segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Concretização do "Desce Mais Uma!" - Feliz 2010

Estava aguardando algumas definições para dar essa notícia e também achei o momento propício: o “Desce Mais Uma!” deixará de ser apenas virtual e se tornará um livro – e agora não tem mais volta!

SIM, meu primeiro livro!

Ao completar um ano de vida, meus amigos Chacon e Robinson me infernizaram com a ideia de aproveitar o embalo e publicar os textos deste primeiro ano; pois bem, dei ouvido a eles e aqui estamos, a alguns passos desta publicação e grande momento para mim.

Trata-se de uma árdua produção independente com a conclusão estimada para o início de fevereiro de 2010. Como não poderia deixar de ser, e seguindo a sugestão do José Manuel, o “lançamento” será feito em um bar! Isso mesmo, vamos literalmente concretizar o “Desce Mais Uma!”. Ainda não há uma definição da data e local, mas estamos na luta e assim que eu tiver mais informações, comunicarei a todos vocês, pois já são meus convidados!!

Este é meu primeiro livro, apenas o primeiro! Não é um item da lista das dez coisas a se fazer antes de morrer; isto é a realização de um sonho, não um sonho de ano novo, mas um sonho de uns quatro anos velhos – ou mais! Este ano está no fim, mas sempre existirá tudo de bom e ruim que nele aconteceu. A vida é um acúmulo de eventos, de coisas – agrupadas em anos – que são tidas como boas ou ruins dependendo da forma que as encaramos, que as enfrentamos e que as recebemos. Nada se apaga com o fim deste ano, nem nada nascerá do nada no novo ano. Enchamo-nos de esperanças para tornar a vida melhor, façamos simpatias, rezemos, levantemos, lutemos, dancemos, celebremos e nos abracemos, juntos, durante o todo dos nossos próximos anos; não amaldiçoemos tudo o que vivemos naqueles que terminam, mas usemos o tudo a nosso favor e envelheçamos sabiamente, pois esse tudo é o que realmente somos. Os anos vêm e vão, a vida é única e contínua.
Somos nós que mudamos o calendário, não o contrário!

Agradeço a todos vocês que me apoiaram e me acompanharam durante a concretização de mais este sonho! Têm sido fundamentais!

Um ótimo 2010 para todos nós e uma excelente continuação da vida! Brindemos!!

Beijos e Abraços,

Rafael

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Feliz Natal!!


A todos os amigos, visitantes, seguidores, fregueses e navegantes (inclusive os que erraram o endereço e caíram aqui): um Feliz Natal! Que esse breve "tempo de paz e alegria" impregne em todos nós e passe a ser regra vivida e, quem sabe, apenas nos referenciaremos aos “tempos de tristeza e indiferença”.





Feliz Natal! O bar está aberto e o Papai Noel acabou de sair, sem pagar a conta...


Do site Drunk Santa , visitem e assistam aos outros!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sonho Vivido

Uma vez tive um sonho!
Não como um sonho matinal que vem com o anúncio de um novo dia ensolarado,
Mas um sonho formado aos poucos, pelos detalhes, pelas faltas e pelas vontades, fundamentado em mim.
Um sonho idealizado, tratado como bobagem por aqueles a quem um dia, estupidamente, o confidenciei.
Um sonho de menino, um sonho de sonhos, um sonho de livro, um sonho sonhado para ser vivido.

Sonhei com um lugar onde havia ouvidos que me ouviam atentamente;
Onde havia uma boca que me falava das coisas novas e das coisas de ontem;
Onde havia mãos para eu tocar, segurar quando trêmulas, e repousar em meu peito nas frescas noites de verão;
Onde havia um corpo ao qual eu me condenava, cuja simples existência me permitia existir, por completo, por mim mesmo, eu mesmo, comigo mesmo.

Sonhei com um lugar onde eu podia ser o meu eu mais profundo que nem mesmo eu conhecera.
Não apenas sendo, mas sendo da mais pura forma, espontâneo, sem pudores, totalmente acelerado, totalmente alucinado, a toda intensidade e totalmente desprotegido, me compondo.

Um lugar onde o mundo parava e nenhuma importância existia para o resto – não havia resto.
Um lugar que eu podia visitar sem avisar, por simplesmente ser bem-vindo, bem-quisto.

E num dia desses, um dia comum, mais um, um dia, eu saboreei esse sonho!
E o fiz de boca cheia, da forma mais intensa, entregue e completa que pude.
E mesmo durando apenas um instante, foi suficiente para talhar em mim cada segundo, cada momento, cada cheiro, cada gesto, cada sensação, cada respiração, cada olhar, cada tudo.

Mas sou insatisfeito por natureza
Não me contento com pouco – talvez um pouco com o todo!
Quero mais! Muito mais! Mais!
Quero me lambuzar desregradamente, me empanturrar, me entorpecer, me perder, transbordar, pecar!

Mas enquanto a hora não chega – se chega – vou criando novos sonhos,
Vivendo-os, um atrás do outro, feito um louco, deixando pelo caminho uma trilha de sonhos inventados e vividos.
Sonhos inventados e sonhados pelas minhas vontades, pelos meus desejos e pelas minhas ambições;
E os vivo não por covardia ou mediocridade na concepção, mas porque quero!

sábado, 12 de dezembro de 2009

Inconsistências no LiveStream da Multipoesia

Olás!!

Agora sim! Meu vídeo Inconsistências foi adicionado ao LiveStream da revista italiana MultiPoesia. Agora pode ser visto também neste canal de TV via Web voltado à poesia mundial.

Abraços.....

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Carta ao Inimigo

Querido Inimigo,

          Há muito não conversamos e nem mesmo seus passos tenho mais seguido. Prometo me redimir e tomar as rédeas da nossa situação que precisa de uma definição.
          Para seu deleite, as coisas não têm andado muito bem por aqui. As últimas circunstâncias exaltam verdades que merecem ser ditas a você, ao menos por justiça. Não sei ao certo se é pela nossa posição ou pela sua má índole – mesmo nos conhecendo como conhecemos, não consigo, ainda, entender de onde vem tudo isso –, mas vejo que entre nós se firma uma das mais claras e verdadeiras relações que já se viu ou se ouviu, algo realmente invejável. Sim, invejável e por muitos, acredite só. Claro que isso é assim agora, pois sabemos muito bem como era antes. Mas deixemos de lado essa conversa de lado, o que está feito está feito.
          Mas é engraçado ser dessa forma apenas com você. Estou falando desta transparência que temos um para com o outro. Sem dúvida alguma, nos odiamos, nos detestamos e queremos o mal um do outro, simples assim. E este é o ponto: não há dúvidas! É claro a forma como vemos um ao outro e tratamos a situação de hoje. Não é um ódio disfarçado, não é algo ofuscado, turvo. Não é um rancor com pitadas de carinho ou piedade que podem se alternar a qualquer momento. É o velho e destrutivo ódio! Puro em sua essência!

          Ao contrário disso, as pessoas por aqui precisam ser temidas. Não porque não nutram sentimentos benévolos, mas justamente por os nutrirem por serem, digamos, necessários. Isso é um perigo, o pior dos disfarces, peço que saiba! Não há como saber o que está por vir destas pessoas. Não há como entender o que é pleno nelas por nós. Não há como se permitir a isso. É uma alternância de estados que me dá repugnância só em pensar. Não se trata de uma alternância constante, mesmo porque é impossível alguém se submeter a ela; é extrema entre os extremos e avassala quando se revela e é quando nos pomos a correr, caso ainda nos reste algum chão. O mesmo sorriso que cativa é o que se apresenta sarcástico durante a queda; a mesma mão que acalenta é a mesma que espanca e apunhala pelas costas; os mesmos lábios que beijam e anunciam o grande encontro, as grandes promessas, são os que nos humilham e rebaixam ao mais lamentável nível da incompreensão e delatam nossas mais temidas fraquezas depositadas em confiança no coração tão amável e bondoso, como outrora apresentado, que agora, empolgado, retumba uma quase marcha fúnebre para nos encomendar.
          Acredito que as coisas caminhem da mesma forma para você. Pessoas que são caridosas, de bom coração e publicamente admiradas, mas que já na superfície do âmago se revelam traiçoeiras egocêntricas e sem escrúpulo algum. Abra os olhos! Esse é um jogo complicado e perigoso, pois não dá para se saber quem são os inimigos; ainda mais quando se apresentam como amigos, pessoas queridas, sonhadas. Não dá para fugir da própria sombra, mas dá para mantê-la a certa distância. Por isso digo que nossa relação é uma das melhoras, uma das mais verdadeiras que se firmou e agora, pensando bem, acredito que seja pela situação.

          Isto tudo é apenas uma constatação que achei justo compartilhar com você, uma vez que faça parte integral; contudo, não se trata de nenhum tipo de reaproximação – espero que isto também esteja bem entendido.

          Ademais, fico por aqui desejando que tudo vá bem consigo e que tome estas palavras como um aviso para que se mantenha bem, pois pretendo ser o único e completo responsável por todo castigo que você merece – acredite!

          Sinceramente seu, Remissor.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Encantadoramente Passageira

Foi mais cedo, a última vez – o mundo ainda se aquecia quando cheguei à plataforma.
Em minha espera, no mesmo instante em que imaginava como seria incrível e impossível encontrá-la mais uma vez,
Senti-a flutuando às minhas costas, quase despercebida, em seu encantador bailar.

E pela terceira vez naquela semana, as folhas do livro, novamente ignorado em minhas mãos, viravam-se descontroladas ao vendaval do trem que urrava túnel a fora.

Seus cachos dourados apenas balançavam, gentilmente, como que acariciados,
Úmidos e únicos moviam toda a paisagem.

Seus olhos claros, amendoados pelo amanhecer arrastado e reluzentes como em uma manhã de verão à beira da praia,
Lançavam um olhar penetrante e sedutor, indiferente ao que se passava, a mim;
Mas que me incendiava por dentro, fervia o sangue e descontrolava os nervos.

Sua boca parecia pintura de ligeiras pinceladas geniais,
Com lábios suculentos, deliciosamente prolongados até róseas maçãs delineadas,
Um conjunto especial resguardando um afilado nariz atrevido.

Seus dedos finos e delicados compunham mãos cuidadosamente desenhadas,
Frágeis, de menina, capazes de afagar com pureza;
Firmes, de mulher, que me rasgariam insanamente as costas.

Seu corpo esguio, de medidas ponderadas, completava a leveza e derramava a intensa sensualidade das formas dionisiacamente moldadas, e sensualmente reveladas por leves e comportadas vestes despropositadas.

E novamente, em meio a tudo, me encontro empurrado vagão adentro,
Violentamente trazido a mim pela massa.
Plataformas, pessoas, vidas e planos se passavam, e ela ali sentada, aproveitando os últimos instantes de calmaria.
Eu, convenientemente posicionado a contemplá-la, a me insinuar, a imaginá-la e a desejá-la.

E me toma o desespero à chegada de sua estação, anunciada pelo desventurado condutor.
E como em um pesadelo adolescente, permaneço petrificado,
Apenas a contemplá-la, indo, por mais alguns passos a sumir na multidão.

[Suspiro]
Bem, voltemos...
Página 136? Não, não...
Ah, 138... Isso!

Droga, não fui ao banco!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Desenformado

Este texto foi minha primeira publicação no Rasuras.

Foram tantas as fôrmas que me são sinicamente presenteadas,
Sob os mais diversos disfarces e nomes,
Preparadas pelos alheios desejos, vontades e sonhos frustrados de vidas suspensas pelo comodismo justificado por um divinizado conformismo,
E que são ridiculamente impostas por acuações emocionais.

