botaonojento

@twitteiro (10:35:22): desci, já estou super chegando #voulavaminhamao

@twitteiro (10:37:04): nossa o tiozinho esbarrou em mim e nem pediu desculpa, credo #gentesemeducacao

@twitteiro (10:39:12): como demoram estes semáforos #muitolerdo

@twitteiro (10:40:23): quanta gente estranha aqui :S

@twitteiro (10:40:52): nossa, tem um cara vindo mega esquisito #tameolhandomuito

@twitteiro (10:41:07): ai meu deus, será um assalto? #vindoemminhadirecao :0

@twitteiro (10:41:24): eh sim, estou sendo assaltado @amigoseguidor2 avisa a polícia #sohacontececomigo

@twitteiro (10:41:42): ele pediu minha carteira, o que acham que devo fazer? #respondam

@twitteiro (10:41:58): o estúpido nem pra pedir com educação #gentegrossa

@twitteiro (10:42:13): agora ele tá queren ...

@twitteiro (10:42:16): queren

@twitteiro (10:42:21): meu ce #q

@twitteiro (10:42:33): que saco!

@twitteiro (10:42:36): celular #partiu

...

@twitteiro (15:01:13): oi genteeeee, voltei de celular novo! #megafeliz

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um Grande Encontro

Não me lembro quando e nem como, mas desde os primórdios do "Desce Mais Uma!" conheci um grande amigo blogueiro que tem estado presente por aqui desde então. Advogado da União, Procurador do Banco Central, Juiz Federal, Cordelista, Poeta, Músico, Compositor, Contista e tantos outros, Marcos Mairton, mantém o blogue parceiro Mundo Cordel. Mesmo com tantas atribuições, Mairton já publicou vários livros e tem feito diversos trabalhos musical que merecem destaque. O livro "Contos, Crônicas e Cordéis" é sua mais recente publicação (Clique aqui para conhecer suas obras).

Já trocamos mensagens, textos, referências em blogues, divulgações, livros e comentários. Mas somente hoje, depois de tanto tempo, trocamos apertos de mãos! Nos encontramos pessoalmente pela primeira vez e além de uma boa conversa, é claro, renderam também livros (e eu saí no lucro, olhem na minha mão...rsrs).


Marcão, foi um prazer!

domingo, 14 de abril de 2013

O Marciano Que Invadiu a Paraíba pra Roubar Rapadura - Vicente Campos Filho

Há alguns meses, minha cunhada esteve na Paraíba e me trouxe de presente alguns folhetos de cordel do Vicente Campos Filho. E como não poderia ser diferente, entrei em contato com o Vicente que autorizou muito gentilmente a publicação de um de seus cordéis aqui no Desce Mais Uma!. Para quem quiser conhecer mais do trabalho do Vicente, eis o link do blog dele: Vicente Campos Filho.

*          *          *


Tava eu fumando quieto
Na sombra do juazeiro
Quando vi aquela coisa
Descer do céu bem ligeiro
Parecia um dragão
Cuspindo fogo no chão
Fez aquele reboliço
Dei um pulo tão danado
Pensei: “É malassombrado
Valei-me meu Padrim Ciço”.

Era uma coisa redonda
Brilhava que nem catarro
Pela minha experiência
Nem era avião, nem carro
Quando a porta se abriu
De lá de dentro saiu
Um bicho todo asqueroso
Magro, feio e zoiúdo
Cabeça grande, orelhudo
Com rabo, feito o tinhoso.

Eu fiz o sinal da cruz
Caminhando para trás
E gritei: “Volta pro inferno
Vai de reto Satanás
Volte nos rastro que veio
Não perturbe o que é alheio”
Aí o bicho falou
Com voz de disco arranhado
“Vim de longe, tô cansado
Que o meu povo me mandou”.

“Eu vim do planeta Marte
Onde acabou-se a comida
Lá de cima a Paraíba
Foi a terra escolhida
Me mandaram em missão
Disseram que desse chão
Sai a comida mais forte
Mais gostosa e mais pura
Vou levar sua rapadura
E se não der vai ter morte”.

