quarta-feira, 28 de março de 2012

O Bem-Te-Vi Manco

          Quando eu era pequeno, estava passando pela praça perto de casa, em Santa Gertrudes, e percebi algo voando meio desengonçado por entre as plantas. Fiquei curioso e fui atrás para ver o que era. Vai daqui, vai dali, e eis que sai um bem-te-vi. Ele ficou parado por alguns instantes olhando para mim com olhos vidrados. Não entendi bem porque ele ficou tão parado e resolvi dar uma olhada mais de perto. Ele se debateu, atrapalhado, num nem voar, nem saltar. Estava manco! Foi quando percebi que uma das pernas estava completamente dependurada, presa apenas por uma tira de pele. Sem pestanejar, mas com jeito, consegui pegá-lo e o levei para casa.
          Meu pai sempre criou canários e vez ou outra o via realizando procedimentos, digamos, veterinários. Entreguei o coitado para meu pai pensando que ele poderia “colar” novamente a perna do pobre coitado. Não teve jeito. Após exames minuciosos, veio o diagnóstico: teremos de amputá-la! Fiquei um bocado chocado, pois só pensava em qual seria o jeito que meu pai daria para “colar” a tal da perna do bem-te-vi. Em momento algum pensei numa amputação. Mas, sem quase eu perceber, meu pai cortou o que restava da pele. Eu me retorci, ele fez um curativo simples no que restou da perna e colocou o bem-te-vi em uma gaiola com comida e água à vontade, se virou para mim e disse para o deixarmos sozinho, me explicando que ele melhoraria.
          Os dias seguintes eu passei ansioso. Visitava o bem-te-vi antes da escola, depois da escola, durante as tardes, no começo da noite, e antes de dormir. Sempre tentava me certificar de que o curativo havia sido feito, de que ele estava se alimento e bebendo água, de que estava se equilibrando bem e de que seu olhar estava menos penoso.
          Mas os tais dias seguintes foram poucos e rápidos. No último deles, meu pai me chamou e disse: Ele já está bom, vamos soltá-lo!
          Fiquei sem reação. Por mais que soubesse que um dia iríamos soltá-lo, não esperava que fosse naquele, ou talvez, de alguma forma, em algum lugar, acreditava que nunca iríamos soltá-lo, que ele seria meu, que eu poderia cuidar dele pelo tempo que durássemos. Mas nada fiz, nada disse, apenas acompanhei meu pai até o quintal que colocou a gaiola em uma mureta, abriu a portinha, pegou o bem-te-vi, tirou-o da gaiola e abriu a mão.
          Não me lembro para qual lado ele foi, mas lembro de que ele saiu voando imediatamente, entusiasmado como se nunca tivesse se machucado. Voou sem olhar para trás, sem agradecer e logo desapareceu. Não cheguei a ficar triste, foi tudo muito rápido e eu estava um tanto atrapalhado com tudo; mas senti uma sensação boa, uma sensação de ter feito algo certo, de ter ajudado, de ter cumprido um papel importante na vida daquele bem-te-vi, o meu bem-te-vi manco.
          Nunca soube o que aconteceu com ele, nem haveria como. Mas desejei e, acima de tudo, acreditei que ele tivesse ficado bem. Mas, ainda mais acima de tudo, aquele dia me mostra hoje que a vida segue, que cada um segue, que todos seguem e que tudo passa. Aquele dia me mostra hoje que havemos de viver saboreando o que pudermos de bom de tudo o que passamos, havemos de sorrir mesmo que tímidos ou entre lágrimas, havemos de voar por nossos sonhos e por nossas ternas lembranças, havemos de fazer valer a pena. Aquele dia me mostra hoje que foi o meu bem-te-vi manco que teve um papel importante na minha vida e me ensinou a não ser mais o cativo do tal do Bilac.

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Já que citei, fica a dica da poesia "Pássaro Cativo" do Olavo Bilac.

terça-feira, 20 de março de 2012

Vela Velha

Em um canto escuro,
Sozinha e inconformada,
Agoniza em seus últimos relutantes flamejos,
A se esquivar do repouso final em um fundo qualquer,
Irreconhecível e flácida, aquela que foi um dia uma vela formosa,
Que provocara sorrisos e conforto ao ser acesa,
A espantar, vívida, a escuridão daqueles que a cercaram, um dia.


quinta-feira, 15 de março de 2012

Culturando (Sessão Remember)

Há um pouco mais de dois anos, participei do programa "Culturando" da Odila Góes, na Rádio Cidade de Santa Gertrudes (minha terra). A Odila é uma das mães da minha tão memorável turma de grandes amigos da minha infância e que, ao encontrar meu trabalho, me permitiu este grande momento. Este foi um grande momento para mim, um momento que levarei para meu sempre com muita alegria; um retorno, uma nova apresentação de um "eu" diferente às minhas próprias raízes.

E é por isso (e um pouco mais), que proponho novamente esta postagem. Vale a pena ver, ler e ouvir de novo! [E também rir de mim gaguejando nervoso..rs]

Culturando em Santa Gertrudes: Presente de Aniversário! (é só clicar!)


Abraços a todos!

terça-feira, 6 de março de 2012

Existe...

Em um momento de inspiração, de forma repentina e espontânea, minha tia Cristina criou este texto e me enviou. Não dá para ficar na gaveta!

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Existe mal e bem nesse mundo, mas a escolha depende de cada um de nós.
Existe o sol e existe a lua, cada um a iluminar seu período, alguns preferem a claridade, mas outros a escuridão.
Existe a trindade em cada um de nós, se pensarmos em mente, corpo e alma, mas nós somos apenas um.
Existe um risco para cada uma de nossas ações, o resultado pode ser bom, mas também pode ser desastroso.
Existe um legado repleto de boas intenções, mas essas podem se tornar pesarosas.
Existe um grande número de pessoas aniquilando seres inocentes com apenas palavras, mas que depois de proferidas vão desempenhar sua função.
Existe a água que cura e que mata a sede, mas essa mesma água é capaz de destruir um metal.
Existem aqueles que julgam, mas condenam, sem sequer darem uma chance de defesa às vítimas.
Existem aqueles que conspiram e humilham sem pudor, mas a natureza se encarregará do retorno.
Existem juramentos e alianças que são feitos, mas que por ignorância se perdem no além.
Existe uma vida após a morte, mas algumas pessoas preferem morrer já em vida.
Existem seres que precisam evoluir, mas já reina aqui na terra os seres imortais.
Existem bruxas e fadas, mas precisamos descobrir quem é quem.
Existe amor suficiente nesse mundo, mas muitos preferem o ódio.
Existe uma infinidade de perguntas a serem respondidas, mas existe apenas uma resposta que revela tudo:
Evolução!

Por Cris Castellar.

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Aproveitando, tem nova contribuição minha no Livro e Afins, confiram "A Profecia de Orwell".

segunda-feira, 5 de março de 2012

Resultado do Sorteio do "Desce Mais Uma! - Primeria Rodada" no "Livros e Afins"

Pessoal, já saiu o resultado do sorteio

Confiram a lista dos sortudos: http://sorteie.me/fb/a8C

Parabéns aos vencedores (já enviei mensagens a vocês para envio do livro)!!

E obrigado a todos que participaram se inscrevendo e/ou divulgando aos amigos!

Grande abraço a todos!!