Fôrmas às quais deveria me submeter para que as minhas formas atendam os movimentos, os resultados, os passos e os comportamentos formulados por expectativas que guiam planos de vida traçados e postos em execução sem minhas concessões,
Que desconsideram, inclusive, as minhas vontades, minhas loucuras, minhas manhas, minhas frescuras.

Formas assumi das fôrmas que entrei, porque quis; também as rejeitei e a elas retornei, porque sim!
Não me trato de uma metamorfose, ou de uma rebeldia desvairada contra vida; ao contrário, apenas de uma apaixonada loucura pela vida, como eu quiser.
A cada passo faço meu caminho, guiado apenas pelas minhas vontades, que desalinham planetas, embaralham cartas, desorientam anjos e multiplicam números.

Sou a mancha que encarde a melhor das camisas,
Sou a rasura que incomoda no canto da página,
Sou a pequena nuvem grossa no céu azul de uma quente tarde de domingo,
Sou errante, inesperado, inconveniente; livre para mim e feliz de mim.

Àquelas fôrmas, deixo minha arrogância;
Aos seus proponentes, o meu sarcasmo;
Aos enformados, os meus pêsames.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Música: Por que gosto tanto? [Vencedora do concurso de redações do Culturando]

Há algumas semanas, a Odila Góes Araujo Pinto promoveu, em seu programa Culturando da Rádio Cidade de Santa Gertrudes, um concurso de redações sob o tema "Música: por que gosto tanto?". Participei e muito felizmente ganhei!

Além do texto, compartilho com vocês a página do jornal de Santa Gertrudes com o anúncio do resultado do concurso.

Eita colheita boa!!

Abraços a todos...

* * *

Música: Por que gosto tanto?

Não me recordo quando a música entrou na minha vida e muito menos de algum momento em que ela não tenha estado. Lembro das primeiras, digamos, experiências com músicas. Foram aquelas infantis da escolinha e de programas de televisão para crianças. Música era diversão naquela minha época, não havia como ouvir e não rir, pular e brincar. Mas um empurrãozinho materno virou os ouvidos para estilos diferentes e um novo mundo fora criado. Com o tempo se passando as coisas começaram a tomar rumo e os estilos a serem definidos e fundamentados em mim – ou eu neles? Vai saber!

Refiro-me a uma definição gradativa que era restrita pela disponibilidade, costumes e preconceitos. Mas ao caminhar, as angústias, os anseios, os eventos da vida se fortaleceram, tomaram as rédeas e assumiram o controle, transformando tendências e experimentos em gostos, selecionando os estilos e musicalizando minha personalidade.

E nesse caminho, a música deixava de ser apenas um lazer pueril e tomava uma amplitude considerável, tornando-se uma atmosfera para a vida, não mais um pano de fundo, mas de meio que a permeia, se entranha. E o fez de tal forma que hoje é a melhor ferramenta que me liga ao meu passado. Muitas são as músicas que ao ouvir – ou simplesmente ao lê-las na contracapa de um álbum – me trazem imagens, sensações e sentimentos de uma forma tão intensa que reduz a distância de tempo e transforma em labaredas pequenas chamas que se quer sabia que ainda existiam dentro de mim.

Muitas foram as frustradas tentativas de compreender os significados das músicas – algumas vezes pelo ímpeto de fã que quer personificar seu ídolo, outras por atentar-se para o que era dito e não apenas por um conjunto de sons. E as frustrações apareciam diante da constatação de absurdos, de faltas de nexos, de heresias e até por simplicidades inaceitáveis, que também colaboravam para colocar em dúvida o valor dos próprios músicos e até a punir alguns deles de serem exibidos no toca-discos. Mas a música deixa de ser um pano de meio para tornar-se vestimenta de noites de sábado quando, com o tempo, vem a verdadeira compreensão que me dá todo o sentido: o verdadeiro significado não está apenas na letra da música, na intenção, no momento ou no comportamento artista, mas no efeito que é gerado em mim diante da música, no que ela significa para mim, no meu momento, no meu modo de ver e viver. E é nesse momento que passo a entender o que certas pessoas – até então doidos – faziam parados diante de telas borradas aleatoriamente por duas ou três cores de tinta: arte! Momentos, efeitos e intenções diferentes, ou até iguais, entre criadores e expectadores.

Das artes, música é a que permite a maior carga de expressão de seus criadores e a que mais é absorvida, digerida e incorporada pelos apreciadores inveterados de todos os tipos. Música representa, influencia, define, relembra, revive e, posso dizer, toca a minha vida!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Inconsistências (texto se mexendo!)

Desde o chamado feito pela parceria "Ítalo-brasiliana" para participação do Livestream da revista Multipoesia, ideias e tentativas não faltaram para tentar compor a primeira mistura de palavras, imagens e sons para participar con gli amici italiani.

O resultado incerto é o experimental vídeo "Inconsistências" que pode ser visto a seguir e está sendo adicionado ao Livestream da Multipoesia. O texto em português segue logo abaixo.

Vamos ver no que vai dar essa nova "empreitada"!

Abraços......



* * *


Há muito barulho, muita falação, conversa fiada.
Palavras escarradas à cara sob o pretexto do serem ditas pelo coração.

Promessas deliciosamente declamadas, sedutoras, que encantam e inspiram,
Que fundamentam planos de vida, que orientam a vida;
Mas que já nascem mortas, mortas na língua.

Sorrisos apresentados como espontâneos, rasgados, que completam a paisagem e reforçam a cumplicidade.
Afagam o coração e regam o chão duro da caminhada;
Mas que riem os movimentos seguintes, os frutos a serem tomados, lambuzados, ignorando a crueldade do golpe.

Abraços aconchegantes oferecidos com toda dedicação e companheirismo, aos quais são derramadas dores, mágoas e temores, expondo a mais deplorável fragilidade;
Mas que só garantem o ludíbrio da caça, mantendo-a próxima ao matreiro caçador que a ceva e a prepara para ser facilmente abatida e ridicularizada.

A indiferença vaga ardilosa pelos becos escuros da falsa cumplicidade premeditadamente proposta,
Que abre o caminho às mais vulneráveis feridas latentes, por onde invade e se entranha, tornando-se parte inseparável, câncer.
E é quando os sonhos se tornam reais, quando a realidade se torna deleite, que ela mostra sua cara e tudo aniquila de dentro para fora.
Corrói, destrói, desgraça, estraçalha e parte sem ressentimentos, exalando a consciência tranquila fundamentada em uma verossimilidade profana fruto de um justo apresentar-se por completo, como realmente o é, mas como nunca o foi.
Então parte às gargalhadas, completa, enriquecida; deixando para traz os cacos de uma vida estilhaçada, espalhados por onde um dia bailou.

Chega, cansei! Estou voltando para casa!


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Rasuras: a expansão da parceria luso-tupiniquim

Eta semana boa!!

Para encorpar o ciclo de boas notícias, anuncio a concretização e expansão da "parceria luso-tupiniquim" iniciada com o amigo Manu (vide post Blog do Manu: Uma Parceria Luso-Tupiniquim): nesta semana entrou no ar o blog "Rasuras".

Rasuras é um um blog coletivo composto por amigos brasileiros (eu) e portugueses com o objetivo de promover um amontoado de bons textos de diferentes estilos e visões independentes.

Mais uma vez, convido a todos a visitar e acompanhar o crescimento do Rasuras e, também, o trabalho dos demais amigos escritores!!

Um grande abraço,

Rafael

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Siamo nell'Italia!!

Olás!!

Nesta lida de escritas, uma das grandes recompensas à dedicação que presto ao meu trabalho é poder conhecer as reações e efeitos transmitidos e recebidos por aqueles que me acompanham, ou simplesmente passam para uma visita. São diferentes sensações, opiniões, interpretações e reações diante de textos que nascem de ideias ou momentos totalmente às avessas. Poder interagir e acompanhar esta troca é incrível.

Mas, ainda, existem momentos em que o reconhecimento deste trabalho extrapola a família, os amigos, a cidade, o estado, o país e o continente. Mais uma vez, posso dizer com uma grande felicidade e satisfação, que o "Desce Mais Uma!" foi homenageado no blog "Blanc de ta Nuque" do amigo italiano Stefano Guglielmin, que preparou um maravilhoso e gratificante post com três textos fidedignamente traduzidos e um grande complemento biográfico.

Convido a todos a visitarem o blog do Stefano e conferir essa homenagem, no link abaixo, que gostaria de dividir com todos vocês!

Homenagem no "Blanc de ta Nuque"

Saluti a tutti... e grazie Stefano!!

Rafael

sábado, 24 de outubro de 2009

Adorável Psicose

Olás!!

Nesta Blogosfera encontramos diversos trabalhos que valem muito a pena acompanhar. Esta semana encontrei um blog muito, mas muito divertido, com um humor muito inteligente acerca do dia a dia das psicóticas - ops, quero dizer, mulheres!

O blog Adorável Psicose é mantido pela Natalia Klein, que é redatora do programa "Zorra Total" e, segundo ela mesma, uma psicótica!

Visitem, vale muito a pena, estou rindo até agora...

Abraços,

Rafael

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Mansa Morada

Foi depois de muito trotar, de em encruzilhadas nos assustar, de valetas desviarmos, de riachos nos saciarmos e de novos caminhos arriscarmos, que avistamos a casinha.
Já não era mais mata do Caju, nem a do Bourbon e muito menos o Morro Alto.
Apressei-me nas rédeas e ela no galope ligeiro e macio, erguendo poeira na subidão batido.
Parou sozinha à entrada e, ainda sem fôlego, pôs-se a lamber o colonião maduro, como se eu lhe tivesse sussurrado onde eu pretendia apear.
Apeei!

Era meados de julho e já ventava como agosto,
O sol era esbranquiçado e morno, a sombra gelada como só lá.
O vento era seco e incessante, me arranhava gentilmente o rosto, ardia as narinas e ressecava a garganta,
Resfriava o suor do peito meu e do lombo dela – como tanto gostei e há muito não podia.

A casa já não tinha pintura, mas rachaduras.
As telhas se escoravam sacolejando umas as outras,
As janelas estavam podres e não mais preenchiam como antes.
Tijolos quebrados e desarrumados, cobertos por um grosso e gelado tapete de musgo velho, a circundavam revelando o que já fora um tímido calçamento.
O silêncio era atropelado apenas pelo colonião alto e denso que dançava e cantava ressecado ao balanço do vento, rodeando a grande paineira e preenchendo o vazio entre as paredes e os mourões frouxos que um dia recostaram cercas.

A sala era pequena e suja, mas aconchegante.
Restos de cortinas ainda pairavam sobre as janelas.
Uma estante larga e empenada, rejeitada pelos cupins, dividia o espaço com a velha cadeira de repouso de pano comido pelo tempo, sobre o soalho histérico.
Na cozinha, o velho fogão à lenha e a pequena pia de pedra estavam cobertos por poeira e ciscos de cana queimada.
Um pequeno banheiro à moda antiga fazia companhia ao único quarto,
Onde jazia uma velha cama de colchão de palha mofada e deformada.

Foram meses e meses de trabalho pesado, calos novos, feridas velhas e o mesmo eu:
As telhas foram recolocadas, o calçamento aprumado e o musgo raspado.
O colonião virou trato e estofado, a cerca remendada, e uma baia levantada.
As poeiras renovadas, os ciscos assoprados – ao menos até a próxima safra.
As tábuas repregadas, as janelas rematadas
E os restos das cortinas remendaram a velha cadeira, onde agora descanso.

