terça-feira, 25 de março de 2014

Vários Mundos

Mal anuncia o sol o novo mundo,
suspende o calor ao ar os restos do outro:
aromas indigestos, podridão adocicada,
restos e expurgos de outros bichos, de outras vidas.

O novo denuncia o morto,
toma-lhe as sombras,
revela os atrasados que rastejam
azedos, lambuzados e mutilados,
para os buracos de onde saíram.

Vêm-se os novos,
tão iguais e tão piores
desviando passos e olhares,
pensamentos e suspiros,
derramando asco e descaso.

Vão-se os outros,
fervilha o mundo novo,
sorrisos e cores o cobrem,
bolsos e barrigas se empanturram,
egoísmo e arrogância o inundam.

Mal anuncia a noite o outro mundo,
vão-se às pressas estes novos,
a fugir daqueles velhos
que saem inflamados e sedentos [novamente]
pelos restos sujos e migalhas azedas
que lhes sobram destes vários mundos.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Daqui de Onde Vejo

Daqui de onde vejo passam casais,
Passam crianças e passam adultos,
Passam sorrisos e passam gentilezas,
Passam o sol e passam as chuvas.

Passam as vontades por “nãos” perseguidas
Da compreensão, nunca pedida, não passam nem as sombras
Da aceitação, princípio da existência plural, nem os vultos passam.

Ficam o amargo de sonhos engolidos a empapuçar a garganta,
E a impotência de descasos concedidos pelas turbulências da vida,
Fica o descompasso do cansaço da incessável busca pela saída,
Vão-se as forças e a saúde, que outrora foram tratores que tudo moviam.

Pairam as mentiras, borbulham as decepções.

De olhares amistoso e tímidos, ficam as súplicas veladas,
Das feridas que vazam entristecidas, ficam os ressentimentos de suas causas.

Daqui de onde vejo passam nuvens
Passam pássaros que há muito não são os mesmos.
Passam as mágoas e ficam as unhas encardidas e o cabelo desgrenhado.

A janela continua aberta, mas não há porque saltá-la.