E partiu para o meu rancho
Levando sua feiúra
Sabia que ali estava
O estoque de rapadura
Deve ter sentido o cheiro
E eu tentei chegar primeiro
Mas o peste correu mais
E quando eu cheguei fui vendo
O bicho tava lambendo
E cheirando os costais.

Botou os zoião em mim
E disse: “Eu não quero ouro
Saí lá do meu planeta
Vim atrás desse tesouro
Vou levar tudo pra Marte”
E eu peguei um bacamarte
Que tava detrás da porta
Passei fogo no feioso
Mas, ou eu tava nervoso
Ou a mira tava torta.

Não acertei nem um chumbo
No rabo do desgraçado
Quando baixou a fumaça
O infeliz tava sentado
Num costal de rapadura
Com toda sua feiúra
Balançando o cabeção
Dizendo: “Pare com isso
Deixe desse reboliço
Pois assim não vai dar não”.

E um taco de rapadura
Ficou assim mastigando
E disse em tom de pirraça:
“Ouça o que eu estou falando
Você não pode comigo
Se teimar lhe dou castigo”
Aquilo me enfureceu
Tentei dar uma rasteira
Mas foi a maior besteira
Quem ficou no chão fui eu.

O feioso era ligeiro
Feito notícia ruim
Quando eu armei a rasteira
Acertou o rabo em mim
Foi mesmo no pé-do-ouvido
Até hoje ouço um zumbido
Dentro da minha orelha
Na hora eu caí pra trás
Aquilo doeu demais
Feito ferrão de abelha.

E eu pensei: “Agora mesmo
Aumentou meu interesse
Eu levando uma rabada
Dum fi-duma-égua desse
Já amansei burro brabo
Vou lhe pegar pelo rabo
Dar umas oito pirueta
Depois eu boto o imundo
Pra abrir no oco do mundo
E voltar pro seu planeta.

Mas quando agarrei no rabo
Do jeito do planejado
Ele soltou uma bufa
Que eu fiquei desnorteado
A bufa do infeliz
Acertou no meu nariz
Com uma intensidade
Que eu fiquei só girando
Uns três minutos rodando
Em busca de identidade.

Quando passou o efeito
Recobrei a consciência
Me deparei com uma cena
Que eu perdi a paciência
O bicho tava sentado
Muito bem acomodado
Fumando meu pé-de-burro
Bebendo minha cachaça
Feliz e achando graça
E me disse num sussurro:

“Agora, seu Zé Mane
Vou levar a rapadura
Gostei também da cachaça
Parece que essa é pura
Foi quando eu bolei um plano
Disse: “Oxente, seu fulano
Você não conhece cana
Eu tenho uma ali guardada
É a melhor qualificada
Brejeira, paraibana”.

Eu só não disse pra ele
Que a cachaça era um forno
Conhecida pelo nome
Rasga-Rabo, Amansa-Corno
Fui buscar o garrafão
Ele tomou da minha mão
Bebeu tudo de um gole
E girando o cabeção
Qual coruja no mourão
Ficou caindo de mole.

Deixei-o de quatro pé
Na porta do seu transporte
Disse: “Agora vamos ver
Se esse sujeito é forte
Trouxe um jumento de lote
Fiquei só de camarote
Assistindo aquela cena
O jegue deu uma varada
Que daquela presepada
Até hoje eu sinto pena.

O marciano acordou
E saiu de rabo ardendo
Com os zoião pegando fogo
E o ‘ás de copa’ doendo
Tava desorientado
Dizendo: “Fui enrabado”
Fez a nave ir pra riba
Saiu fazendo uma jura:
“Nem por toda a rapadura
Não volto na Paraíba”.


Por Vicente Campos Filho - Cordelista bom que a peste

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Insônia - Adolpho Chacon

Meu amigo Chacon escreveu este numa madrugada destas...

*         *         *

Insônia, indesejada companheira
Silenciosa razão do meu tormento
Afasta o amanhecer, que tanto se demora
E me tortura em tortuosos pensamentos
Quisera eu que um sono agora me abatesse
Como uma queda desse meu apartamento,
Mas é o primeiro este andar no qual habito
E se da varanda eu me atirasse no jardim
A minha insônia, que é tão obstinada
De sacanagem, pularia atrás de mim.