Descanso em paz na entrada, sob a sombra da paineira,
Com minha xícara de café e o cigarro apagado,
Perdido no gélido entardecer alaranjado,
Sentindo no rosto outro vento julino – ou talvez agostino – que me presenteia com todo o meu passado temperado pelo saboroso cheiro da cana jovem.

A cama já está confortavelmente pronta, os lampiões cintilando abastecidos,
E a chaminé denuncia calmamente o fogão acordado que ainda mantém quente o feijão encorpado
Para, quem sabe, alguém que resolva se achegar, ao menos para o jantar!



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Inútil Busca Eterna

Foi em busca das minhas planícies verdejantes,
Dos meus vales intocados,
Dos meus aconchegos prometidos,
Dos meus desejos insaciáveis,
Das minhas metades separadas no banquete,
Das minhas vontades insanas,

Que cruzei desertos escaldantes,
Desbravei florestas amaldiçoadas,
Movi montanhas, abri mares,
Atropelei pessoas – eu mesmo –,

Lancei bombas, derrubei exércitos,
Levei a fome, alimentei,
Machuquei os que curei – e curei –,
Aqueci os friorentos e então soprei e cuspi,

Invadi os infernos,
Revirei os céus,
Trapaceei os demônios,
Negociei com os arcanjos,

Revirei túmulos,
Chorei às igrejas,
Ri, causei e senti as maldições,
Vinguei-me de mim mesmo as minhas desgraças!

Mas foi ao me arrebentar, atirado montanha abaixo,
Estirado sobre a pedra, de bucho rasgado,
Que encontrei, escondido nas minhas entranhas verdes e latejantes,
Desajeitadas em minhas mãos mortificadas, o que tanto procurei: Eu!


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Visionário

É bonito aqui na praia, não é?
Estava calor hoje, muito; mas agora está bom.
O sol está se baixando e o vento é fresco.
As águas estão calmas, olha, olha os barcos voltando!

Olha o céu! Não é mais azul, está alaranjado.
Não, róseo. Não, é quase roxo. Ah, são muitas cores.
E esse vento? Que sensação, me leva o cansaço e me refrescam as gotículas.
Tantas lembranças boas! Sinto-as!

Veja as aves aos bandos. Estão brincando, não estão?
Acho que estão fartas, veja! Não, ouça! Ouça como cantam, como gritam!
Estão voando em círculos, não estão? Que nada, estão se divertindo!

Aposto que você não esperava por isso, não é?
Eu não! Era para ser apenas mais um dia longo e cansativo.
Veja como tudo mudou e tornou-se agradável,
Até sorrio, está vendo?

Mas o que estava eu falando, mesmo?
Ah sim, lembrei! É que...

Ué!
Cadê você? Onde se meteu?

Mas...
[Olhando para trás, vê apenas as suas pegadas, por todo o caminho.
Senta-se e contempla incrédulo o velho estofamento amarelado das paredes.]


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Diferentes Nomes

Chamem-me de ignorante se não consigo entender os limites que me são impostos,
Os sinais que estão ao redor ou simplesmente por fechar os olhos para o que não me convém.

Chamem-me de teimoso se insisto em rondar as mesmas armadilhas,
Me embrenhar pelos mesmos caminhos e querer as mesmas coisas que me são negadas.

Chamem-me de errante se no fim, arrebentado e calejando, volto ao mesmo ponto de partida,
Trêmulo e fraquejado, levantando com dificuldades para um novo tudo de novo.

Chamem-me de egoísta se me calei, se decidi manter o eu em mim e dele apenas eu cuidar,
Por não poder ou não querer compartilhar aquilo que importa para mim e que, no fim, é conto, piada.

Chamem-me de moleque se me perco em meus sonhos, meus ideais e minhas sensações que transbordam de mim.
Meu coração ainda dança, canta e ri a minha vida!

Chamem-me de fraco se me entristeço, se sofro minhas dores ao invés de ignorá-las – despreocupem-se, já são somente minhas.

Chamem-me de imbecil se depois de tudo ainda escrevo e me firmo nesse meu caminho,
Mas jamais, jamais, me chamem de covarde – jamais!
O que não me falta é coragem para continuar minha caminhada em busca de tudo aquilo que realmente me importar, que me completar, que me fizer.

Invejem-me ao me verem, em meio a tudo, ainda arrebentado, caminhando a passos largos, peito enorme às gargalhadas e coração em paz, rumo a mim mesmo.

Assoviemos!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vida Falada

Já me disseram que o Papai Noel não existe,
Que o coelhinho da páscoa também não.
Já me disseram que ser criança era melhor que ser adulto,
E que quando fosse adulto iria querer ser criança.

Sempre me disseram que eu era novo demais para aquilo que queria fazer
E que tudo que queria fazer era perigoso.

Já me disseram que o mundo antes de mim era muito melhor,
E que no meu tempo tudo estava mudado, perdido.
Já me disseram que Deus me puniria diabolicamente se eu não fosse bom,
Que o Brasil não teria mais jeito e que o mundo iria acabar.

Também me disseram que a vida é bela,
Que tudo nela está reservado pelo destino.
Que a vida é fácil e nós a complicamos
E que a felicidade está sempre aí e nós lhe damos as costas.

Já me disseram tantas outras autoajudas.

Alguns me disseram que o amor é uma pedra rara, real, eterno e indefinível;
Outros disseram que o amor é entrega plena, cruel e perpétua ao amado;
Outros, ainda, que eu nunca soube o que é amar.

Já me disseram que me amavam, que eu era algo bom e único - horas antes de partirem ou me pedirem para sumir.

Já me disseram que as pessoas são boas,
Que o bem sempre prevalece sobre o mal.
Já me disseram também que tudo passa, que tudo vai melhorar. [Por si só?]

Já me disseram tantas mentiras, tantas hipocrisias e tantas outras porcarias pré-fabricadas que em nada mais acredito.
Não me importam: canto a minha vida e rio para o resto!

Quer saber? Vou para o bar...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Blog do Manu: Uma Parceria Luso-Tupiniquim

Durante o árduo trabalho de divulgação do “Desce Mais Uma!”, me deparo com blogs de de muitos interesses e conteúdos alinhados. Nestes dias encontrei o blog do lusitano amigo Manu "MANULOMELINO". Manu tem uma ótima iniciativa em seu blog: além de divulgar seu trabalho, ele busca e divulga outros trabalhos literários em língua portuguesa que encontra pela internet. Torna-se um ponto de extrema importância na tão dita Blogosfera, apoiando a divulgação dos nossos trabalhos. É agradável a constante visita ao blog do Manu para conferir seus achados.

Esta semana o “Desce Mais Uma!” foi gentilmente referenciado no post Poetas da blogosfera e não só”.

Estabelecendo esta parceria luso-tupiniquim, convido a todos a visitar o blog do Manu e conferir suas indicações.

Um grande abraço a todos,

Rafael

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Amigo Mario Gomes propõe: "Paixão"

Palavra que gramaticamente é tão pequena, mas que trás em si um significado imenso
Muitas vezes, ela se porta de maneira traiçoeira, pois, na maioria das vezes, chega sem avisar,
Não pede licença nem nos prepara para o que virá,
Nos proporciona momentos memoráveis e inesquecíveis,
Faz-nos de bobo e muitas vezes menino.
Ganhamos consciência de que gestos pequenos podem significar coisas imensas,
E o inverso também acontece transforma coisas gigantes em pequeninas
Deixa-nos ao bel prazer da causadora da paixão;
Muitas vezes nada pede a não ser um pouco de atenção.
O que faço contigo paixão...

A você coração...

Por Mário Gomes

"Desce Mais Uma!" no Twitter

Olás!

Considerando as necessidades de divulgação do "Desce Mais Uma!" e as novas ondas tecnológicas disponíveis, resolvi tentar o Twitter para divulgação dos eventos relacionados ao blog.

O endereço é: http://twitter.com/rafaelcastellar ("descemaisuma" já está sendo utilizado).

A idéia é abrir um novo canal de comunicação e nunca substituir os existentes. Assim, este blog continua sendo o ponto central dos eventos e evoluções do meu trabalho.

Vamos ver no que dá! Acompanhem...

Abraços a todos!!

Rafael

terça-feira, 8 de setembro de 2009

De Volta ao Fim do Mundo

Está acontecendo de novo, já vi esse filme e não quero ver de novo.
Quero voltar, para tudo, vou descer!
Não, não adianta me dizer que não; está tudo errado.
Chega desta mesma velha história, tão cansada, tão batida – não pode ao menos inventar algo novo?

Aqui estou eu novamente: quilômetros, quilômetros e quilômetros longe de casa,
À beira do fim do mundo, no escuro, bem onde fomos parar.

Pode ir, não precisa olhar para trás, sei muito bem como fazer, sei como funciona.
Apenas vou tomar um fôlego, enxugar meu rosto e pegar meu rumo de volta – de volta não sei para onde.
Casa já se tornou um abstrato e se ainda houver algo de concreto, são escombros dispensáveis.

Para que tanto me pedir para não lhe deixar, para não lhe esquecer, para não lhe faltar, para sempre lhe desejar se no fim é você, de lábios ainda molhados, corpo suado e alvo definido, quem vira as costas no primeiro obstáculo e de alma leve me faz engolir tudo a seco?

Chega desse jogo ridículo.

Sempre a mesma coisa: acordar num dia escuro e chuvoso, sozinho no meio do nada e de tudo, com o corpo enjoado, a cabeça doendo e ver suas promessas, seus carinhos, seus sorrisos deslizando pueris no céu às gargalhadas sob desculpas esfarrapadas que espedaçam nossos sonhos e não merecem o mais medíocre questionamento vazio.

Voem, voem para longe, voem para o nunca mais!
E levem consigo suas piedades e suas boas resoluções e as escondam debaixo da mais alta e assustadora montanha, pois nem os infernos as merecem.

Eu gostaria de poder parar, gostaria de ter para onde voltar e nunca mais acreditar.
São muitos anos, muitas vezes, muitas mentiras, muitos lugares, muitas dores, tudo em vão!

Daqui continuamos eu e minha sombra!
Apenas seguirei o meu caminho, não importa para onde.
Habitarei em mim e serei meu mundo até a hora que eu me quebrar e não mais me levantar.
Até lá, quanto mais mal resolvido, mais eu!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Exilada da Vida

Vê mulher, não sei por que insiste!
Pega seu caminho e vai! Não é bem quista aqui, no mundo.

De que adiantou mendigar a comida?
De que adiantou contar todas essas histórias tristes e sem nexo?
Para! Basta!

Que importa onde está sua família ou seus filhos?
Que importa quem lhe deixou e tudo lhe tirou?
Que importa seu sofrimento, sua vida?

Não vê que a ninguém importa?
Ninguém lhe quer por perto?
Nem piedade mais lhe dão.
Você está suja, você suja!

Você é um borrão na paisagem,
Um estorvo que anda, pegajosa, evitada.
Você desurbaniza!

De que adiantou lhe pagarem a refeição se não é digna de recebê-la? Não vê?
Agora corre aos prantos e desespero pelo meio fio feito ratazana enxotada pela cadela de guarda.
Volta para seu buraco e se contente com as migalhas magras e sujas que conseguir junto aos seus.

E não mais insista. Está marcada, condenada.
Se esconda para sempre dos olhares, pois ao mundo já não é mais bem-vinda!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Insônia

Numa noite dessas, em que tudo o que foi tão carinhosamente preparado para o desfrute e vivência das promessas que se concretizavam a cada dia,
Personifica-se a negação a pôr abaixo tudo aquilo que poderia ser futuro. Um futuro.

