domingo, 29 de março de 2009

Carta de Despedida

"Como muitas pessoas que me querem bem costumam ler meu blog, gostaria de dar algumas explicações sobre este texto. Este é apenas um trabalho literário e eu disponho de plena saúde física e psicológica...rs. Trata-se apenas do desenvolvimento de uma de minhas idéias anotadas em meu caderninho, no caso, uma idéia que tirei de um noticiário: tentei imaginar o que se passou na cabeça daquele moça..."


          Entendo que neste momento há muito o quê se perguntar, mas digo que não há muito a se dizer. Antes de qualquer coisa, não pretendo, aqui, justificar os fins, mas quem sabe explicar um pouco dos meios.
           Sei que nunca fui, e nem quis ser, exemplo de coisa alguma – talvez possa ter sido daquilo a não ser ou se fazer. Mas as coisas tomaram proporções terríveis para mim. Não tenho conseguido suportar. Meus dias se tornaram cinzentos, iluminados apenas por uma penumbra que, para falar a verdade, nunca entendi de onde vinha.
           Tornei-me amargo. Meus machucados devem ter se transformado em calos, pois fiquei duro, cascudo, arredio. Passei a me esquivar das cosias que poderiam, mesmo remotamente, incitar meus sentimentos. Não tinha mais controle sobre eles, então tentei mantê-los quietinhos, lá dentro, lá no fundo. E a ausência destes sentimentos me deixou seco e, confesso, até mal educado. Tornei-me algo insuportável, negativo, sempre se lamentando entre meus amigos. Aliás, afastei quase todos de mim, os que restaram foram aqueles que tinham uma incrível capacidade de me suportar, alimentando uma quase eterna paciência, e lhes agradeço por isso.
           Enfim, passei a ser a maçã podre do cesto e tive que sair. Não seria justo que os meus problemas tão bem nutridos por minha insatisfação, que meu pessimismo tão bem disseminado, que minha aspereza que tanto fiz questão de esfregar na cara de quem me estendeu as mãos, afetem as vidas daqueles que tanto me querem bem.
           Cansei de lutar e não chegar a lugar algum. Cansei de tentar e pagar preços por aquilo que nunca consegui ter e quando tive não fui capaz de manter, lamentável. Como disse Camus: Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer. E diante desta máxima, entendo que, na verdade, tive apenas um único problema: eu! E como meu responsável, usei meus poderes para resolver minha situação. Apesar de egoísta foi o modo mais eficiente que encontrei.
           Aos meus amigos: meus profundos agradecimentos por fazerem parte da minha vida, por sempre me apoiarem, por sempre me emprestarem os ombros e por me proporcionarem os melhores momentos da minha vida.
           Aos meus colegas: meus sinceros votos de sucesso, que vocês se tornem cada vez mais especiais e brilhantes em seus caminhos.
           Aos meus amores: minhas saudades, meus carinhos, meus desejos, meus mais profundos e verdadeiros sentimentos, minhas desculpas por não ter sido aquilo que lhes prometi, não ter seguido nossos planos e ter partido sem mais nem menos, sem nunca olhar para trás
           Ao meu amor: o maior amor que senti em toda a minha vida, os meus melhores momentos, meus melhores carinhos, meus mais profundos desejos, minha vida. Saiba que lhe amei como nunca amei ninguém, lhe desejei como nunca desejei alguém, nunca tive com ninguém o que tive com você. Você foi a melhor coisa que aconteceu em toda minha vida! Nunca esquecerei seu cheiro! Me desculpe por não ter agüentado lhe esperar.
           Aos meus irmãos: minhas mais dolorosas desculpas, por partir, por ser intolerante e causar tantas brigas, tantos arranhões, tantas injustiças. Sei que haverá sempre um vazio entre vocês, mas talvez seja melhor que um preenchimento amargo. Meus discos, meus livros, tudo, fiquem à vontade. São para vocês, sem brigas, hein?!
           Aos meus pais: obrigado pela oportunidade e por tudo aquilo que o amor de vocês me proporcionou. Mas me desculpem, não fui sábio o suficiente para mantê-la, fui fraco e covarde. Perdão pelas decepções, pelas notas baixas, pelas brigas com meus irmãos, pelas travessuras, pela ausência e agora, por partir. Ah, mãe: na verdade, fui eu quem colocou aquele sapo na sua gaveta de calcinhas e não minha irmã, como eu havia dito.