Por Adolpho Chacon.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Onde Estão as Flores?

Temos carros e internet,
Temos conforto e televisão,
Temos progresso e comodismo,
Temos tudo e tudo nos falta.

Desejamos salvar o mundo,
Desejamos limpar o ar e os rios,
Desejamos um mundo melhor para os nosso filhos,
Mas queremos é limpar a consciência e sairmos ilesos.

Perdemos a cidadania,
Perdemos a gentileza e a ternura,
Perdemos o senso dos direitos alheios e dos deveres próprios,
Hierarquizamos a nossa pluralidade para esquecermos do próximo:
Matamos a justiça que tanto clamamos.

Perdemos o vizinho e o amigo,
Perdemos o carinho e a paciência,
Perdemos a simpatia e a vontade,
Ganhamos o egoísmo e a vaidade.

Mas as flores, onde estão?
Onde estão suas cores para agraciar a vida?
Onde estão seus perfumes aliviar a existência?
Onde estão suas pencas para despertar a criança?

Alguém ainda lembra das flores?


terça-feira, 19 de março de 2013

Sopa de Chuchu

Desde que se conhecia por gente, seu Guimarães não gostava de chuchu. Aliás, ele não suportava chuchu. Ele dizia isso para a sua senhora todas as noites dos seus trinta e dois anos de casamento, mas isso nunca a impediu de rir enquanto lhe enfiava com truculência uma colher cheia de sua sopa fervente de chuchu goela abaixo.

O que, no início, foi um inocente “sim meu amor, vou experimentar, mas só desta vez” para satisfazer a vontade da sua jovem esposa, se transformou em uma obrigação cotidiana inquestionável e intransponível. Seu Guimarães, com o tempo, passou a ter medo da esposa, já havia provado o peso de seu braço gordo e o saboreado o fedor de suas palavras escarradas sob ódio.

Seu Guimarães não gostava de chuchu e fazia o possível para passar o dia na rua. Ia às praças, aos bares, às bancas de jornais, aos açougues, a qualquer lugar em que pudesse se encostar e esperar o tempo passar. No fim das tardes, tinha que voltar e isso era suficiente para lhe embrulhar o estômago. Todas as manhãs saia de casa pronto para não mais voltar, mas era o medo que tinha da sua esposa, não a idade, que o desencorajava.

Ele entrava à casa de fininho, tentando não ser notado, mas o enjoo do cheiro da sopa de chuchu que vinha da cozinha lhe causava perturbações intestinais monstruosas que lhe traiam e revelavam sua presença.

Durante trinta e dois anos, seu Guimarães sentou no mesmo lugar da mesa, ele que não gostava de chuchu, enquanto a esposa, sem lhe dar opção, enfiava-lhe colheradas fumegantes de sopa de chuchu.

Na semana passada, seu Guimarães foi encontrado morto na cadeira que costumava sentar da sua mesa de jantar. Parece que já havia cinco dias que ele estava morto naquela posição. Os vizinhos ligaram para a polícia por conta do cheiro forte de carne podre e chuchu exalava da casa. Dizem que o corpo do pobre coitado estava todo lambuzado e empanturrado de sopa de chuchu que a mulher continuou enfiando todas as noites goela abaixo do cadáver do marido. Os motivos da morte ainda não estão claros, mas a vizinhança, que conhecia muito bem a rotina do seu Guimarães, conta de tudo um pouco. Uns dizem que ele se enforcou, outros dizem que tomou veneno de rato, outros dizem que ele simplesmente infartou, há quem diga que ele caiu da escada e bate a cabeça enquanto procurava alguma coisa na prateleira, mas a verdade é que o estômago do seu Guimarães explodiu de tanto comer sopa de chuchu. A esposa estava inconformada e contou que ele estava cansado e que ela o tentava animar com a sopa de chuchu de que ele tanto gostava.

