segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Multipoesia: desceu uma na Itália!


Há alguns meses, a arte contemporânea ganhou um novo aliado, um novo e interessante canal de disseminação: a Revista Multipoesia, que se propõe a divulgar, semestralmente, o trabalho de artistas contemporâneos de todo o mundo, através de uma mistura peculiar de poesias e gravuras; palavras e imagens. A fim de permitir maior disseminação, todo o conteúdo da revista é apresentado nos idiomas italiano e inglês.

"Multipoesia é o nome dado à idéia de reunir poetas inéditos contemporâneos imergindo-os em figurações hiperrealistas e não didáticas. Onde tais desenhos revestem a tarefa de romper a realidade para tentar nos transferir a lugares de lógicas metafóricas, reais ou não." Marco Antinolfi - Editor.

Sob este foco, Multipoesia teve sua edição número zero publicada em 2008 e por ser uma edição de divulgação está totalmente disponível no site, onde há vídeos e informações relacionadas. Com uma ótima repercussão comprovada, a número um foi recentemente lançada e é com muita felicidade e prazer que informo a todos que esta edição carrega meu texto "Homem-Boneco"(Uomo-Fantoccio)! Sim, Desce Mais Uma! está nas prateleiras italianas e começa a se tornar menos virtual.

Agradeço a todos que tem me acompanhado e que vibram comigo neste importante passo do meu trabalho, além de toda equipe da Multipoesia que me proporcionou esta grande oportunidade!

Grazie e saluti a tutti!!

Rafael

domingo, 15 de fevereiro de 2009

À Minha Espreita

(Este texto participou do concurso II Premio Nazionale di Poesia “Poesie al mondo”, mas não foi classificado)

Sei que está aí, me seguindo soturna como cobra furiosa, transbordando veneno.
Há tempos tem rondado meu caminho, escondendo-se nas minhas sombras, não é?
Lhe vejo nas curvas da estrada, do outro lado da rua, no carro que vem, no homem que se vai.
No meu retrovisor, sentada no banco de trás, sorrindo para mim. Irônica!

Seu olhar me arrepia, seu sorriso me petrifica, minhas mãos gelam, ao simples lhe notar.
Meu coração dispara e o sossego me some,
Minha testa se derrete em um suor frio e incontrolável. Sádica!

Está se divertindo, não está?
Não é capaz de se satisfazer nem mesmo com este genocídio purificador?
Se aquiete, descanse, tem feito muito ultimamente. Tire umas férias.

Haverá outros sem oportunidades com quem poderá se ocupar.
Não ouve os pedidos? As preces? As súplicas? Ora, deleite-se!

Agora vamos, saia de trás dessa porta e volta!
Diga a ele que agora não. Quem sabe depois, mas não agora.
Não é a hora, não quero, não lhe permito: há muito que ser feito, e o será!

Não adianta, lhe ignoro, lhe excomungo, rio de você. Criança!
Apenas espere por mim. Longe de mim.
Prometo que quando decidir, lhe chamo. Mas não agora!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Dedos Podres

Sou o vinagre que impregna sua água,
Sou o óleo que mancha seus rios,
Sou a praga que avassala sua plantação,
Sou o vento que tomba seu lar.

Sou a fome que leva suas crianças,
Sou a guerra que limpa o mundo,
Sou o ódio que seleciona os puros,
Sou a excelência que condena os culpados daquilo que não fizeram.

Sou a sujeira debaixo de suas unhas,
Sou a violação da rua de trás,
Sou a intolerância que arrebenta a carne,
Sou o dedo podre que cutuca sua ferida pútrida.

Sou a arrogância que lhe rebaixa aos porcos,
Sou a ostentação que lhe remete ao nada,
Sou a ordem que atropela seus desejos,
Sou a lei que lhe rouba a felicidade.

Sou a noite que chega eterna,
Sou o frio que lhe tranca em si,
Sou a angústia que lhe corrói,
Sou os pesadelos vivos que lhe perpetuam a insônia,

Sou a peste que envereda por suas veias,
Sou o câncer que lhe come viva,
Sou o demônio que lhe acompanha à esquerda,
Sou o pecado que calam os santos.

Sou o êxtase que lhe contorce o corpo enlouquecido,
Sou a felicidade que lhe faz tudo ter sentido, sendo.
Sou o amor que se enerva em suas vísceras,
São meus braços que lhe envolvem na noite fria, junto ao meu peito – onde pode descansar.
Durma!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

"Yeti": uma homenagem de Aloizio dos Santos

Alguns dos textos deste blog são também publicados no site Recanto das Letras, que possibilita a publicação de trabalhos artísticos de diversos autores. Entre uma publicação e outra, acabamos conhecendo colegas de grande estima. Aloizio dos Santos (ou Kiko dos Santos) é um destes colegas e me deixou muito feliz ao me homenagear com o poema "Yeti", abaixo! Sensacional! Muito obrigado, Kiko!!



este tal homem "das neves"
nem de longe abominável;
poeta inominável
com seu jeito pensativo
às vezes intuitivo
vida produz
frases que doce conduz
e nos induz a ver beleza
até no monturo
percebe longe o que não sei
mas que procuro
e banqueteia-nos com branduras
retiradas de sua amargura
pois de seu sal, doçuras faz
até de seu fel, tira mel
assim exala alegria
amizade que contagia
e a todos faz sonhar

quem sabe, homem "das neves"
um dia, também "das neves"
vou me auto-nomear !
tentando, quem sabe assim
desta grandiosa lenda
um irmão seu me tornar !!!


Aloizio dos Santos