Após o atropelo, impotente, o corpo se entrega cansado e os olhos se fecham – por obrigação – e a mente não cessa.
Castiga o todo com um turbilhão de pensamentos, angústias e dúvidas que arrebatam o que restava de talvez.

A cama torna-se um enorme tablado farpado.
O travesseiro se enrola a sufocar a vida.
O relógio faz greve e o cobertor trai.

O silêncio da madrugada irrompe por todos os cantos e frestas
Trazendo consigo os mais impensáveis e insuportáveis ruídos e sensações.

Ouve-se à distância o bater descontrolado do coração inconformado,
Enoja-se às histéricas reivindicações abdominais,
Enfurece-se ao ranger arrepiante dos dentes massacrados pela mandíbula nervosa,
Assusta-se aos jatos de sangue subindo zumbindo assustadoramente pela garganta,
Embaça-se a cega visão às lágrimas amargas que salgam os olhos inquietos,
Contorce-se o corpo dolorido aos músculos enrijecidos e incrédulos.

O tempo que tanto tudo cura, não passa – nem vem.
A mente que tanto guia, não volta, mas se diverte.
A escuridão só enegrece e apavora aos vultos e fantasmas que gritam e riem satisfeitos aos ouvidos.

E o pânico e a decepção entram em cena aos primeiros raios de sol que anunciam a realidade de um pesadelo a ser vivido
Por entre noites e dias, segundos e horas, lembranças e amarguras, sorrisos e lágrimas, esperanças e derrotas.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Adorável Proibida

Entre tantas quedas, negações, alegrias, decepções, conquistas e derrotas,
Você sempre esteve ali, graciosamente presente.

Não longe; perto, mas proibida – de tão completa, quase tocável.
Sorrindo de um jeito seu ao meu, através dessa parede de vidro.
Hora um passo atrás, hora um à frente, mas ali, no seu mundo.
Encantando-me com seu ser, com seus contos, me aguçando os sentidos,
Afogando minhas dores, meus lamentos e meus temores.

Ternos e inesquecíveis foram os curtos momentos em que nossos mundos se encontraram,
Entre desejos e quereres enrustidos e destratados.

Quisera eu, enfurecido e inconformado, por abaixo essa parede
E a você chegar com toda minha vontade – bicho-homem – e lhe tomar em meus braços, antes da mínima reação.
Trazer seu corpo ao meu, com força e jeito, sentindo seus contornos se moldando a mim.
Sentir seu corpo, trêmulo, perder o controle, enquanto lhe beijo com todo meu ímpeto e toda vontade aprisionada, transformando dois em um, fundindo nossas almas libertas!

Tomaria seu corpo e dele beberia sedento em um ninho qualquer,
Onde despejaríamos nossa incurável insanidade e se tornaria um leito invejável.
Seria mulher em mim, indomada, desejada, tomada, amada!

Mas ao quebrar essa parede, também levaria os meus cacos e meus espinhos.
E mesmo que lhe alcançasse, o seu mundo é que seria posto abaixo.

Ao invés da sua ausência, que perpetuem os desejos e os quereres.
Ao invés de suas lágrimas, que brotem seus sorrisos verdadeiros e encantadores.
Ao invés do sangue corrente em seu rosto, que paire, interminável, seu cheiro pelo meu ar.

sábado, 8 de agosto de 2009

Culturando em Santa Gertrudes: Presente de Aniversário!

Desta vez o provável se tornou fato! O melhor presente de aniversário que o "Desce Mais Uma!" poderia ganhar: estivemos ao vivo na Rádio Cidade de Santa Gertrudes!

Neste último sábado, conforme anunciado, o "Desce Mais Uma!" participou do programa "Culturando" apresentado pela Odila Góes de Araujo Pinto na rádio de Santa Gertrudes (107,9 Mhz - aos sábados das 10h00 às 12h00) e como eu estava por lá, pude participar e ler alguns de meus textos, sob um nervosismo descontrolado e sob o acompanhamento do Rodolfo Oliveira, do Anderson "Negão" Rodrigues e do João Guilherme Giniselli que estavam por lá mostrando como é que se toca um violão de verdade!

Mas chega de escrever porque esta postagem é para ser ouvida. Seguem alguns trechos selecionados. Foi muito bom!

Abertura (Odila e Rodolfo)


Apresentação (João Guilherme e Anderson "Negão")


Saudades de Lá de Casa (Anderson "Negão" e eu)


E Se...? (Eu)


Paraíso Meu (João Guilherme e Anderson "Negão")


À Deriva (Odila)


Até Logo (Odila, Rodolfo, João Guilherme, Anderson "Negão" e eu)


Agradeço imensamente a Odila e toda equipe da Rádio Cidade de Santa Gertrudes por esse sensacional presente! Foi um prazer memorável poder participar do "Culturando" e divulgar meu trabalho na minha terra!! Muito Obrigado!!

Rafael

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"Desce Mais Uma!", Culturando em Frequência Modulada Gertrudense

Durante dezoitos anos, Santa Gertrudes tinha as notícias e eventos veiculados através do jornal "O Arauto" - lembro muito bem da seção de recadinhos, a primeira a ser lida em busca de um recado de uma admiradora secreta. Odila Góes de Araujo Pinto foi a matriarca redatora, corretora, fotógrafa, escaneadora, agente de publicidades, diagramadora, enfim, "O Arauto" propriamente dito. E por trás disso tudo estava a grande intenção de plantar o interesse do nosso povo em ler grandes jornais.

Hoje, Odila mantém um programa na Rádio Cidade de Santa Gertrudes, intitulado "Culturando", que é apresentado todos os sábados das 10h00 às 12h00) e pode ser acompanhado via internet no endereço www.radiocidade107.com.br.

"Apesar de duas horas, o tempo parece-me que fica curto para tudo o que eu gostaria de fazer." - nos conta Odila que ainda acrescenta leituras de poemas, programação cultural e dicas dos bons compositores. Os ouvintes participam ativamente pedindo músicas ao único programa MPB da nossa rádio.

É com extrema satisfação que informo que a partir deste sábado, alguns dos meus textos serão lidos no "Culturando", em frequência modulada lá na terrinha!!

Convido aos que estiverem sob nossas ondas, a nos acompanhar nos 107,9 MHz, e aos que estiverem longe, pelo site: www.radiocidade107.com.br.

Um grande abraço,

Rafael

P.S.: Ainda, há a possibilidade de eu me juntar à Odila neste sábado, ao vivo!!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Sagrada Refeição

O sol já passava do meio do mundo quando ele retomou os ingredientes, disposto a cumprir a tão espedaçada promessa de uma decente refeição dominical.
Os ânimos enrijeciam os nervos e a faca descia lenta, as mãos se arrastavam desajeitadas e a atenção não existia, mas a receita seguia.

Arrastou o tempo o quanto pôde e, entre desligares de fogo e pequenos afazeres inventados no último momento, conseguiu preparar seu prato, com o acompanhamento já frio.

A mesa estava posta e decorada com migalhas das últimas duas semanas.
Sentado à ponta, com um garfo torto escorado à mão, viu-se um rei sem reinado.

Ouvia as gargalhadas das crianças brincando no pátio gelado sob o pálido sol de inverno que custava a adentrar pelas vidraças embaçadas e cortinas encardidas.
O ar era velho e denso de angústia e vapores oleosos das panelas cansadas e condenadas ao gotejar da pia transbordante.

Olhou em volta: tudo era o que sempre fora, como sempre estivera, no mesmo lugar, do mesmo jeito que deixara.
E o coração se espremeu quando, relutante, conformou-se que somente compartilharia o tão digno momento da refeição com o chiado rouco do velho rádio a pilhas na cozinha.

Derrotado, fraquejou a mão e tombou o garfo.
Abandonou o prato gelado na despensa e o corpo cansado aos trapos sujos no canto da cozinha, com apenas um pedaço de pão velho que lhe arranhava a garganta seca ao descer contorcido.
E a distante possibilidade de uma fagulha, sequer, de dignidade, desaparecera ao chegar das primeiras lágrimas já tão companheiras.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Um Ano de "Desce Mais Uma!"

Há um ano, tomei a decisão de tornar público o trabalho que vinha desenvolvendo. Dadas as facilidades de divulgação, diria até dispersão, da internet, optei por criar este blog. Não foi uma decisão fácil, devida à exposição a que me sujeitaria, mas eu tinha que tentar!

Tudo aconteceu tão rápido, de uma forma tão gratificante e sensacional que até proporções inesperadas foram atingidas. E com muita felicidade anuncio que nesta semana o "Desce Mais Uma!" completa seu primeiro ano de existência. Há pouco reli a minha primeira postagem, onde anunciava e descrevia a idéia do "Desce Mais Uma!". Lembro-me muito bem da sensação que me tomava como se tivesse acontecido há alguns dias, mas agora já estamos celebrando um ano de existência!

Sem vocês, nada disso seria possível e, com certeza, não estaria aqui agora compartilhando deste momento muito importante para mim. Foi visitando, comentando e, inclusive inspirando, que vocês contribuíram para dar vida ao blog e continuidade ao meu trabalho.

Assim, agradeço imensamente o companheirismo de todos vocês em todo este período. Agradeço por permitirem que o "Desce Mais Uma!" continuasse vivo, por permitirem que eu continuasse o meu trabalho e por permitirem que minha tentativa se transformasse neste enorme prazer e realização que tem sido: Muito Obrigado!

Fiz uma reforma e o "Desce Mais Uma!" está de cara nova! Entrem, fiquem à vontade, tragam os amigos, pois hoje é por conta da casa! Garçom: Desce mais uma!

Um grande abraço,

Rafael Castellar das Neves

Multipoesia Convoca para o LiveStream

A nossa já conhecida e parceira revista italiana Multipoesia, que tem o propósito de divulgar poesias e outros trabalhos artísticos em âmbito mundial e em diversas mídias, está com uma nova iniciativa para divulgação e aumento da rede de artistas participantes: o LiveStream.

O LiveStream é uma plataforma televisiva via internet, onde é possível aos usuários criarem canais de “televisão” para publicação e divulgação de vídeos sob demanda. Desta forma, foi criado o canal da Multipoesia: http://www.livestream.com/multipoesia, que está sendo divulgado também via Facebook e YouTube.

Este canal é aberto a todos, não apenas como espectadores, mas também como autores.
O editor da revista, Marco Antinolfi, convida a todos a visitar este canal e aos que interessar a contribuir com os próprios vídeos. A idéia é misturar imagens, áudio e arte constituindo vídeos que não ultrapassem quinze minutos de duração e se encaixem em alguma das seguintes categorias:

- Curta metragem (pequenos vídeos relacionados à arte);
- Música clássica (imagens e músicas clássicas);
- Recitação ou monólogo (trechos teatrais);
- Contos (contos literários com sob imagens e músicas);
- Poesias (poesias sob imagens e músicas).

Os trabalhos, bem como as músicas, devem ser inéditos.

Fiquem à vontade em nos contatar para envio de material e não deixem de visitar.

Abraços!

Rafael

terça-feira, 21 de julho de 2009

Re-humanização dos Jardins

Semana passada, ao chegar a minha casa após o trabalho, liguei a televisão em um telejornal local para ouvir as notícias enquanto esvaziava meus bolsos e minha cabeça. Não demorou muito para ser dada uma notícia que me deixou, no mínimo, perplexo e, pelo tom de voz dos apresentadores e jornalistas, não fui o único.