Seu Guimarães não gostava de chuchu e todas as noites dos seus trinta e dois anos de casamento ele comeu sopa de chuchu até explodir. O bairro todo ainda está cheirando a sopa de chuchu e a seu Guimarães, mas logo passa.

quarta-feira, 13 de março de 2013

À Outra Margem

Que coisa adianta pôr-te cômodo à margem do rio
A desejar lamentoso a outra?

Que coisa adianta alimentar um desdém latente,
Para conformar os olhos obcecados e o coração inquieto?

O rio não baixará,
A correnteza não diminuirá,
Barco algum chegará,
E a vida passará.

Há de lançar-te a braçadas, por completo,
E permitir-te o risco de ao outro lado chegar.

quinta-feira, 7 de março de 2013

O que você quer ser quando crescer?

Uma amigo me enviou este vídeo motivacional estes dias. Não foge muito do padrão daqueles que vieram após o do "SunScreen" (excelente, por sinal), mas gostei também do foco deste: sonhos! Isso vem ao encontro de muitos dos meus textos: a ideia de lutarmos com todas nossas forças por nossos sonhos sem deixarmos de ser crianças. Isto é algo sobre o qual tenho trabalhado muito (literariamente e pessoalmente) e por isso compartilho este vídeo.

Mas antes de pensarem se o vídeo é bom ou ruim, tentem ouvir a sua mensagem. Tentem refletir sobre o como tem sido a lida em seus dias consigo mesmo. Tentem refletir como tem sido a lida de vocês com aqueles que os cercam. Olhem dentro de si e vejam se estão caminhando bem, se estão sendo fiéis aos seus próprios sonhos, se estão permitindo que os sonhos dos outros aconteçam, se estão vivendo com amor, próprio e comum. Pensem até onde podem ir para realizar os próprios sonhos e se este "onde" é suficiente. Pensem em como podem contribuir para o sonhos alheio, sem passar por cima dos seus sonhos. Pensem em como encaram os sonhos e desejos dos outros (ironia, arrogância, simpatia, aceitação?). Mas, acima de tudo, pensem se estão sendo felizes, pois a sua felicidade depende somente de vocês, mas a sua infelicidade causa dores ao seu redor. Assim como a felicidade, a infelicidade contamina e toma conta.

Sejamos adultos e crianças (os dois), não sejamos imbecis rastejando pegajosos dia após dia sobre a superfície. A vida é uma, é rápida e difícil... Já temos muitas dificuldades nos nossos dias para que criemos e distribuamos outras por puro descaso ou egoísmo. Sejamos felizes NESTA VIDA, pois dela temos certeza!


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Penitência - 3/3

Fico analisando minha vida, tentando definir se tive uma boa vida, se fui uma pessoa boa. Fico em dúvida algumas vezes. Na juventude somos explosivos e acabamos fazendo coisas que neste ponto da vida podem ser facilmente questionadas. Penso, analiso, imagino, mas nunca consigo concluir o que foi minha vida. Nestas lembranças, que são tão fortes, chego a sentir de verdade como eu me senti no momento em que elas realmente aconteceram; só que com alguns novos sentimentos que não existiam naquele tempo. Devem ser da idade, a gente fica mais velho e fica mais cuidadoso, ou mais medroso, sei lá. Sei que fico aqui, revendo meus arrependimentos, meus amores, minhas saudades, minhas decepções, minhas alegrias, minhas tristezas e me perguntando: e agora? Não me orgulho de muita coisa que fiz na vida, mas acho que repetiria a maioria delas. Não sou hipócrita e sei que no momento em que estas coisas aconteceram, eu tinha motivos suficientes que me levaram a elas e hoje seria inocência de mais da minha parte querer julgá-las. Tive meus momentos ruins, mas também tive muitos momentos bons e tento manter estes vivos em mim; só que o mal, meu amigo, ele é persistente e insiste em se fazer presente. Às vezes penso, de verdade mesmo, que estou pagando as coisas ruins que fiz. Fora a idade, não tenho outros motivos para estar aqui deste jeito, sempre tive uma saúde de cavalo. Por isso acho que pago algo, ou tudo. Talvez muitas outras coisas que não vejo como ruins podem ter sido ruins a outras pessoas, não sei... Sei que acho que tudo isso aqui é uma penitência, um acerto de contas antes de ir para o outro lado. Sempre me disseram, e agora assino embaixo, que o que aqui se faz e aqui se paga. Nada fica para ser acertado do outro lado.

