sábado, 31 de julho de 2010

Desce Mais Uma! na CBN - Blog do Mílton Jung

Olás!!

Esta semana minha crônica "Uma Maça: R$ 1,28" foi publicada no site da CBN, no blog do jornalista Mílton Jung.

Gostaria de compartilhar com vocês este grande e importante momento do meu trabalho (é um grande passo): http://colunas.cbn.globoradio.globo.com/miltonjung/2010/07/30/por-uma-maca-r-128/

Aproveito para agradecer a todos que me acompanham e me mantém firme nesta caminhada, e ao Mílton pela grande oportunidade!

Abraços a todos e obrigado!


Imagem: site da CBN, endereço acima mencionado.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quando Me Dei Conta

Não me lembro se foi ontem ou no mês passado – talvez na semana passada – que me dei conta que se dar conta era perda de vida.
Mas naquele dia, quando me dei conta, já não havia o que ser perdido, tudo já havia se ido e nem havia me dado conta.

Além de mim, restavam apenas as paredes amareladas, os móveis escorados e as cortinas esfarrapadas, e nem havia me dado conta.

O corpo já não era o mesmo, tinha outra forma e estava pesado – difícil de controlar e ordenar.
A mente estava desatinada em pensamentos e memórias imemoráveis que pesavam o ar gorduroso que há tanto havia enclausurado.
As mãos rijas e encardidas, repousavam arqueadas sobre um jornal velho com dizeres ofuscados, e não prestavam nem para arrumar os longos cabelos oleosos que pendiam à testa riscada.

Já era tarde e o sol se punha quando me dei conta que tudo havia se ido sem nada ter sido feito, que tudo se havia passado em um simples se dar conta, mas sem se dar.

Ao me dar conta daquele vazio, me levantei assustado e abri a janela pondo-me ao frescor e ao colorido pincelado que precedem o ocaso de outono.
À minha frente, a sanhaçuíra se aconchegava em seu ninho, sem comigo se importar;
No pátio, crianças corriam às gargalhadas das mães furiosas que as perseguiam para o banho.

Então, tomado por uma estranha sensação que me formigava todo o meu corpo, me dei conta que sorria novamente.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Suficiência

Olás!!

Há meses estou maturando um projeto para um novo livro e agora o primeiro passo foi dado: este ensaio piloto. Trata-se de uma obra com ensaios que estendam as definições de determinados substantivos abstratos, que se fazem fortemente presentes e determinantes no cotidiano das relações (preferencialmente amorosas), estritamente segundo a minha existência. A ideia é ser impessoal e produzir um ensaio para cada substantivo abstrato de uma lista que estou concluindo, seguindo a linha estrutural e estilística deste primeiro: Suficiência.

Assim sendo, considerando este texto como exemplo, gostaria de poder contar com sua opinião sobre este projeto, seja respondendo a enquete "O que achou deste projeto?" na barra ao lado, seja registrando seu comentário/sugestão.

Desde já, agradeço a todos...

Abraços,

Rafael


Suficiência

suficiência
su.fi.ci.ên.cia

sf (lat sufficientia) 1 Qualidade de suficiente. 2 Quantidade suficiente. 3 Classificação escolar de suficiente. 4 Aptidão suficiente; habilidade. 5 Abastança material ou espiritual.

*          *          *

          Angustiantemente perseguida pelas partes em uma relação, tentando suprir quaisquer necessidades e expectativas da outra para que ambas fundam-se em uma só, para que se solidifique a relação e para que seja sufocada a insegurança de uma possível perda. Mas suficiência é o limite que determina a satisfação das necessidades e, por essência, provoca a geração incondicional de novas e o descarte das anteriores.