O apresentador contava em voz inconformada – também pudera – que lojistas da Rua Oscar Freire, aqui de São Paulo, criaram o “Vale Valor”, o que prefiro chamar de “Vale Esmola”. É um vale distribuído aos fregueses que tem a grande oportunidade social de, ao invés de distribuir esmolas, distribuir “Vales Esmolas” aos pedintes. À primeira vista podemos ter a impressão de um sofisticado sistema de amparo social, uma vez que estamos falando de uma das ruas mais glamurosas do mundo. Ainda, considerando os hábitos e estilos de vida dos frequentadores ativos das lojas de alto padrão desta localidade, podemos entender, também, que a dificuldade em manter e carregar os trocados a serem distribuídos como esmolas estaria resolvida. Assim, a nata da sociedade poderia divertir-se nas lojas da Oscar Freire, receber os “Vales Esmolas” – provavelmente proporcionais ao montante gasto, assim os lojistas poderiam se beneficiar do lado emocional dos fregueses –, e distribuí-los teatralmente pelas calçadas aos pedintes. A freguesia e os lojistas poderiam sentir-se heróis sociais enquanto os pedintes poderiam desfrutar de, quem sabe, um desjejum ou até de uma refeição menos indigna.

Tudo parece muito bonito e até louvável se não fosse o fato dos “Vales Esmolas” somente terem valor e poderem ser trocados na “Casa Restaura-me”, uma ONG de apoio a moradores de rua situada no bairro do Brás (para quem não conhece a região, estou falando em cerca de quinze quilômetros de distância). Agora tudo tem um sentido mais claro: a Oscar Freire está ficando feia! E essa foi a maneira que os lojistas, em plena conformidade com os fregueses, encontraram para resolver esse problema. Baseados nos métodos da famosa “Reurbanização” da prefeitura municipal, estão, por conta, reurbanizando os Jardins. Afinal, quem quer exibir uma vitrine, que além de produtos europeus de marcas que tenho dificuldade inclusive de pronunciar, tenha também exposta uma velha suja aos farrapos de nariz escorrendo e fedendo sua desgraça? Ainda, quem quer sair de seu luxuoso carro importado e dividir espaço com esta velha na vitrine da loja e correr o risco dela tocar as barras das roupas pedindo um trocadinho?

Na reportagem: “Não que eles nos incomodem, mas o fato de existir uma situação dessas incomoda as pessoas e dar esmola não resolve nenhuma situação”, diz Rosângela Lyra, presidente da Associação de Lojistas da Oscar Freire.

Bom, até a edição da citada reportagem, a situação era que ninguém ainda havia procurado a Casa Restaura-me para troca dos “Vales Esmolas”. Totalmente justificável uma vez que as pessoas, em primeiro lugar, estão mendigando dinheiro para se alimentar. Talvez, Rosângela Lyra, uma espécie de “Bilhete Único” também pudesse ajudar. Mas não se esqueça de colocar em letras bem pequenas, ilegíveis, o verdadeiro sentido do “Único”: uso único, só de ida. Outra coisa que pode funcionar e é bem simples: experimente atirar ossos bem ao longe, às vezes eles se entretêm com alguma outra coisa e esquecem de voltar – costumava funcionar com os cachorros que apareciam na rua de casa!


Fonte da reportagem: Lojistas estimulam clientes a dar aos pedintes um vale no lugar de esmolas – SPTV Segunda Edição em 14/07/2009.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Transição

Às vezes, outro despertar escuro com o amargor à boca
Do sangue velho transbordante das feridas latejantes que só fazem lembrar.

À volta, fantasmas entrelaçam-se sorrateiramente em vultos indefiníveis e sabidos.
Corpo estremecido e gelado, arrastando-se negado ao adiante.
Cabeça torturada por turbilhões de pensamentos e maldições, incompreensíveis, inseparáveis, dilacerantes.

Pedras às mãos, braços rijos emaranhados ao peito desprotegido que se apavora em tornar a ser morada.
Sorrisos expulsos pela frieza que toma lugar em todos os cantos, esparramando-se pelas juntas e entranhas.
Petrificado por conveniência, arredio por necessidade!

E a lembrança do tudo retorna o que já não era.
Mas o tudo já ficou! Só restaram os espinhos encarnados que lembram o tudo passado ao ferir o futuro impensado, numa ânsia incontrolável de proteger o que foi cinicamente espedaçado pela indiferença.

Ainda que liberto de, após sobreviver heroicamente à assombrosa guerra, estagna-se amedrontado frente ao inconsiderado libertar-se para.
E assim, o que ficou ronda; e o que viria equilibra-se ébrio entre a delícia do incerto e a certeza do nunca.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Devida Proteção

Ressurgindo das cinzas: desce mais uma!


Há alguns dias, voltando para casa, eu parei o meu carro sob a luz vermelha de um cruzamento próximo de casa, em uma praça emaranhada por pequenas ruas disformes. Era começo de noite, já escuro, temperatura amena, bem aconchegante. Aproveitei a parada para me espreguiçar como podia dentro do carro – mudar um pouco a posição que era a mesma da última parada na estrada. Passei os olhos pela vista e à minha direita, iniciando a travessia da ruela adjacente, já sob a faixa de pedestres, vinha uma senhora de idade bastante avançada e com sérias dificuldades para se locomover. Vinha a passos frouxos e incertos, quase que tateando o asfalto antes de firmar-se sobre cada pé. Abaixo de um pequeno e delicado gorro pendiam cabelos grisalhos e cansados, não muito longos e indecisos quanto à forma a ser tomada. Usava óculos de armação preta e antiga. Vestia uma blusa de lã grossa, uma longa saia que mantinha certa elegância, grossas meias e sapatinhos pretos – daqueles das vovós e que há muito não via. Escorava-se em uma espécie de bengala que prolongava seu corpo e terminava em quatro pequenos pés, o que lhe dava mais precisão e confiança ao apoio, mas também denunciava uma maior fragilidade em manter-se em pé do que se podia perceber. A dificuldade em atravessar a rua era grande e de cortar o coração. Arrastando-se e esforçando-se, ela escalou a calçada e terminou a travessia alguns segundos depois do semáforo disparar as buzinas atrás de mim.

É triste ver uma pessoa após uma longa vida ter que viver sob situações deste tipo, que transformam um simples e corriqueiro atravessar de rua em uma complexa e dispendiosa tarefa. Contudo, definitivamente, não foi a dificuldade daquela senhora que me chamou a atenção e me fez buscar o desfecho pelo retrovisor do carro; mas aquilo que permitia que ela fizesse todo o percurso apenas preocupando-se em manter-se em pé e adiante. Em momento algum ela olhou para os lados ou levantou a cabeça, ou se preocupou com a mudança do semáforo ou, ainda, se algum outro carro vinha disputar a passagem. Durante toda a travessia, durante todo o tempo, ela estava cercada por uma das mais bonitas, confiáveis e mais respeitáveis proteções que já vi: a de seu esposo!

Era um senhor muito bem apresentado. Tinha uma respeitável postura de movimentos ágeis. Não era luxuoso, mas elegante. De calça e camisa sociais cuidadosamente dispostas, sapatos engraxados e reluzentes e um paletó escuro que completava a firmeza de sua figura. Durante todo o percurso da esposa, ele estava em pé ao seu redor, acompanhando sua travessia a passos firmes e gentis. Ia de um lado para o outro, girando sobre o próprio eixo, mas de forma planejada e articulada, conforme a evolução da situação demandava. Tinha olhares e gestos de atenção e orientação aos que aguardavam o semáforo e, apesar da agilidade, em momento algum teve movimentos abruptos ou questionáveis. Estava certo de si e do que fazia. Marcou-me quando olhou em minha direção – que pareceu olhar diretamente dentro dos meus olhos – e gentilmente espalmou a mão esquerda em sua altura normal com o braço próximo, mas não junto, ao corpo. Assim, pedia a atenção e o cuidado dos demais, estabelecendo o perímetro que lhes era necessário. E já próximo ao fim da travessia e também da mudança do semáforo, posicionou-se ao lado da esposa, mas de costas para ela e frente para o que viesse. Colocava seu corpo diante de qualquer perigo que pudesse, ainda desavisado, aproximar-se dela. Foi quando as buzinas me fizeram continuar meu caminho e os faróis ofuscaram os detalhes no meu retrovisor.

Fiquei realmente encantado com a serenidade e a firmeza daquele senhor, elegantemente misturadas à sua gentileza e calma, dando toda a proteção necessária para sua senhora “atravessar a rua”. E o grande ponto de tudo isso não é a proteção em si, mas o como ela era dada. Todos nós protegemos quem gostamos – e mesmo que apenas nos convém –, mas existem diversas formas de proteger. A proteção pode sufocar o protegido e até o protetor. Pode tornar-se uma arma contra os envolvidos. E neste caso a proteção era providencialmente aplicada – e posso dizer, sem nenhum remorso, invejável.

Apesar de poder, em momento algum ele a tocou, ela a guiou ou ele a equilibrou. Não! Ele apenas deu as condições que ela precisava para fazer o que tinha que ser feito. Não é uma proteção que guia, que faz, que domina, ou que aprisiona; mas uma proteção que permite que as coisas aconteçam por si só, da melhor maneira que o protegido possa fazer. E, por isso, ela podia, literalmente, caminhar com as próprias pernas, concentrando-se e dedicando-se ao que precisava fazer, mas sabendo o tempo todo que ele estava ali, para ela e por ela.

É pelo respeito ao protegido que digo que esta proteção é respeitável. E insisto: completamente invejável e desejável. Quando crescer, quero ser como ele! (Melhor correr, já estou atrasado!)

terça-feira, 30 de junho de 2009

O "Desce Mais Uma!" está baleado

Olá Pessoal!!

Por ocorrências de eventos paranormais originados de forças ocultas, cabalísticas, astrológicas e, inclusive, das mudanças do campo magnético do globo, comunico que:

1) Não sei por quais cargas d'água, mas desde sábado sumiram todos os blogs amigos da seção "Minha lista de blogs". Entrei em contato com o pessoal do Blogger, mas ainda não tive retorno; então, peço aos blogueiros amigos que me enviem os respectivos endereços para que eu possa adicioná-los novamente (pode ser via comentário que não publicarei);

2) Ontem fraturei meu braço esquerdo (sim, é claro que sou canhoto, certo Murphy?) e durante a recuperação (cerca de quatro semanas) estarei operando em capacidade reduzida. Por isso, minhas publicações podem demorar um pouco e não seguirem a periodicidade normal. Assim, apenas gostaria de dizer que o blog não parou, está apenas debilitado.

Um grande abraço,

Rafael

segunda-feira, 22 de junho de 2009

E se...?

Quando você se pergunta:
“E se o momento não for o certo, ou se as coisas correm mais que o calendário – ou o relógio?!
E se a poeira ainda não baixou, ou se as feridas ainda não fecharam, ou se palavras ainda doerem e as lembranças ainda rondarem?
E se não for a pessoa certa, ou se for o começo de mais um fim, ou se for pior dos infernos que volta a se formar?
E se as coisas saírem do controle, ou se ainda estão sob controle, ou se é loucura?

E se for a coisa certa a se fazer, ou se for tudo o que foi procurado agora batendo à porta, ou metade?
E se for um começo diferente, uma coisa diferente, estranha, ou quem sabe algo predestinado?
Mas se não for isso? E se for o que sempre foi? E se estiver errado? Está errado? Tudo?”

É quando eu lhe pergunto:
“E se o que está por vir for a pior das coisas? O pior dos fins - e não o último?
E se não houver controle? E não houver como e porque controlar?
Mas e se for o fim? O maldito fim que tanto fugiu? Que tanto foi procurado e buscado?
E se for um começo único e último?
E se for tudo o que foi negado? E se for o motivo de tantos calos?