Digo que isso é algum tipo de acerto de contas não só por estar entrevado aqui, mas por estar entrevado aqui sozinho. Da minha ex-mulher não tenho notícias há muito tempo. Sinto falta da minha filha, ela não vem mais me ver já faz muito tempo também. Sempre tivemos nossas diferenças, mas nunca deixei de amá-la, mas ela nunca mais veio... Quase nunca conversamos de verdade, sempre discutimos e isso é ruim, dó, sabe? Me lembro de quando ela era menininha, bem novinha, vestidinha para o primeiro dia de aula, com uma carinha de dúvida e medo. Parecia um anjinho com medo. A levei até a porta da sala de aula, ela me abraçou forte como se não fosse mais me largar e eu disse que tudo ficaria bem e que logo eu voltaria para buscá-la. Ela me deu o sorriso mais lindo que já vi em toda minha vida. É este sorriso, esta imagem que fica na minha cabeça. Queria que ela entrasse por aquela porta. Acho que é isso que fico esperando aqui. Toda vez que entra alguma enfermeira, no primeiro momento, meus olhos me enganam me mostrando a minha filha. Acho que esta frustração é uma das coisas que mais me deixa irritado... É... Não é fácil... Queria que ela entrasse por aquela porta com minha netinha para eu poder vê-las mais uma vez. Tenho tanta saudade!

Olha! Os olhos chegam até a molhar... Se ao menos aquele palerma do meu genro resolvesse alguma coisa, mas só servi pra ele enquanto eu dava dinheiro e não problemas.

É isso, a vida em comum é uma troca constante, cada um tem que levar alguma coisa; quando uma parte não tem mais o que oferecer, a outra se vai. Pode até ser que dinheiro não traga felicidade, mas é ele quem a mantém. Quando perdi o que tinha, perdi também minha mulher que levou minha filha e a envenenou contra mim. Agora nem o palerma vem me ver, ninguém vem me ver.

Estou abandonado e não esquecido, pois alguém está pagando a conta desta espelunca, senão já teriam me jogado na sarjeta. Esquecido, meu amigo, é melhor do que abandonado. Esquecer é involuntário; abandonar é caso pensado, sem se esquecer. Às vezes penso que até Deus já me abandonou, se negando a atender meus pedidos de mandar logo aquela desgraçada de preto vir me buscar.

Confiram também: Parte I - Parte II

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Penitência - 2/3

Sabe? Aqui o tempo não passa, ele se arrasta e com muita má vontade. Tem um relógio pendurado na parede que tento ao máximo ignorá-lo, mas acho que por isso mesmo acabo sempre olhando para ele. Quando o tempo não passa olhar para um relógio é a pior coisa que se pode fazer, faz com que o tempo se arraste ainda mais lentamente e a irritação tome conta. Mas os olhos são muito traiçoeiros, nos denunciam aos outros e nos mostram aquilo que não queremos ver. Já até joguei a bandeja de comida nele para ver se eu conseguia quebrá-lo, mas é claro que a bandeja nem chegou perto e ganhei umas boas picadas e alguns dias de sono.

Tento um pouco de tudo para me distrair, mas quase nada é suficiente. É raro eu conseguir um jornal velho, uma revista esfarrapada ou uma cruzadinha antiga. Sempre peço, mas ninguém me escuta. Aliás, escutar escuta porque não é possível que todo mundo aqui seja surdo, mas se fazem de surdos. Às vezes o rapazinho esquisito me deixa alguma coisa e eu leio, releio, leio novamente sem me cansar – até cruzadinhas feitas eu já refiz. Sei que é estranho, mas me distrai um pouco e isso alivia o tempo. E o tempo insiste em ficar aqui comigo. Por mais que eu suplique para ele ir, ele fica. Isso vai me irritando, as dores vão contribuindo e aí, meu amigo, eu viro um bicho aqui, até que todo mundo fica de saco cheio e me apaga por alguns dias. Perco a noção do tempo, não desse que não passa, mas do dia da semana, do dia do mês. A gente fica meio zureta com essa falta de referência de calendário, mas por outro lado não me incomodo muito, não vou pra lugar nenhum mesmo...

