Sem ao certo saber o porquê e nem sobre o quê ter entendimento algum,
Impaciente, ele aguardava, em pé, na plataforma vazia, por entre a densa névoa úmida, afora do seu tempo, de um acinzentado amanhecer de mal gosto.
Consigo apenas uma velha maleta alaranjada, suficiente para acomodar mais do que o tudo que lhe restara da caminhada própria,
Um surrado chapéu empoeirado a cobrir inutilmente a calva e alva cabeça,
Da qual evadiam desordenadamente memórias do seu todo, simples e únicas, quase verdadeiras como um dia foram.
Memórias que se iam e vinham, a se misturar e a se distorcer em improváveis probabilidades desconexas e formas quase irreconhecíveis, que lhe renderam diversas deleitosas e insuportáveis sensações:
A culpa, que lhe apertou os olhos reluzentes, deles precipitando amargas e doloridas lágrimas plenas de destruições e possibilidades.
A derrota, que a saliva lhe envenenou e lhe impôs a queda, sobre os próprios joelhos, ao lhe contrair o indignado abdômen, violentamente esvaziado à ausência da conquista.
A saudade, que, intermitente lhe palpitou o coração, pincelando sarcasticamente, com uma das mãos, um sorriso de canto e com a outra rasgando as fibras que restavam a bater no peito.
O cansaço, que lhe ofegou a respiração e, mesmo diante dos rijos e atentos músculos, prontos a defenderem-se, lhe pôs trêmulas as mãos calejadas e os joelhos esfolados a chacoalharem feitos jovens varas.
A certeza, que lhe congelou as entranhas ao se concretizar, pelo bater pesado dos cilindros que arrastam do horizonte a louca Maria fumegante, a lhe conduzir à última viagem, por terrenos desconhecidos e trilhos que de certidão somente a ida era garantida.
E, ao se mostrar em sua forma majestosa, ainda que ofuscada pela pesada cortina acinzentada e pelo desespero, que se tornou presente diante de seu aterrorizante berro histérico – tirano e anfitrião a todos os demais –, e lhe despejou o destempero e o calafrio da impotência sobre o tempo que se passou e se reprisou menor, ainda que completo, na simples plataforma, deixando consigo a verdade de que nada curou, apenas com um trapo cobriu.
Nada mais havia de ser feito, senão ao cobrador entregar o tão salgado bilhete, embarcar e deixar para traz memórias outras que em mentes, também outras, quem sabe, possam ainda sobreviver.
Excelente texto amigo.
ResponderExcluirParabens.
bjos achocolatados
Muito obrigado, Sandra!
ResponderExcluirBeijos pra vc tbm...
Quando vi que havia coisa nova em "desce mais uma".. ahhh que não me contive e tive que vir aqui conferir [:)] ... e valeu à pena!!!..
ResponderExcluirBeijinhos em seu coração Rafael!!
*verinha*
Nossa Verinha!! Muito legal saber disso...e que bom que valeu a pena!!
ResponderExcluirFiquei contente!!
Beijos!!
Momento de partida é quase sempre momento de reflexão, aperto do peito com as memórias...belo texto!
ResponderExcluirNossa que lindo!
ResponderExcluirGostei muito de ler.
Escreves muito bem, se vai lendo e apreciando até o final.
Beijinho.
Fernanda.
Uma prosa realmente poética. Parabéns!
ResponderExcluirAinda mais o último, não é Yohana?
ResponderExcluirMuito obrigado!
Olá Fernanda!!
ResponderExcluirMuito obrigado, muito bom de se saber...Gostei!! rsrs
Beijos!
Grande Marcão!!
ResponderExcluirMuito obrigado, que bom que gostou!
Ah, fui conferir a última publicação..ninguém segura mais!
[]sss
Olha do que me lembrei de Raul Seixas. Achei pertinente e muito lindo.
ResponderExcluirÓi, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem
Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon
Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem
Ói, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem
Quem vai chorar, quem vai sorrir ?
Quem vai ficar, quem vai partir ?
Pois o trem está chegando, tá chegando na estação
É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão
Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais
Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar
Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons
Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral
Amém.