E se amanhã os ‘eu’ não mais o serem? E se amanhã a encontrarmos esperando atrás da porta?
E se amanhã Deus se revelar um tirano sarcástico e der seu basta em uma fúria incontrolável?
E se amanhã eu não puder lhe desejar ao menos bom dia? E se estas forem as últimas palavras?
E se esse amanhã for hoje? Daqui um pouco? Agora? Nem tchau?

E se amanhã não for nada disso e isso tudo se tornar apenas um nada? Ido, passado, quem sabe lembrado ou até desejado, mas ido!
E se, seja lá o que for amanhã, se perguntar ‘e se?’ e a resposta for ‘não sei, quem sabe’?
Ninguém sabe e nem se importará, pois já foi!”

Larga suas pedras! Solta as correntes e liberta seus pensamentos, suas perguntas, suas angústias e deixa-os voar para longe e lhe trazerem sonhos para serem vividos: nesta vida ainda!

E quando assim escolher, olha em volta e me verá, pronto!
Caminhe em minha direção, faça-o a passos largos, de braços abertos, sem sentir as pernas, mas o vento em seu rosto, e sorria ao balanço único deste caminhar. Caminhe com seu todo, seu tudo!
E seus olhos brilharão aos meus, seu sorriso será gargalhada às minhas, e flutuará a mim!
E quando a mim chegar, enxugarei suas lágrimas com meu rosto, limparei seu sangue com meu corpo, fecharei suas feridas com meu toque.
Perca-se em meus braços como me perco nos seus.
E será com o meu mais verdadeiro e mal-intencionado beijo que lhe mostrarei que não estou nem atrás nem a sua frente, mas ao seu lado, sem “e se”; apenas sendo!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Em Uma Encruzilhada Dessas - Parte III - Final

Levantou o rosto aterrorizado, preparando-se para ser punido pela súbita dúvida que sentira, seu corpo tremia em descontrole total, temendo que lhe fosse negada aquela última chance. Virou-se lentamente, com olhos suplicantes e transbordantes, cabeça baixa e corpo completamente curvado pela vergonha, mal conseguia ver a silhueta da imagem a sua frente.

A outra mão, também grosseira de aparência, calejada, com dedos peludos e unhas negras e compridas, tocou-lhe o queixo com uma delicadeza indescritível: podia-se sentir levemente a aspereza da pele sobreposta quase que totalmente pela doçura pueril do toque que lhe elevava a cabeça. E o medo que lhe abandonava aos poucos, liberou-se quase que totalmente ao ouvir as palavras suavemente proferidas:

- Não tenhas medo!

Ele firmou a cabeça e abriu os olhos encharcados que tiveram que ser secos pelas próprias mãos que os julgavam duvidosos frente à imagem que se definia: um demônio alto e musculoso, coberto por uma pele cor de oliva que se misturava sob pelos e escamas, pequenos chifres despontavam entre os cabelos longos e negros, sobrancelhas grossas sobre olhos amendoados pretos e profundos, uma longa calda escamosa e lisa repousava parte no chão, um sorriso tão sarcástico quanto confiável e um par de asas enormes e repugnantes como as de um dragão cuspidor de fogo.

- Venha comigo! – disse o demônio com uma voz encantadoramente tranquilizante.

Parte de seu medo o retomou. Seguir o anjo era como trair e abandonar a chance que lhe fora dada e ele hesitou. O demônio entendia o que se passava e já de costas para ele disse, com a mão ainda puxando a dele:

- Não te preocupes. Eles sabem que estou aqui. É minha vez e é assim que funciona!

Inseguro e incerto do que estava fazendo, ele deixou-se levar pelo demônio e notou que desta vez seus passos eram inúteis, pois flutuava até a porta da igreja. E o mergulho lhe causaria menos pânico se não fosse pelo seu condutor ser quem era.

Mergulharam no branco da porta da catedral a uma velocidade absurda e assustadoramente deliciosa. Tão rápidos e inclinados ao chão caiam que as sensações se misturavam: pavores arrancadores de entranhas, anonimato sob a face remodelada pelo vento que parecia dilacerar-lhe em pedaços, rejeição ao corpo leve pela alma pesada diante da liberdade de uma queda praticamente livre ao nada; o toque do demônio fazia com que ele mal se lembrasse que estava sendo levado.

E quando, depois de tanto cair, ele se preparava para ver o azul tomar cena por entre o branco indefinível, um laranja avermelhado, quase fogo, se precipitou. Era ondulado como o mar, só que, além da diferente textura, as ondulações não ondulavam – apenas eram.

Ele engoliu seco e pressentiu algo muito ruim, que lhe tomou a voz a ponto de apenas olhar em desespero para o demônio sem nada conseguir perguntar. O demônio continuou seu vôo sem olhar para ele, sabendo o que se passava, mas preferia com prazer ignorar. Aproximaram-se do chão na mesma inclinação a que vinham descendo, sem nivelar para o pouso e, súbita e confortavelmente, reduziram a velocidade e estrondaram ao chão arenoso, como que em um anúncio de chegada.

O demônio soltou a mão dele e deu um passo a frente, contemplando a vista. Fora a forma que usara para deixá-lo um pouco só para que pudesse organizar suas dúvidas. A vista era a mesma em todas as direções. Areias e dunas desfiguradas pelo calor eram as mesmas em todas as direções, com as mesmas sombras em todas as direções, tudo exatamente igual para onde fosse que se olhasse. O calor era escaldante e prejudicava o pensamento, mas não lhes queimava os pés. Ventos sopravam de todas as direções para onde estavam, trazendo areias, calores e lembranças.

Ele permaneceu alguns instantes parado, depois examinou perplexo a simetria da paisagem em todas as direções. O demônio aguardava pacientemente, em um gozo interior extraordinário pelo que estava por vir. E quando ele deu um passo em sua direção para lhe dirigir a palavra, em um simples gesto, o demônio parou todos os ventos. Ouvia-se apenas um leve e contínuo ruído causado pelo intenso calor que ainda emanava do chão refletor. Ele, com dificuldades em ignorar o que acabara de presenciar, deu mais um passo e pôs-se ao lado do demônio:

- Este é o inferno?

O demônio gargalhou prazerosamente com toda a graça do mundo aos idênticos quatro cantos e sua gargalhada ecoou de uma maneira que pareciam outras gargalhadas que esmagavam a pergunta. Então, recompôs-se e virou-se para ele com um sorriso amistoso de um pai prestes a ensinar o jovem filho:

- Não, meu caro, aqui não é o inferno! E creio que não temes o inferno, pois é nele que tens vivido seus últimos anos. Este é apenas um lugar. Um lugar qualquer!

Ainda confuso com a declaração de que o inferno era onde vivia, ele continuou:

- Um lugar qualquer, no meio do nada? Por que me trouxeste aqui?

Então sereno, o demônio lhe explicou com olhos aos olhos:

- Pensas que o inferno em que vives é uma punição, uma condição; quando na verdade é uma opção. Tu és o responsável por viveres o que vives, por seres o que és. Tu és quem permitiu que tudo isso te acontecesse, que tudo isso se formasse em torno de ti, sendo o teu mundo, o teu dilema, a tua reclamação, a tua lamentação, o teu martírio, se preferires! Mas ninguém se importa e nunca se importará! Tens que entender e aprender a andar sobre tuas próprias pernas sem em nada escorar. Tens que aprender a te levantar sozinho, como fizera aos primeiros passos. Tens que olhar para dentro e ver o que realmente é e o que provavelmente seria e, acima de tudo, o que realmente desejas ser. Isso não é o inferno, nem o fim, é um lugar qualquer!

- Agora entendo o que queres dizer. Aprendi logo há pouco o que realmente é preciso para atingir as muralhas prometidas, o como posso me tornar digno de, ao menos, perto delas chegar e, quem sabe até, a elas adentrar, se assim quiserem os céus. Entendo que me trouxeste aqui para me mostrar o que pode acontecer comigo: ser jogado ao nada, ao esquecimento. Agora tudo faz sentido para mim. Tens razão, tenho que me erguer e continuar sozinho pelo caminho, sendo forte e acreditando!

Concluiu estas palavras com uma expressão de satisfação e temor frente ao entendimento de toda situação e do difícil caminho a ser seguido. Mas o demônio não permitiu que aquela sensação durasse e interveio em tom mais firme:

- Não entendeste nada! Não aprendeste nada! Sim, realmente precisa ergue-te e continuar, sozinho. Mas por que pensas que tem que ser por aquele caminho. Por que acreditas que tens que te sacrificar, te entregar e abandonar todo o gozo de uma vida intensamente vivida? Abandonar as alegrias, tristezas, dificuldades, perdas, conquistas, decepções e recompensas de uma vida verdadeiramente vivida para chegar a um lugar que te foi dito como prometido, que nem ao menos sabe se conseguirás chegar ao começo do caminho e, ainda, quem sabe, se chegares nem sabes se te permitirão a entrada? Para que te meteres em um caminho dito como correto, onde na verdade só existem provações para serem superadas? – Por acaso cometeste um crime ao nascer e que agora necessita ser pago com a maior das penas: tua própria vida? – Para que te submeter às mais indiscutíveis e cruéis imposições e condições para chegar ao mundo prometido de onde ninguém sequer voltou ou escreveu para atestar sua existência? De onde nem mesmo seus prometedores te mostraram sequer uma folha seca abandonada aos ventos? Para que acreditar em algo tão inacreditável? Para que te privar das delícias, dos prazeres da vida que somente podem ser saboreados pelo corpo e sentidos que te foram dados? Para que uma vida de tristezas, sofrimentos e preparação para um lugar que nem mesmo os céus garantem a existência? Para que abrir mão da chance de simplesmente ser feliz? Atenta-te a ti mesmo! Seja filho de ti! Criatura de ti, criador!

- Tudo está confuso para mim. Como queres que acredite em ti depois de tanto mal que causaste ao mundo? Como posso acreditar que o que dizes já não é minha primeira tentação, ainda aqui neste lugar? Tudo está confuso!

Naquele momento o demônio sorriu satisfeito e levantou vôo. Voou em círculos sobre ele que perguntou desesperado sobre aonde ia, pedindo que não o deixasse naquele lugar. O demônio em alta voz lhe respondeu:

- Estou deixando-te onde sempre estiveste, em um lugar qualquer. Estou tirando-te a tua chance e dando-te a opção.

- Como assim? Não podes me deixar aqui, como saberei onde está o meu caminho? Ao menos leve-me até ele! Diga-me como percorrê-lo, como ser digno de percorrê-lo por completo, passando por todos os obstáculos!

- Este é o teu caminho. Não vês que todas as direções são iguais? Não vês que tens todas as direções para seguir? Não vês que o único obstáculo é tu mesmo que ainda permanece parado frente a tantas opções? Não vês que é digno de escolher para onde ir?

Neste momento o demônio pairou a sua frente e concluiu:

- O que realmente importa aonde teu caminho te levará? Somente tu podes trilhar teu caminho. Somente tu podes decidir aonde chegar. Podes e deves fazê-lo da forma que quiseres, para onde quiseres – és livre. Basta seguires o caminho! Faça-o!

Então, ao vê-lo transformar as lágrimas em sorriso infantil, deixando para trás as primeiras pegadas, o demônio voou satisfeito de volta aos céus.