O que ainda não perdi é a lucidez, eu acho. Me lembro de tudo da minha vida, me lembro de tudinho, desde menino até hoje. Isso quem garante é o tempo, não o do calendário, mas aquele que se arrasta. Quando ele vem e fica, ele conversa comigo, me conta tudo aquilo que já vivi. Do início ao fim, do fim ao início, do meio para o começo, de cabeça para baixo, de tudo quanto é jeito. Aí é inevitável, acabo me lembrando até de coisas que acho que nunca mais lembraria. Me lembro de quando eu era pequeno, bem menino, de quando eu era adolescente, de quando fiquei mais moço... Parece que sou o mesmo em todas estas fases, como se hoje eu ainda fosse o mesmo menino, no mesmo corpo. Mas as minhas mãos são as primeiras a me trair com suas rugas, com seus dedos tortos, com essas unhas amarelas e contorcidas. Fico aqui deitado revendo minha vida, imaginando as possibilidades, imaginando como seria se certas coisas fossem feitas, se outras fossem feitas de forma diferentes, são tantas coisas...

Escuta! Escuta! Está escutando? É... Um piano! Não sei de onde vem, deve ser de algum apartamento aqui por perto. Vem sempre nesta hora, no comecinho da noite; mas não todos os dias. Pelo jeito de tocar é alguém que está aprendendo ainda, algumas notas engasgam, outras saem do tom, percebeu? Mas para mim soa como um recital! Isso sim é algo que me dá prazer aqui neste lugar. Parece que o mundo para e se restringe a este espaço, nada mais existe e tudo fica em paz, só o piano, escuta!

Confiram também: Parte I - Parte III

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Penitência - 1/3

Um conto em três partes, espero que gostem. Na semana que vem, a parte 2.

*          *          *

Já faz algum tempo que estou entrevado nesta maca. É maca sim, cama de hospital não passa de uma maca. Não tem posição que alivie as dores nas costas ou que me dê um pouco de conforto na paciência. Na verdade não faz algum tempo, faz tempo pra caralho! Tanto tempo que nem sei dizer.

Entra dia, sai noite e eu continuo aqui, na mesma situação. Esperando sei lá o quê. Um problema no estômago me jogou aqui, era pra ser temporário, mas sabe como é, a idade ajuda a pesar o corpo e uma coisa leva a outra, um problema some, dois aparecem e por aí vai, estou todo fodido. São tantas coisas que eu passo a ter e deixo de ter que nem sei mais qual é o meu problema atual. Os médicos já não falam mais o pouco que falavam. Se dirigem a mim como se eu fosse um cachorro velho. Vêm, mexem, fuçam, cutucam, viram, apertam, enfiam, espiam, bocejam, anotam e se vão, sem dizer nada. Não me cumprimentam, não me explicam, no máximo um sorrisinho e um tapinha na perna doente. Ou já sarou? Ah, sei lá, não lembro e não importa, tudo dói mesmo. Sei que eles fazem assim comigo, acho que já se acostumaram comigo aqui como se eu fosse parte desta decoração de mau gosto. Eita, povinho pra ter mau gosto! Também não me importo mais em perguntar. Cansei de implorar para conseguir alguma resposta deles. E quando eles resolviam dizer alguma coisa, falavam comigo como se eu fosse um médico. Não entendo merda nenhuma do que eles falam. Então a coisa vai ficando assim: eles vêm, não falam, eu não pergunto e tudo fica bem. Bom, bem para eles que podem ir embora e ter a vidinha deles...