          A novidade de uma nova relação vem acompanhada dos vazios dos envolvidos a serem preenchidos. Vazios que se justificam pelo simples fato de os envolvidos terem o mínimo de conhecimento um do outro e, naturalmente, estarem carregados de feridas, desejos e, principalmente, expectativas inevitavelmente omitidas. Ao desenrolar da relação, estes vazios são preenchidos, e a ligação torna-se cada vez mais sólida e agradável pela confiança adquirida entre as partes durante toda essa troca: a exposição e a satisfação incondicional das necessidades de um para com o outro ou, simplesmente, o preenchimento dos vazios.
          Contudo, esta troca é um processo que se torna cada vez mais delicado e que deve ser tratado pelos envolvidos com zelo e consideração, especialmente nas relações amorosas, nas quais existe uma intensidade mais acentuada. Além da necessidade natural de aproximação, nas relações amorosas existem outras necessidades que se manifestam pelo desejo da presença um do outro em suas respectivas vidas. A descoberta e a satisfação entre e das partes neste tipo de relacionamento tornam-se necessárias de modo a estabelecer, o quanto antes, a fundamentação da relação, tanto pela insegurança da perda como pela ânsia em se fazer presente na vida um do outro, de maneira que se preencham os vazios, buscando a completude mútua, sendo um mais que suficiente ao outro. E é justamente por este motivo que se faz necessário o cuidado que deve ser atribuído a este processo.
          Fazer-se suficiente é uma busca natural de ambas as partes por conta da atração sentimental que cresce entre elas. Querer o bem do outro é, antes de tudo, querer estar junto do outro, ou que o outro esteja junto com o um – seja lá a situação boa ou ruim. Ser suficiente é ser quisto, ser necessário, ser possível ao outro de maneira estável e confiável. Ser suficiente é o que permite o caminhar de cabeça erguida e peito aberto. É o poder olhar nos olhos com confidência e plenitude e transbordar-se sem palavra alguma. É o simples poder estar junto sem nada fazer, apenas compartilhando a existência mútua.
          Suficientes são os casais idosos em que as partes sustentam a existência uma da outra após uma vida juntas. Suficientes são os jovens apaixonados que se prometem um ao outro, com brilhos nos olhos e corações palpitantes, para toda uma vida. Suficientes são amigos que depois de um longo tempo de amizade sabem o que se passa um com o outro através de um simples olhar. Suficientes são os cuidados despendidos pelas mães aos filhos.
          Mas, justamente por satisfazer as necessidades e preencher os vazios dos envolvidos, é que a suficiência pode tornar-se, facilmente, uma arma contra a relação, levando-a a um declive quase que irreversível. A satisfação das necessidades de um pode acabar com os propósitos da existência do outro na relação; ou simplesmente anulá-lo e incorporá-lo como uma parte medíocre da rotina. Para expor melhor a ideia, olhemos para os envolvidos de uma relação e consideremos que um deles atinge a suficiência em relação ao outro. O momento que se segue ao se atingir esta suficiência, ambos estão em êxtase: o que buscava ser suficiente, por se tornar pleno, com elevado grau de importância, na relação; o que recebe esta suficiência, por ter suas necessidades satisfeitas e vazios preenchidos, enxergando o outro como sua fonte transbordante. Contudo, o segundo passa a não ter mais o que lhe instigar, o que procurar, o que sentir falta e isso faz com que o primeiro, que está, no mínimo, tentando manter sua conduta de sucesso, perca seu brilho e passe a ser um incômodo constante e que, por não ter mais o que satisfazer, não tem mais serventia clara e pode ser descartado. Em algumas situações, pode-se ter atingido a insuportabilidade, que pode até durar a vida toda; em outras, o fim propriamente dito e escarrado. Em ambas, o brilho e a intensidade com que tudo começou, as intenções e necessidades transbordantes de satisfazer que se faziam presente, e inclusive se justificavam, são simplesmente ignoradas como se nunca tivesse existido, quando muito, têm o seus fins justificados e conformados pela rotina, pelos caminhos que a vida toma, pela simples existência, como uma etapa qualquer no roteiro pré-definido da vida humana. Insatisfações são geradas, novas necessidades demandas e reclamações inventadas. E nesse turbilhão que se forma, um é lançado contra o outro, todos se machucam até que um resolve tirar o outro (ou sair) da relação.
          Um pouco de saudosismos dos tempos iniciais ou dos sentimentos e necessidades de satisfação própria, ou para com o outro, funciona como adubo para a relação, de modo que um sempre se lembre dos porquês que permitiram que o outro fizesse parte da relação e pudesse assumir e executar, com prazer, suas tarefas de saciador de necessidades. E esse saudosismo deve ser concebido por todos os envolvidos, de maneira simples, mas constante. Olhares fazem isso muito bem, aqueles olhares que duram um instante, mas um instante que une profundamente as parte revelando todo o passado, todos os motivos para o serem. E também estes olhares devem ser permitidos e serem verdadeiramente recebidos, pois a rejeição, ou a não aceitação, ou a imposição, culminam no estrangulamento dos sentimentos alheios, e a suficiência destratada faz exatamente isso: descarta grandes descobertas, seca!