Parte I - Parte II

Ao Robinson Milani, meu grande amigo que me contou sobre o caminho!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Em Uma Encruzilhada Dessas - Parte II

Ele permaneceu alguns minutos em silêncio contemplando o que via e tentando entender o que acontecia. Voltou-se ao anjo que permanecia paciente ao seu lado e perguntou se aquele lugar era como o vale. O anjo respondeu:

– O vale é apenas um simples recanto de descanso para poucos vencedores. Atrás das muralhas está o que não pode ser descrito, o que não pode ser contado e só pode ser permitido àquele que acredita e busca. Aquele que é maior que o vencedor: digno!

– E o que é necessário para poder adentrar àquelas muralhas?

Desta vez o anjo virou-se gentilmente a ele e com um olhar gracioso lhe respondeu:

– Somente aquele que percorre todo o caminho, que passa por todas as provações, com coração aberto e dedicado às palavras, sem desviar um instante, sem deixar-se levar pela mais inocente das tentações, sem duvidar, dedicando-se ao que lhe foi prometido, à sua missão, sem pisar no negro lodo pagão, sem aspirar a imunda poeira do desejo, sem beber envenenada água da vontade, sem provar do suculento fruto do pecado: é o verdadeiro digno de adentrar àquelas muralhas e degustar de tudo aquilo que somente os que lá estão poderiam descrever.

– E sou digno? É por isso que me trouxeste aqui? Para adentrar às muralhas?

O anjo suspirou desgostoso e olhando para as muralhas, com a visão embaçada, respondeu duro:

– Não! Tu nem ao menos estás perto do teu caminho. Trouxe-te aqui porque te foi concedida uma nova chance de percorrer o caminho. E estou te mostrando qual é o fim do caminho. Sinta-se abençoado, pois poucos são aqueles que sequer viram estas muralhas.

– E qual é esse caminho?

O anjo virou-se novamente a ele e disse mais contido:

– Acalma-te e atenta-te! Não é tão simples quanto pensas! Terás que começar antes mesmo da floresta. Terás que cruzar os mares a braçadas, vencer a ira das piores tormentas já vistas, vencer os mais temidos monstros marinhos, sozinho. Não haverá calmaria, calmaria é para os fracos. Se tiveres fé, se acreditares, se te entregares e não desviares, somente assim, chegarás à praia!

“Na praia não poderás ficar, o mar não permitirá e terás que avançar pela floresta. Verás o caminho. Conhecerás o chão e não verás as copas. Sentirás o ar sufocante, o calor que não se dissipa. Passarás por lugares onde nem a mais corajosa e astuta luz passa, serás perseguido por criaturas famintas, enfrentarás aberrações, serás tentado por aqueles que se aproximarão gentilmente e que foram esquecidos pelo caminho. Atravessarás pântanos escaldantes, rios venenosos, matas espinhosas. Não terás nada para comer, sentirás a maior de todas as fomes e somente o pecado será oferecido como alimento, pela mão que trai. E a escuridão só terminará quando do outro lado da floresta saíres. Mas se te desviar, não mais encontrarás o caminho e vagarás como aqueles que tentarão tirar-te do caminho. Se tiveres fé, se acreditares, se te entregares e não desviares, chegarás ao vale!”

“No vale poderás ver a luz, poderás descansar, mas em nada tocar. Dos animais não poderás te saciar, nem das frutas provar, muito menos das águas beber. Sentirás a brisa e saberás que está no caminho, mas não muito poderás ficar. Basta um descanso e um fôlego, pois aqueles que ficarem em demasia são os que se contentam com pouco e não são dignos do que está atrás das muralhas. E esses serão jogados de volta para a floresta e proibidos de retornarem ao caminho e esquecidos pela eternidade.”

“Terás que continuar montanha acima! Se arrastarás pelo gramado que dará lugar a trepadeiras espinhosas que se agarrarão em ti para fazê-lo tropeçar, escorregar, cair. Chegarás aos rochedos úmidos e lisos, terás que te agarrar a eles com as próprias unhas e passar por entre pontas afiadas que te abririam o peito em um simples encostar. Deslizarás! Mas deverás continuar para chegar ao paredão. Nele procurarás por trincas finas que não permitirão o encaixe seguro do teu menor dedo. E no fim, o paredão te engolirá em uma inclinação invertida. Ficarás pendurado pelas mãos injuriadas. E após o paredão será uma íngreme subida, sem rochas, mas neve alta. Estarás acompanhado pelo mais terrível de todos os frios. Não terás agasalhos e terás que passar por toda a tempestade sozinho, sem nada enxergar. Se tiveres fé, se acreditares, se te entregares e não te desviares, chegarás ao cume e verás essa rocha onde nos estamos e nela deverás sentar-te e esperar. Enquanto esperas, serás digno de contemplar a imensidão dos mares, a vastidão e o esplendor das florestas e a alegria e perfeição do vale. E quando o tempo certo chegar, e os guardiões da muralha entenderem que tu és digno, anjos virão em tua busca para a recompensa eterna. Do contrário, bolas de fogo serão lançadas sobre ti para rolá-lo montanha abaixo.”

“Tenha fé! Este é um caminho de uma vida, para torná-lo digno da outra, a prometida, a tão buscada!”

Tendo dito isso, o anjo sorriu para ele e com um toque macio, fechou-lhe os olhos.

Quando abriu-os novamente, estava na igreja, ainda ajoelhado e desacreditado. Mas quando ergueu a cabeça e olhou para as imagens do altar, começou a tremer e a sentir-se assustado por duvidar, arrependido por sua vida, amedrontado por não ser digno e envergonhado de si mesmo. Começou a rezar desesperadamente, de cabeça baixa aos soluços, por perdão e pela concessão de uma última chance para que pudesse percorrer o caminho e tornar-se digno.

Foi então que sentiu um toque firme de uma mão áspera cuidadosamente repousada em seu ombro esquerdo.


Continua...


Parte I - Parte III

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Em Uma Encruzilhada Dessas - Parte I

Aos joelhos, em uma catedral na região central, à penumbra, dividindo um ar pesado e gasto com um ou dois mendigos, ele clamava por luz em sua vida, por orientações, por ajuda, por paz. O silêncio era quebrado por ruídos de carros na rua, tosses tuberculosas, suspiros e orações sussurradas entre pensamentos pecaminosos. Seus olhos transbordavam súplica, dores não reveladas, acumuladas de uma vida de buscas frustradas e tão desacreditadas. Suas mãos se abraçavam com força para manter os músculos rijos para acalmar o corpo que entrava em uma situação de colapso.

Foi então que sentiu um toque leve de uma mão gentilmente repousada em seu ombro direito. Levantou o rosto desfigurado, virou-se vagarosamente tentando se recompor e estremeceu-se à imagem às suas costas: um alto e esguio anjo, de cabelos louros e cacheados, olhos azuis, nariz afilado, pele clara e macia, sob um manto azul claro e com um sorriso sincero e amistoso. Estupefato, ele, trêmulo, escorou-se desgovernado no acento do banco de madeira escura enquanto o anjo lhe estendia a mão. Ele pegou a mão do anjo e levantou-se, com passos incertos seguiu-o até a porta principal por onde entrava uma luz ofuscante que não permitia ver o que se passava do lado de fora.

Ao chegarem à porta, ele se deparou com um nada, um branco. Não havia chão, não havia a rua, não havia nada e quando suas pernas fraquejaram tentando levá-lo de volta para dentro, o anjo deslizou em um mergulho suave e veloz, trazendo-o pela mão. Logo o medo que lhe arrancara as entranhas se aliviou e se transformou em curiosidade, emoções diversas o tomavam e o anjo continuou em manobras arrojadas e confortáveis.

Quanto mais desciam, o branco dissipava-se, azulando-se, tomando texturas, feito lençóis finos dançando ao vento cobrindo o infinito, num balançar gracioso e tranquilizante, escondendo mistérios e belezas inimagináveis, desejáveis. O anjo nivelou e diminuiu. Ele pôde sentir o rosto molhar pela brisa e a maresia tomar lugar em seu corpo. Plainavam rente à água, a ponto de poder ver vultos de cardumes os acompanhando e o anjo lhe disse:

– Veja toda a vida sob estas águas azuis, das mais variadas espécies, cores e formas. Mas não se pode sentir o toque da água, nem ver todo o mundo protegido logo abaixo, pois a água deve ser enfrentada, se merecido for. Somente aqueles que se fazem dignos que podem desfrutá-las.

– E o que é preciso para ser digno de desfrutá-las? – perguntou empolgado ao anjo.

O anjo não respondeu e continuou o vôo. Logo avistaram terra firme e próximo à areia da praia o anjo elevou-se e tudo tornou-se verde revelando extensas florestas que aos poucos tomavam formas, feito um tapete felpudo que cobria tudo que estava abaixo. Quando estavam próximos o suficiente para ver as copas de árvore e sentir o ar gélido e úmido que subia, o anjo novamente diminuiu. Plainavam suavemente sobre o verdume e o anjo lhe disse:

– Veja a beleza do verde da floresta, das mais incríveis tonalidades, com pitadas de coloridos das flores da época, de bandos de aves gritantes, mas não se vê o chão. Pois o chão é para ser trilhado e não admirado. E do chão não se vêem as copas. Somente aqueles que se fazem dignos podem contemplá-las.

– E o que é necessário para ser digno de contemplá-las? – perguntou curioso ao anjo.
O anjo não respondeu e continuou o vôo em silêncio e ele notou que não era possível ver o chão em ponto algum e que talvez ele fosse digno. A floresta terminou em um vale que parecia delicadamente feito a pinceladas. Então o anjo disse:

– Veja quão belo é este vale quase perdido, quase esquecido. Olhe o gramado que o reveste, é como uma película aveludada que faz cócegas aos pés descalços. Finos e transparentes córregos o cruzam e se encontram naquela lagoa, e continuam em um riacho mais ousado. Os animais pastam despreocupados, as plantas florescem sob a luz clara e leve deste imutável sol de primavera. A brisa é constante e fresca e varre toda a cena, com a delicadeza de um toque maternal. Tudo é cuidadosamente cercado por estas montanhas rochosas e esculturais que são altas o suficiente para nãos serem transpassadas por aqueles que não são dignos e estrategicamente colocadas para não esconderem nada com suas sombras durante o dia. Aqui é um recanto àqueles que são dignos. Aqui podem tomar fôlego e recuperar as energias para a última jornada.

– E o que é necessário para ser digno para poder repousar meu corpo velho e cansado? – perguntou desejoso ao anjo.

O anjo novamente não respondeu e continuou o vôo em silêncio, mas desta vez em alta velocidade em uma ira súbita, rumo à parede rochosa de uma das montanhas e no último instante manobrou para cima, a centímetros da parede, e subiu a toda velocidade, rente ao paredão que já não tinha mais verde, mas começava a se tornar branco. Ele foi tomado pelo medo e não entendia porque tinham deixado o vale e porque o anjo agia daquela forma, mas o pavor não permitia nenhuma palavra, nenhuma reação. Bruscamente o anjo diminui e delicadamente pousaram sob uma pequena plataforma rochosa, coberta por gelo, acima das nuvens e o anjo lhe disse:

– Vê aquelas muralhas?

– Sim! – respondeu ele se esforçando para ver onde terminavam, mas estavam cobertas pelas nuvens. – Até onde vão?

– Vão até onde é suficiente – respondeu o anjo em um tom mais sério –. Atrás daquelas muralhas está o lugar que todos procuram, que alguns chegam e poucos entram. Lá é o lugar sagrado e reservado para aqueles que são realmente dignos, aqueles que fizeram por merecer, que seguiram as palavras e trilharam todo o caminho. É o lugar onde nada termina. É o lugar de paz onde o mal nem ao menos ronda. É o lugar onde a pureza é plena. É um ponto final para o novo começo!