Com os enfermeiros a coisa não é diferente. Só um rapaz baixinho, meio esquisito, que ainda conversa um pouco comigo, às vezes até chega animado com sorriso no rosto e faz alguma piada sem graça, mas que é de boa vontade então eu forço um riso amarelo. Outras vezes ele aproveita e fica um tempo aqui, não comigo, fica no celular dele falando com não sei quem, mas já é uma distração pra mim, sabe? Não pergunto nada sobre a ligação e ele também não diz nada. Fico como se não estivesse ouvindo, mas estou e me divirto um bocado, confesso. Os outros enfermeiros são uns imbecis. Além de não falarem comigo, como os médicos, são grossos e estúpidos na lida. Dão um banho sem-vergonha a cada dois dias, trocam os lençóis uma vez por semana, demoram a trocar meu papagaio, não respondem quando chamo ou quando berro. Quando não consigo segurar, me cago todo na cama, que situação! Demoram pra trazer aquela porcaria de comida e sou obrigado a engoli-la fria, é uma droga. Me regaçam todo, vão embora, não perguntam nem se dói alguma coisa ou se preciso de alguma outra. Meus braços parecem peneiras, estão todos roxos, todos cheios de feridas, pareço um viciado. Esses filhos da puta não conseguem acertar uma merda veia? Só fazem isso, porra!

Ainda tem o meu colega de quarto. Na verdade já se passaram vários por aqui, mas para mim são todos iguais: gemem, vomitam, fedem, reclamam, se curam e se vão. Procuro não conversar muito e nem dar muita atenção. Alguns ficam aqui jogados também, outros têm família que os vem visitar, mas não me importo. Como sempre tem um, então trato como meu colega de quarto e pronto.

Teve um que passou muito mal numa madrugada dessas. Sorte que eu estava meio acordado e fiz um escândalo aqui até aparecer alguém para acudir. Ele não podia falar, não lembro porque, acho que era porque tinha uns tubos enfiados na goela. Mas acho que ele ia bater as botas se eu estivesse dormindo. O pobre infeliz começou a se debater, espumar, virar as bolas dos olhos, tremer, se contorcer... Uma coisa bem feia de se ver... Mas no fim foi embora, então deve ter ficado bem.

Confiram também: Parte II - Parte III

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Oração ao Amanhecer

Pela diária luz primeira aos meus olhos,
Que me garante a certeza da vivência,
Valha eu todos os meus dias.

Que desde meu despertares sobressaiam
O entusiasmo pelo novo à inanimada rotina adquirida,
A ternura de um bem-viver à impertinente maledicência corrosiva,
A compreensão verdadeira à imposição intolerante,
A pacífica temperança à violenta ignorância,
A beleza das coisas aos meus olhos míopes.

Que não me mova a vida, mas que eu a escreva.
Que não venha a sorte, mas que eu conquiste meu mundo.
Que não me roubem os obstáculos, mas que eu os transpasse levando comigo cicatrizes para nunca os esquecer.
Que não me prostre a vida diante da minha infinidade, feito mosca em uma vidraça engordurada de um sufocante apartamento, mas que me permita andar meus caminhos, abrir minhas picadas, encarar minhas encruzilhadas.
Que não aja apenas o verbo, mas aja eu com o verdadeiro sentimento de estar vivo.




terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Travei!

Pessoal, não sumi não... É que estes dias têm sido corridos, algumas mudanças (boas) por aqui e, para ajudar: travei!


Devo estar naqueles períodos de "bloqueios" nos quais não sai nada da cumbuca. Não consegui nem desenvolver algumas ideias anotadas... Bom, neste caso, forçar é pior... Então, vou segurar mais esta semana e devo estar na ativa na semana que vem...

Abraços...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Carinho (O Fim)

Nem pelo cansaço e nem pelo cotidiano se fina o carinho,
Porque são incansáveis os carinhosos
E insatisfeitos os carentes;
Mas sob o lento sufocar dos interesses mútuos
Pela crescente supremacia, inquestionável,
Àquele que já tem o que um dia precisou.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Enjeitado

Depois de algum dia após dia,
Simplesmente sem o mais e sem o menos,
Não como punição,
Mas pela não mais necessidade
Diante da satisfação própria,
Após ter adormecido em lençóis de seda,
Acordou jogado numa sarjeta suja,
Enjeitado, sem nem uma carta de despedida.