domingo, 11 de julho de 2010

Uma Maçã: R$ 1,28

Ontem, ao sair do metrô, no caminho de volta do trabalho para casa, fui ao mercadinho de bairro para comprar pó de café – desses mercadinhos que lembram os antigos armazéns, as “vendas” e que são rapidamente engolidos pelos grandes supermercados de rede. Justamente pela falta de opções, peguei um pacote de pó de café menor do que costumo comprar, já que era de um tipo que até me agrada, mas não era o meu preferido.
Apenas com o pacote de pó de café à mão, fui ao caixa pagar minha conta e ir logo para casa. A hora era avançada e já estava esfriando. Ao me aproximar, mapeei os demais clientes e me posicionei onde pensei ser o fim de uma das filas, bem ao lado de um cliente indeciso que estava plantado entre os dois caixas sem saber o que fazer, apenas esperando que o dissessem. Seria minha vez, mas, enquanto aguardava o cliente que empacotava suas compras já pagas, a “moça do caixa” pediu que outro cliente, também indeciso, passasse à diante dos demais. A forma delicada e gentil que a “moça do caixa” fez o pedido denunciou que se tratava de um atendimento preferencial. Abri espaço e aguardei. Não tão logo, passou por mim uma senhora de idade muito avançada, andando com dificuldades e deixando um cheiro forte e nauseante, semelhante àqueles que se sente debaixo dos viadutos, mas em uma intensidade menor.
A senhora era baixa, não apenas por ser tão arqueada, mas por sua natureza. Suas roupas eram farrapos encardidos e fedidos, amarrados e enroscados uns aos outros. Suas pernas tinham as juntas rijas e estavam cobertas por grosseiras meias velhas, terminando em sapatinhos pretos e furados, daqueles típicos das vovozinhas. Na cabeça, usava um lenço que provavelmente um dia teve cores e formas definidas e que cobria longos cabelos aglomerados e completamente brancos pela natureza e amarelados pela situação. As unhas eram enormes e causavam um aspecto assustador. Aos braços e pescoço, sacolas e trapos estavam dependurados carregando tudo aquilo que, provavelmente, ela definiria como seu patrimônio. A imagem dela me lembrou muito daquelas senhoras russas que, depois da queda, passavam os dias em longas filas frias para ganhar um prato de sopa, e me lembrou também que já a tinha visto pelas redondezas, principalmente jantando, a altas horas da noite, na padaria na saída do metrô, onde costumo parar para um último lambisco após longas noites de diversão.
À “moça do caixa” a senhora entregou, com o braço atrofiado, um saquinho com uma única maçã vermelha, a qual foi pesada e precificada a R$ 1,28. O anúncio do valor deve ter retumbado nos ouvidos da senhora que se pôs a vasculhar freneticamente cada farrapo, cada vão, e a esvaziar cada sacola em busca dos R$ 1,28, enquanto praguejava – sem ofensas ou aspereza – contra a situação que se encontrava. Vendo que a situação se prolongaria, a “moça do caixa” fez um sinal com a cabeça e pediu que eu passasse à frente. Entreguei meu pacote de pó de café e ela me informou o valor. Paguei-o junto com a maçã e tentei me agilizar, mas foi inevitável presenciar o anúncio feito pausadamente pela “moça do caixa” à senhora: “O moço está pagando a maçã da senhora”. Peguei meu saquinho com o pacote de pó de café e tentei me virar e sair o mais rápido possível, mas a senhora já se dirigia a mim rogando em voz alta pela minha saúde e fortuna, agradecendo aos santos pela minha ajuda e coisas do tipo. Virei-me para ela a fim de receber e permitir seu agradecimento, mas não sei bem o que resmunguei engasgado e saí a caminho de casa.
É fato que esse não é um caso isolado nem único, mas fico aqui, hoje, com meu café do tipo que até me agrada, mas não é o meu preferido, pensando em tudo isso: passar por uma vida inteira, com tantas coisas, tantos acontecimentos, tantos infortúnios, tantas alegrias, tantos momentos – cujos adjetivos não vêm ao caso – e ter que sobreviver sozinha em um mundo em que apenas lutar não é suficiente, nem mesmo permitido, e ter que se esgueirar por tantos eventos, por tantas dificultadas, por tantas variáveis e improbabilidades para simplesmente conseguir um jantar sem nenhum sabor de dignidade, mas que, ao menos, permita que o dia seguinte aconteça: uma maçã a R$ 1,28.