Beijos
Cris.
É bem isso tia...tinha uma visão minha da plataforma...tinha também esta visão do Raul, que em mim se formou ainda pequeno, com essa música; e mais um pouco do nosso maquinista...rsrs
ResponderExcluirBeijos!
Também me lembrei do maquinista com toda a certeza. Mas veja que interessante, eu sempre falo das forças antagônicas e dualidade. Veja essa estrofe que rica!!
ResponderExcluirÓi, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral.
Incrível né Rafa!!!
Beijos
Cris.
Muito tia....muito mesmo!! É bem isso!!
ResponderExcluirBeijos
muito bom, parabens.
ResponderExcluirhttp://danbrandao.blogspot.com
Muito Obrigado, Brandão!!
ResponderExcluirpartir é se permitir chegar sempre bem longe do tédio, como está dito aqui no texto
ResponderExcluirIsso mesmo Ediney!! E longe do tédio é em si mesmo!
ResponderExcluirAbraço...
Muito bem feito,Rafael!
ResponderExcluirNão é a toa que eu gosto tanto de passar aqui.
beijinho***
Hoje pude finalmente atualizar minhas leituras. E foi bom ter vindo aqui e encontrar esses textos escritos de uma maneira bem cuidada, de uma forma sensível.
ResponderExcluirParabéns por esse texto e pelos outros que não tinha lido.
Beijo
Realmente blog informativo aqui meu amigo. Eu só queria comentar e dizer que manter a qualidade do trabalho. Eu tenho bookmarked seu blog só agora e eu vou voltar para ler mais no futuro, meu amigo! Ainda bem escolhidas cores sobre o tema que vai bem com o blog na minha modesta opinião:)
ResponderExcluirOlá "Anônimo"!!
ResponderExcluirMuito obrigado pelo gentil comentário e por acompanhar o blog, fico muito contente que tenha gostado!!
Se puder se identificar...rs
[]s
Olá Lívia!!
ResponderExcluirMuito obrigado...bom saber que gostou!
Volte sempre mesmo!!
Beijos
Oi Adriana!!
ResponderExcluirSó o fim de semana mesmo para podermos colocar as coisas em dia..rs...muito obrigado, fico contente que tenha gostado das coisas por aqui...
Beijo..
"Memórias que se iam e vinham, a se misturar e a se distorcer em improváveis probabilidades desconexas e formas quase irreconhecíveis, que lhe renderam diversas deleitosas e insuportáveis sensações."
ResponderExcluirEsse trecho ficou inexplicavelmente lindo. E todo o resto foi uma descrição minuciosa, consegui enxergar toda a cena.
=*
Olá Amanda!!
ResponderExcluirQue bom que gostou...confesso que também gostei deste trecho!
[]ss
Antes de mais, obrigada pelo comentário. :)
ResponderExcluirE eu aprendi que temos de aproveitar todos os momentos que temos de felicidade, mesmo que sejam apenas minutos, que dure pouco tempo, porque nunca sabemos quando ela "acaba", quando vai surgir algo que nos vai pôr em baixo. E por isso eu tento viver cada segundo como se fosse mesmo o último, tento aproveitar ao máximo todos os momentos com quem quer que seja. Pais, amigos, família. *
Olá Rafael!
ResponderExcluirComo sempre um belo texto, obrigado pela tua visita, e por sempre me visitares.
Um feliz Natal, e espero por ti no proximo ano.
Até um abraço,
José.
Oi Raquel!!
ResponderExcluirConcordo com você, está é uma grande - senão a melhor - forma de encarar a vida, não se trata de conformismo, mas de aproveitar cada detalhe, cada momento, em toda sua intensidade...nada fácil, são tantas as coisas - inclusive nós mesmo - que trabalham contra, mas manter isso em mente já é um grande começo!
Obrigado pela visita!
[]s
Muito obrigado, José!
ResponderExcluirEu que agradeço sua visita e tenha um ótimo Natal e um excelente Ano Novo! Com certeza estaremos por aqui!!
[]sss