Em meus infindáveis pensamentos me pergunto como enganar esse maldito retorno.
Já é um tanto óbvia a minha incapacidade frente ao meu obscuro eu.
Desculpas mil, efetivos apenas o tempo e as feridas.
Só me resta deixar de alimentar o que existe lá dentro.
Aquilo que me dita as regras, os atos, os sentimentos. Sufocá-lo de si.
Um arame fino e maleável seria suficiente para furar permanentemente meus tímpanos. Assim não seria mais preciso ouvir votos falsificados, promessas abortadas desde a concepção, palavras incapazes de serem sustentadas em pleno presente, que apenas me arrastam encantado para o tão próximo nada inatingível.
Com uma faca de pão conseguiria destroçar toda minha cartilagem nasal e ainda danar todo interior dessa fossa. Assim não mais sentiria o perfume lascivo que me vira a cabeça e me condena o corpo, o aroma dos pecados tão desejados que me saciam a alma, a podridão das mentiras inconsequentes tão desconsideravelmente escarradas em meu rosto.
Uma linha reforçada, conduzida por uma fina e pontiaguda agulha, costuraria definitivamente meus lábios um ao outro. Assim não mais propagaria meus malditos sentimentos, não semearia meus doentios pensamentos, nem disseminaria meus tão questionáveis e indesejados desejos – que têm como única função serem armas contra mim mesmo –, e, ainda, não mais saborearia um só pedaço daquilo que só me é oferecido para que possa ser mais prazerosamente negado.
Poderia ainda cravar uma colher abaixo das minhas pálpebras e arrancar das órbitas, com um só firme golpe, meus já tão cansados e insatisfeitos olhos. Assim não mais seria preciso ver aquilo que me tenta, aquilo que me escondem, aquilo que me negam e nem aquilo que causo.
Um machado de cunha bem afiada seria ideal para o fim. Erguendo-o de todo o comprimento de nossos braços, em um único movimento, poderia separar de mim a mão inimiga, para que não mais sentisse a maciez apaziguante, os movimentos tranqüilizantes, a textura proibida e desejada, e nem mais quebrasse tudo aquilo que toco na ânsia de trazer para dentro de mim.
Então, só me restaria ao amigo suplicar o último e mais importante dos favores: que suspendesse o cabo pela ponta o mais alto que pudesse e trouxesse o fio abaixo com toda sua força passando despercebidamente pelo pulso derradeiro, livrando-me da mão traidora – a única que poderia me negar toda esta libertação.
Aniquilar os órgãos do sentido, será que faria mais sentido se fossemos privados de tais ferramentas? ou será que desejariamos ter tudo de volta colocando nossa pesada cruz nas costas novamente? o que nos é mais caro?
ResponderExcluirBom pra refletir!!!
Beijos
Cris.
É...acho que dá pra refletir bastante mesmo...ir bem longe...definir qual é o melhor preço a se pagar...rs
ResponderExcluirBeijos...