domingo, 4 de julho de 2010

Terra Firme

Há tempos me cansei daquela infindável busca por tudo o que sempre entendi e defini como meu complemento, como minha razão de existência.

Há tempos desisti de me aventurar por montanhas, desfiladeiros, desertos, florestas, abrindo caminho, abrindo feridas, me rasgando, me mutilando e me diminuindo nessa busca insana.

Há tempos reneguei a tudo, não por me julgar incapaz; mas por ter entendido que eu mudava a paisagem e me corrompia na busca de algo utópico, absurdamente idealizado.

Há tempos parei e sentei para chorar meu último e mais impotente choro, escondido em uma caverna apertada, onde espantei todos os meus fantasmas e curei todas as minhas feridas.

Há tempos me levantei forte e me dei à luz, de peito aberto, passos firmes e coração limpo.

Há tempos me lancei sorridente ao mar em minha canoa, não em busca, mas avulso à maré e aos ventos, apenas sendo deliciosamente levado e saboreando sedento cada batalha – com os mais diversos monstros marinhos – da mesma forma que a cada por do sol que me era oferecido.

Hoje acordei náufrago em uma terra desconhecida e, ainda desorientado e assustado, entendi que atingira minha tal utopia, absurdamente em minha própria realidade!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Projeto Ver!

Há poucos dias, o Marcus Aragão disponibilizou na internet o seu projeto Ver! (http://ver.blog.br/), sob a proposta de associar o conteúdo dos blogs aos diversos canais de informação existentes, mas permitindo também que seus visitantes interajam com o sistema criando seus próprios canais e tópicos nos diversos fóruns.

A ideia de criar este novo sistema vem dos comentários existentes nos meus agregadores, nos quais confirmo uma demanda crescente das redes sociais, microblogging, onde o conteúdo é tipicamente menor, e a possibilidade de participação ativa dos visitantes. Apesar da estrutura do sistema estar focada para atender a divulgação de artigos (resumos) dos blogs, meu maior interesse está na facilidade de uso para os visitantes e na possibilidade de interação de quem não tem um blog e quer escrever. Por este motivo, decidi criar vários canais que possuem fóruns de discussão onde poderemos ter textos que ajudem nossos visitantes com dicas e tutoriais para os respectivos temas. É desta forma que pretendo criar um ambiente favorável para os visitantes, aumentando e transferindo a audiência do Ver! aos blogs participantes.” - divulgou Marcus.

O “Desce Mais Uma!” já está presente no Ver! e os contatos e abrangências de divulgação só aumentam a cada dia. Assim, convido aos amigos blogueiros e visitantes a conhecer e participar deste projeto que se torna uma grande ferramenta de divulgação e classificação de conteúdo.

Abraços...