           A todos: todo o meu amor (sim, é verdadeiro e enorme, mas minha dor é maior), todos os meus mais sinceros sentimentos e minhas eternas desculpas, mas não dá mais! Quando se lembrarem de mim, imaginem que fui viajar para um lugar distante, não em busca da minha felicidade, já que sempre justifiquei todos meus atos com essa infinita busca frustrada, mas em busca do meu lugar, do meu sossego, da minha paz.
           Levo comigo meus sonhos, minhas idealizações, meus objetivos de vida, minhas supostas razões para ser feliz. Não os compartilho, porque foram os meus maiores erros: sonhei demais e meus sonhos se tornaram suficientemente enormes dentro de mim que transbordaram e inundaram minha realidade, afogando todos os meus sentimentos, afinal eram sonhos e sonhos que não consegui realizar, nem chegar perto, por minha tão grande culpa!
           Seja lá para onde eu esteja indo, levarei um pouco de cada um de vocês comigo, senão tudo. Sei que desculpas não são suficientes, mas é o que me restou: desculpem-me! Saibam que estarei melhor assim!

          Adeus!


P.S.: espero que a toalha molhada no pescoço tenha ajudado, não queria estragar também o funeral.

terça-feira, 24 de março de 2009

Um autor anônimo propõe: Pedaços

(Um amigo deixou um pouco de si escapar pela caneta. Somente consegui convencê-lo a publicar seu texto sob a condição do anonimato.)


Onde foi que tudo se perdeu?
Aquilo que era a essência de tudo foi ficando pra traz, um pouco em cada despedida, não definitivas mas despedidas.
Eu olho pra traz e vejo um pouco de mim espalhado pelo espaço, como se tivesse sido jogado ao vento, e o que ficou precisa ser transformado para que eu possa continuar a viver, pois essa essência é o ar que respiro e preciso para continuar vivendo.
Confesso que não consigo deixar pra traz os que levaram um pouco de mim, mantendo todos ligados a mim como a um cordão umbilical.
Pode ser que isso seja visto de forma devassa, mas é a maneira que encontrei de me manter vivo.

Anônimo

quarta-feira, 18 de março de 2009

Meus Caminhos: Minha Vida

(Este texto participou do concurso "Premio internacional de Poesia 'Castello di Duino'", mas também não foi classificado)

São diversos os caminhos que compõem minha vida.
Caminhos dos mais diferentes e inusitados tipos, como aos de muitos,
Mas meus caminhos são os meus caminhos, feitos para mim.

Caminhos que definem o meu eu,
Não por semelhança e nem por forma,
Mas pelo como foram percorridos,
Pelas maneiras que foram vividos.

Caminhos formados, prontos, dados,
Dos quais nem retas pude escolher,
Nem curvas pude angular,
Apenas decidir se ir.

Caminhos pelos quais me vou, me fui, estou.
Caminhos que me entregam a diversas encruzilhadas,
Que me arrepiam o corpo, que me gelam a alma,
Onde eu tenho que escolher o para onde seguir.

Encruzilhadas deviam ter placas: bom e ruim;
Mas apenas são encruzilhadas [é onde mora o sentido da vida].

E diante destas encruzilhadas revejo minha vida,
Revejo os outros caminhos que escolhi,
Passo por outros caminhos de outros.
E é o próprio caminho que me leva de volta às outras escolhas. Aquelas.
Mas não a elas, mas próximos delas.
Longe o suficiente para não me permitir perceber a corretude da minha decisão.

