terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Que Venha 2011!

É tempo de festas, festas para celebrarmos mais um ciclo que se encerra, para avaliarmos os ganhos e as perdas, os plantios e as colheitas e, acima de tudo, nos aliarmos, uns aos outros – ao menos nesta época – para iniciarmos um novo ciclo, sem deixar o que se passou, ao contrário, levando tudo o que somos, mas sempre olhando para frente, vivendo o hoje de braços fortes e coração aberto.

É tempo de refletirmos e decidirmos como pretendemos continuar. Não é tempo de arrependimento ou desânimo, mas aprendizado e renovação!

Agradeço a todos os amigos que estão sempre aqui a acompanhar e motivar cada vez mais este meu trabalho. Tenham certeza que isso tudo não teria chegado até aqui sem vocês e, por este mesmo motivo, irá ainda mais longe.



Desejo a todos nós um ótimo Natal e um excelente Ano Novo, que muita saúde nos seja permitida para que possamos continuar firmes em nossa caminhada, sem jamais nos perdermos dos nossos sonhos, assim, o resto virá de brinde!

Sonhemos e caminhemos!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Última Partida

Sem ao certo saber o porquê e nem sobre o quê ter entendimento algum,
Impaciente, ele aguardava, em pé, na plataforma vazia, por entre a densa névoa úmida, afora do seu tempo, de um acinzentado amanhecer de mal gosto.

Consigo apenas uma velha maleta alaranjada, suficiente para acomodar mais do que o tudo que lhe restara da caminhada própria,
Um surrado chapéu empoeirado a cobrir inutilmente a calva e alva cabeça,
Da qual evadiam desordenadamente memórias do seu todo, simples e únicas, quase verdadeiras como um dia foram.

Memórias que se iam e vinham, a se misturar e a se distorcer em improváveis probabilidades desconexas e formas quase irreconhecíveis, que lhe renderam diversas deleitosas e insuportáveis sensações:

A culpa, que lhe apertou os olhos reluzentes, deles precipitando amargas e doloridas lágrimas plenas de destruições e possibilidades.
A derrota, que a saliva lhe envenenou e lhe impôs a queda, sobre os próprios joelhos, ao lhe contrair o indignado abdômen, violentamente esvaziado à ausência da conquista.
A saudade, que, intermitente lhe palpitou o coração, pincelando sarcasticamente, com uma das mãos, um sorriso de canto e com a outra rasgando as fibras que restavam a bater no peito.
O cansaço, que lhe ofegou a respiração e, mesmo diante dos rijos e atentos músculos, prontos a defenderem-se, lhe pôs trêmulas as mãos calejadas e os joelhos esfolados a chacoalharem feitos jovens varas.
A certeza, que lhe congelou as entranhas ao se concretizar, pelo bater pesado dos cilindros que arrastam do horizonte a louca Maria fumegante, a lhe conduzir à última viagem, por terrenos desconhecidos e trilhos que de certidão somente a ida era garantida.

E, ao se mostrar em sua forma majestosa, ainda que ofuscada pela pesada cortina acinzentada e pelo desespero, que se tornou presente diante de seu aterrorizante berro histérico – tirano e anfitrião a todos os demais –, e lhe despejou o destempero e o calafrio da impotência sobre o tempo que se passou e se reprisou menor, ainda que completo, na simples plataforma, deixando consigo a verdade de que nada curou, apenas com um trapo cobriu.

Nada mais havia de ser feito, senão ao cobrador entregar o tão salgado bilhete, embarcar e deixar para traz memórias outras que em mentes, também outras, quem sabe, possam ainda sobreviver.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Na Pressão

Mais uma crônica - bem vivida - do Léo Monçores. Esta é realmente daquelas de mesa de bar. Léo, você tem razão, se quisermos problemas, basta procurar! Se cuida e traz logo estes resultados... Abraço!

*     *     *


        Não sei se algum dos leitores já passou por essa experiência, mas, em 24 horas vivi momentos inusitados por conta de um tal M.A.P.A (Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial), solicitado pela cardiologista para, obviamente, verificar a quantas anda a minha pressão arterial.

        Em 2007, fiz exames de rotina, tipo de sangue, ecocardiograma, teste de esforço e etc, para quem já está na faixa dos 40 e poucos, agora já muitos, isso é importante. Estava trabalhando em São Paulo e, num dia de semana, pela manhã, me dirigi ao hospital para os tais exames. Tudo corria bem até eu entrar naquela sala, onde estava uma atendente de origem japonesa, simpática, que me orientou a colocar os trajes apropriados para o teste ergométrico. Já de short e tênis, tive o torax depilado e os eletrodos devidamente posicionados.

        Ao subir na esteira para iniciar o teste, a médica responsável foi enfática:
        - Pode descer, o senhor não vai fazer teste nenhum! Sua pressão está 19 por 11! Vou encaminhá-lo para a emergência.

        Dito isto, ligou para o setor e vieram me buscar com uma cadeira de rodas. Já me sentindo indo embora para o outro lado da vida, fui para a emergência, onde, após medicado, fiquei em observação, sem nada sentir, por toda a tarde. Não sem antes preocupar minha mulher, que estava no Rio de Janeiro e achou que eu estava lhe escondendo algo.

        Após esse pico assintomático de pressão, iniciei a busca por seu equilíbrio. Cardiologista, acupuntura, mais cuidado na alimentação e exames anuais.

        Pois bem, com o retorno para o Rio e a consequente troca de médicos. A nova cardiologista solicitou os exames de rotina e o fatídico M.A.P.A. Como já dito no início deste texto, são 24 horas inusitadas.