Continua...

Parte II - Parte III

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Paraíso Meu

Quero todas as pedras no meu chão; nem pense em tirar uma sequer.
Quero a mata densa e selvagem; não me venham com veredas paradisíacas que terminam em suas planícies verdejantes.
Quero corredeiras turvas e violentas por entre quedas rebojantes; nada de seus córregos mansos e cristalinos.
Quero dunas nômades e escaldantes, famintas de mim; não me venham com estradinhas de chão batido por entre pastagens baixas.
Quero montanhas escorregadias, cobertas de rochas soltas, paredões; não quero um caminho sinuoso com corrimões do século passado.

Quero tropeçar em minhas pedras, quem sabe desviar de algumas outras.
Quero abrir minhas picadas mata adentro; por a mata a chão, construir minha planície.
Quero atravessar as corredeiras, aprender por onde nadar, onde escorar. Desviá-la e criar o meu riacho.
Quero vagar pelo meu deserto, duna a duna, até conhecê-las todas, por nome, e atenderem ao meu chamado.
Quero subir todas minhas montanhas, fazer rolar todas as rochas soltas, conhecer cada trinca do paredão, colocar minhas próprias estacas para a próxima subida.

E quando tiver medo, quando cair, quando me arrebentar,
Vou tomar um fôlego do tamanho do mundo, vou firmar minhas pernas, uma a uma, e vou me levantar, limpar meus joelhos ralados e continuar.
Não negarei as mãos que me estenderem, mas as ferramentas.

E quando o abismo vier, vou correr com toda minha força em sua direção,
Às gargalhadas, com olhar fixo, peito aberto, alma leve, sem olhar para trás
E vou saltá-lo em um vôo memorável, despejando sobre ele minhas derrotas e minhas dúvidas,
Deixando um rastro do meu mais puro sarcasmo!

E quando, entre meus tombos, me for negado o direito de continuar, poderei parar de respirar tomado pela incrível leveza de poder amar com toda a minha intensidade tudo o que conquistei em mim.
Não me lembrarei dos meus tombos, nem das minhas pedras, nem das minhas lágrimas – quiçá seus motivos.
Mas me lembrarei de como foi maravilhoso me levantar naquela manhã.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Aqueles Nossos Rostos

Eis que não a última, nem a primeira composição para bruscamente em frente ao rebanho a se recolher, apartado em amontoados tentando a qualquer custo se alinhar às bruscas porteiras que se abrem e fecham aos solavancos.

Condicionados, ao abrir, estouram seringa adentro esbarrando-se em busca do lugar menos desconfortável, ou talvez mais cômodo, agitados pela irritante campainha que lhes cutuca os tímpanos.

Corpos cansados escorados uns aos outros, amassados, sujos e surrados das mais diversas lidas, das mais distantes pastagens – difíceis até de imaginar.

Rostos! Ah, rostos!

Das mais variadas raças, formas e idades, com as mais diversas expressões e olhares.
Desconhecidos, e talvez nunca revistos, que revelam histórias inimagináveis, questionáveis, condenáveis, lamentáveis, irrepetíveis, incontáveis.

Tem-se de tudo, de todos, para todos: tristeza, perda, traição, fracasso, dúvida, insatisfação, solidão, decepção, abandono, desistência, vontade, saudade, desejo, angústia, desilusão, revolta, indignação, desconsideração, humilhação, desprezo, ignorância, arrogância, asco, irritação e tantos outros que só acontecem àqueles, naqueles.

Ou será tudo apenas cansaço? Quem sabe ânsia do chegar?

Não sei, não se sabe, não se deve, nem se é! Quem são? Muito prazer!

E entre tantos, aos balanços, um me foi revelado, do outro lado, olhando para mim, para dentro de mim, fixo e espantado, como eu.
Da mesma espécie, de outra raça, ou de todas, ou nenhuma, mas não estranho.
É aquele que me acompanha, aquele que não conheço, que não compreendo, que não me atentei, que perdi e que agora se alimenta daquilo que de nós e a nós se revela desse nosso tudo.
Prazer em rever-nos! Seja bem-vindo!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Mais uma homenagem do Aloizio: "Castellar"

Mais uma vez o amigo Aloizio Santos me alegra com uma bela homenagem! Obrigado e um grande abraço, Aloizio!

Vou encastelar meus sonhos,
Um jardim vou colocar
Em volta porei um fosso
Inimigos não vão entrar.

Castelo e não de cartas
Para nunca mais cair
Sonhos de cinderela
Meninas terão aqui.

Vou enfeitá-lo de rosas
Mas que sejam sem espinhos
Assim chamara atenção
De que vem pelos caminhos.

Vou cobrir de ouro e prata
Diamantes vou colar
Para refletir o brilho
Nos olhos de quem o olhar.

Vou encastelar meus sonhos
No reino da imaginação
Realidade alternativa...
Sonho grande, sonho bom!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Sem Sentidos

Em meus infindáveis pensamentos me pergunto como enganar esse maldito retorno.
Já é um tanto óbvia a minha incapacidade frente ao meu obscuro eu.
Desculpas mil, efetivos apenas o tempo e as feridas.

Só me resta deixar de alimentar o que existe lá dentro.
Aquilo que me dita as regras, os atos, os sentimentos. Sufocá-lo de si.

Um arame fino e maleável seria suficiente para furar permanentemente meus tímpanos. Assim não seria mais preciso ouvir votos falsificados, promessas abortadas desde a concepção, palavras incapazes de serem sustentadas em pleno presente, que apenas me arrastam encantado para o tão próximo nada inatingível.

Com uma faca de pão conseguiria destroçar toda minha cartilagem nasal e ainda danar todo interior dessa fossa. Assim não mais sentiria o perfume lascivo que me vira a cabeça e me condena o corpo, o aroma dos pecados tão desejados que me saciam a alma, a podridão das mentiras inconsequentes tão desconsideravelmente escarradas em meu rosto.

Uma linha reforçada, conduzida por uma fina e pontiaguda agulha, costuraria definitivamente meus lábios um ao outro. Assim não mais propagaria meus malditos sentimentos, não semearia meus doentios pensamentos, nem disseminaria meus tão questionáveis e indesejados desejos – que têm como única função serem armas contra mim mesmo –, e, ainda, não mais saborearia um só pedaço daquilo que só me é oferecido para que possa ser mais prazerosamente negado.

Poderia ainda cravar uma colher abaixo das minhas pálpebras e arrancar das órbitas, com um só firme golpe, meus já tão cansados e insatisfeitos olhos. Assim não mais seria preciso ver aquilo que me tenta, aquilo que me escondem, aquilo que me negam e nem aquilo que causo.

Um machado de cunha bem afiada seria ideal para o fim. Erguendo-o de todo o comprimento de nossos braços, em um único movimento, poderia separar de mim a mão inimiga, para que não mais sentisse a maciez apaziguante, os movimentos tranqüilizantes, a textura proibida e desejada, e nem mais quebrasse tudo aquilo que toco na ânsia de trazer para dentro de mim.

Então, só me restaria ao amigo suplicar o último e mais importante dos favores: que suspendesse o cabo pela ponta o mais alto que pudesse e trouxesse o fio abaixo com toda sua força passando despercebidamente pelo pulso derradeiro, livrando-me da mão traidora – a única que poderia me negar toda esta libertação.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Eterna Companheira

Olá! Há tempos não lhe vejo!
Hoje vem do jeito que mais me agrada:
Plena, definida, radiando glamorosa.

Por onde tem andado?
Há tanto para lhe contar,
Tanto para lhe esconder.
Tanto para entender.

Tem vindo sempre?
Por que não me acordou? Senti falta do seu toque.
As coisas andaram um pouco complicadas por aqui.
Havia nuvens nos separando, estava escuro
E acabei me esquecendo de lhe procurar.

Bom acordar com sua luz invadindo meu corpo,
Aquecendo meu coração neste frio da madrugada.
Senti sua falta.

Lembra de quando iluminava minhas noites amorosas?
De quando eu apagava os faróis para ter a visão da estrada que só você podia me dar?
Quando chorei escondido, quando sentia o amor transbordando em meu peito,
Quando cambaleei triste para casa?
Tantas coisas juntos.

Bom lhe ver de novo,
Iluminando os meus cantos – aqueles que eu mesmo não mais conheço.
Bom saber que estou sozinho.
Esta noite poderei dormir, e será sob seu zelo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A Pena que Lhe Cabe

Ei, carcereiro! Traga-me um pedaço de pano velho.
Permita-me pelo menos uma noite aquecida,
Estas pedras são úmidas e frias.

Que tal um pedaço de pão duro?
Meu estômago dói, aquela sopa e mim já não para
E o limbo das pedras já não mais tempera minha língua calejada.

Ei, carcereiro camarada! Uma caneca de água da sua torneira seria providencial.
Há tempos não sei o que é uma água amarelada,
Esse grosso lodo que me serve se arrasta pela minha garganta.

Não, não jogue esta ponta de cigarro!
Chute-a para mim, deixe-me sentir novamente a fumaça entranhar-se pelo meu corpo,
Acariciando meus nervos esfarrapados.
Deixe-me sentir algo!

Ei, velho carcereiro! Conte-me uma de suas histórias,
Deixe-me conhecer um pouco de você, minha mente viajaria por caminhos diferentes.
Conte-me uma piada sem graça!

Bem que você poderia afrouxar estas algibeiras,
Não tenho para onde ir, nem como ou porque fugir!
A grade é demasiada grossa, cada pedra desta parede pesa mais que dois de mim.

Ei, amigo carcereiro! Estamos juntos há tanto tempo, não me negue um favor,
Só me resta a eternidade da minha vida para toda a minha pena pagar.
Conceda-me um gosto, um gozo, apenas desta vez!

Não ria! Não dê de ombros! Não me dê suas costas, volte aqui!
Não, por favor, não apague a vela! Não!
Carcereiro? Carcereiro?

Foi-se, maldito carrasco!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Na Praça

Lá vai mais uma vez o movimento de fim de tarde pela praça.
Um alvoroço de pessoas cruzando-a rumo ao ponto de ônibus e metrô,
Excitadas rumo ao lar, à família, aos amigos, aos amores.

Fracos raios alaranjados do sol cruzam as densas copas das árvores
Amornando as já gélidas brisas de outono.
Uma mistura que preenche meu coração e desperta sensações adormecidas em meu corpo.
Sensações de um tempo em que tudo era possível, tudo era seguro e tudo era vida.

Aos poucos as cabeças diminuem, a escuridão se aproxima
O alaranjado evade os céus e toma lugar nos postes, agora,
Folhas desprendem-se ao vento frio,
Os barulhos são diferentes, são aqueles dos que bebem nas esquinas, esquivando-se do retorno.

As horas passam, os bares se calam, apenas uma ou outra lamentação ébria.
Complexas arquiteturas dos antigos edifícios dão lugar a formas assombrosas,
Prostitutas e travestis tomam postos sob os postes, como enfeites sob um abajur.
Sombras abrigam agulhas e restos amassados de jornais cobrem corpos trêmulos.

Fregueses vêm, consumidores se vão,
A fina névoa traz o frio da madrugada, dividindo lugar o denso silêncio
Rompido pela coruja faminta e tosses tuberculosas.
Ninguém nas ruas, nada se move, tudo é um nada – uma pintura.

Hora de ir, já vem o sol delator
Expondo corpos caídos, frios, entorpecidos, contaminados.
Vidas agonizam em películas plásticas.

O leve calor matinal saúda com o ardente odor de urina
Aqueles que retornam a mais um dia infernal.