Olho para trás, nada existe, nem minhas pegadas;
Apenas um infinito abismo repleto das minhas lembranças:
Lembranças daqueles que fui, daqueles que me transformei, daqueles que já não mais sou;
Transbordando minhas dores, meus sorrisos, minhas lástimas e meus deleites.

À minha frente, decisões, curvas perigosas, pontes velhas e quebradas.
Às vezes tenho vontade de me sentar, chorar e, talvez, esperar que uma reta plana se forme.
O medo me toma conta, a insegurança me consome, minhas pernas falseiam.

Mas é a esperança de caminhos melhores e de uma chegada completa
Que me faz persistir, produzir forças e continuar o meu caminho.

A simples possibilidade da plena felicidade idealizada em meus sonhos acordados
Faz com que eu prefira eternamente pagar o preço de me aventurar por e para ela,
Ao invés de me sentar e passar uma vida e meia imaginando se valeria à pena.

São meus caminhos, que formam a minha estrada.
Apenas uma de muitas, mas minha: única!
Nela nasci e nela serei finito, e assim, será sabido seu fim.

terça-feira, 10 de março de 2009

Sonsatez

Hoje entendo essa minha estranha capacidade de perceber as coisas que acontecem ao meu redor.
Percebo-as por mais miúdas que sejam, por mais rapidamente que desapareçam, por menor que sejam suas intensidades, mesmo nas mais escuras sombras em que tentam escondê-las.
Em algum momento, acreditei quer era um daqueles presentes divinos, um dom, um poder.

Excomungo!
Não tem nada de presente, nem é um dom, é uma maldição...maldita!

Quem me dera ser eternamente pleno daquela inocência pueril que apenas me permitia sentir a bondade das pessoas e tecer as mais prazerosas e profundas relações.
Quem me dera ser tapado o suficiente para não entender as armadilhas que meus queridos me preparam; apenas as dos pássaros.
Quem me dera não ter tido esta curiosidade pela vida que desde meus primórdios me faz descobrir, às duras custas, verdades que pensava não existir em meu mundo.
Quem me dera ser bicho do mato, selvagem, para não ter aceitado o cabresto e ter podido correr para longe do entendimento, de volta para minha toca.

Queria não entender as mensagens ocultas reveladas pelos olhos infiéis – contraposições às palavras e atos.
Queria ser analfabeto de instinto a ponto de não ler nas linhas, quiçá entre elas.
Queria ser tão gélido quanto necessário para manter-me petrificado, impassível fronte aos mais desejados e temidos sentimentos. Irredutível, inabalável.

Precisaria de uma pitada de sonsatez na minha vida para que ela pudesse ser mais leve e vivível, prezível.
Pensando bem, preciso é de um porre disso!

segunda-feira, 2 de março de 2009

Tia Cristina propõe: O Anjo e a Pérola

Este texto é de autoria da minha Tia Cristina que há muito o havia preparado e agora o resgata lá do fundo do baú da sua vida!

Nas entranhas do oceano
Há uma concha especial
Onde vive uma pérola
E um anjo celestial

Esta amizade é velha
Vem de tempos infinitos
Sabe Deus onde começa
Sabe Deus onde termina

Descoberto tantas coisas
Evidências e mistérios
Turbilhão no oceano
Injustiças, impropérios

Esse impacto estrondoso
Prende a concha às raízes
E a pérola confusa
Deixa o anjo em cicatrizes

E a dor insuportável
Que sufoca o querubim
Leva-o fora da concha
Separando o amor sem fim

E a ostra vaidosa
Com a pérola que fez
Ornamenta-se da jóia
Fere o anjo de uma vez

Mas no mundo tudo é sonho
Longe da realidade
Um dia a pérola parte
Parte pra eternidade

Ficando tudo possível
Já que o anjo é do céu
Vão se juntarem de novo
Numa poesia sem véu.

Por Cris Magrin