        Vamos lá: Você recebe um aparelho que parece um antigo walkman (os mais antigos vão lembrar), aquele com fita cassete, pesando umas 400 gramas, depois esse aparelho é conectado a uma borrachinha, que passa por cima do seu pescoço, e vai até o seu braço, que fica apertado naquele artefato que infla quando medimos a pressão, não sem antes passar por entre os botões de sua camisa, já que o aparelho fica preso à sua cintura por um cinto, como uma “pochete” (estou soando antiquado?). Após a “instalação” do apetrecho, vêm as instruções. Não pode tirar em hipótese alguma, tem que fazer parte da sua vida por 24 horas, comer, dormir, tomar banho???!!! Não pode molhar, ou seja, banho só da cintura prá baixo, não sem antes tomar o cuidado de usar um cinto na altura do peito, pelado, para não correr riscos. As necessidades fisiológicas são um capítulo à parte, porque o infame aparelho não escolhe hora para medir a pressão e faz isso nos momentos menos propícios. E você tem que parar, senão ele aperta o seu braço várias vezes seguidas, até conseguir a medição satisfatória. Além do banheiro, tem a rua sendo atravessada, a reunião que você participa e tem que avisar a todos que está com o aparelho e que não estranhem se você ficar paralisado por uns dois minutos e, claro, a condução, onde fui muito “apertado”, pelo aparelho e pela multidão do cotidiano.

        O mais interessante dessa rotina singular é o relatório que precisa ser preenchido pelo já conformado paciente. Cada atividade deve ser registrada com o horário em que se iniciou ou terminou. “Subi 02 lances de escada, 14h00”. “Almoço, início 12h30, fim, 13h15”. “Caminhada de 10 minutos, início 15h10, término 15h20” E ele te apertando, na hora em que bem entende, e você quieto, senão, é pior.

        Finalmente, após o almoço, passadas as tais 24 horas de “tortura” fui devolver o “bicho”, antes porém, tive que ficar parado igual a um idiota em plena Cinelândia, em frente ao Teatro Municipal do Rio, por pelo menos dois minutos, esperando a medição.

        Ao chegar ao laboratório para entregar o aparelho, ainda fui “apertado” mais umas três vezes antes disso, depois, fui comunicado pela atendente que o exame tinha sido bom , ou seja, mais de 80% das medições ocorreram de forma considerada normal, e eu não precisaria repetir o exame. Fiquei aliviado, nem sabia que corria esse risco.

        Daqui há cinco dias, sai o resultado, o tal mapeamento do comportamento da minha pressão arterial. Espero que ela tenha se comportado bem e que não precise, tão cedo, fazer novamente o exame. O pior, ou melhor, talvez, é que os exames e verificações da saúde vão se tornar cada vez constantes com o passar dos anos. Espero ainda ter muitos para fazer, embora confesse que não gosto deles. Parece que estamos procurando problemas antes que eles nos achem. E quando achamos, mais problemas, é claro.

        Vida que segue, ainda bem!!

Léo Monçores

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Meu Amor Meu

Meu amor tem os mais amáveis, desejáveis e inexplicáveis sorrisos, únicos em suas formas e nos seus doarem-se; suficientes para contestar-me a existência e colocar-me no mais alto e sagrado dos altares.

Meu amor apresenta-se em um existir que flutua magicamente pelo meu mundo e que entranha-se pelos cômodos da minha existência, pulverizando-se em inesquecíveis e inexplicáveis aromas por todo meu todo, tocando cada canto escuro meu, pondo-me a contestar o meu próprio ininteligível e inexplicável ser.

Meu amor me lança um misterioso e desejável olhar que me suplica e me condena. Olhar este que me atravessa pelas mais espessas e rijas defesas e vê, em mim, aquilo que nunca nem eu soube ou saberei.

Meu amor ouve de mim os mais secretos suspiros, aqueles que à ninguém dou o merecimento e dignidade de notar, para, simplesmente, a minha integridade e essência manter, e disso se beneficia a me conhecer, para a mim sentir e julgar.

Meu amor canta sua doçura para que a mim possa se permear, cada vez mais e as feridas todas conhecer, e nelas tocar quando se irritar ou diminuído me quiser; delas limpa o sangue, sem as cicatrizar, para que delas possa, um dia ou momento, se valer quando convir ou, simplesmente, se fazer presente e cúmplice a mim.

Meu amor conhece os meus cheiros e todas suas razões para que a mim possa governar em sua vontade e a mim possa acolher em seu desejar secreto e, acima de tudo, fazer-se parte de meu existir.

Meu amor saboreia-me como um fruto maduro, prestes a desprender-se de seu caule e ao chão dedicar-se sua podridão, de forma que neste momento possa se mostrar presente feito medicina garantida à eternidade de nossa existência, por seus lábios sedutores e aniquiladores daquilo que tanto lutei para ser – sem ao menos saber se a pena valeria.

Meu amor é cruel e destemido em seu querer para si, e de mim tira todas as forças para sigo próprio, sem questionar ou relevar as dores que a mim se apresentam por todo o meu dia.

Meu amor tem dúvidas de si para comigo, para consigo, por mim e para conosco, as quais planto sem ciência e desejo, mas das quais tento resolver para que a mim se apegue, por confiança e merecimento, o meu amor.

Meu amor é único e querido a mais que mim mesmo, mas ainda não sabe – e nunca saberá, pois nunca conseguirei dizer – o quanto caminhei e lutei, nem quanto me quebrei e me acabei para encontrá-lo; menos ainda sabe que isso nada significa diante ao tudo que posso – e sei que preciso – fazer para mantê-lo assim, amor meu!