quarta-feira, 10 de julho de 2013

A Vida em Duas Vozes: Passiva!

Engraçado como é difícil escrever na voz passiva sem que seja em um tom negativo, derrotado e de responsabilidade alheia...

*          *         *

Eu fui trazido à luz e alimentado,
Mostraram-me e me fizeram rir,
Eu fui criado e posto a andar,
Fizeram-me correr e brincar,
Ensinaram-me a falar e me transformaram.

Eu fui instruído e passei a temer,
Eu fui envolvido e me fizeram chorar,
Rebelaram-se contra mim e me fizeram experimentar,
Assustaram-me e me fizeram xingar.

Arrepiaram-me e estremeceram-me,
Tomaram de mim e não deixaram conquistar,
Desviaram-me e não me mostraram o caminho,
Fizeram-me gritar e me envergonharam.

Comungaram o que era meu e me exigiram a multiplicação,
Lutaram comigo e me humilharam,
Eu fui cercado e derrotado,
Eu fui injustiçado e me fizeram chorar,
Enfiaram-me goela abaixo e vomitei.

Derrubaram-me e ninguém me levantou,
Fui empurrado e passaram rasteira,
Ensinaram-me, mas errado,
Lembram-me do que me fizeram,
Estagnaram-me a ver tudo que se repete [é assim mesmo].

Fizeram-me rever tudo de novo,
Não me encorajaram e nem me ouviram,
Fizeram me sentir para eu me arrepender,
Cantaram e dançaram minha derrota,
Não fui abraçado e nem beijado.

Ignoraram o quanto me estragaram,
Envelheceram-me sem me perguntar,
A vida me levou e nem se despediram,
Restou-me o descanso da injustiça que vivi,
Fui passado e esquecido, jamais lembrado.

9 comentários:

  1. Oi Rafael!Poesia forte e muito bonita!Não somos preparados para as dores dessa vida,com certeza!Os pais geralmente colocam a mão por baixo,antes do filho levar um tombo!Hoje tem a primeira parte da sua postagem no meu blog.Vou compartilhar.Veja aqui nesse link:

    http://recantodosautores.blogspot.com.br/2013/07/patos-livre.html

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    1. Oi Anne!

      Exatamente, e hoje em dia parece que isto está mais complicado...a transferência de responsabilidades de lamentações eternas não param de proliferar....pena para eles..

      Muito obrigado pela divulgação! Acabei de passar por lá, ficou muito legal...obrigado mesmo!

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  2. Verdade Rafa, ficou bem negativo, porém verdadeiro. Quantas e quantas pessoas passam tão rápido pela vida nessas condições? E os responsáveis não se dão conta viu Rafa, com certeza também viveram nessa passividade, só que com talvez, um pouco mais de força, a força negativa que por certo fora a mais alimentada.
    Muito legal mesmo, to gostando muito da sua evolução.
    Mais uma vez, parabéns!!! Só orgulho.
    Beijos
    Cris.

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    1. Ficou, né tia? Difícil de escrever. Eu até queria um tom mais sombrio, mas foi inevitável ficar tão negativo... Mais um motivo para as pessoas se livrarem disso, temos de viver ATIVAMENTE!
      Também acho que não se dão conta tia... E, nestes casos, as mãos que se estendem incansáveis só contribuem...

      Que bom tia, muito bom saber disto, ainda mais de você que desde o começo (do meu comecinho...rsrs) me acompanha...fiquei muito contente!

      beijos!!

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  3. A voz passiva parece mesmo moldada para o sofrimento.

    Belo poema.

    Aquele abraço!

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    1. Bem assim mesmo, Mateus...praticamente impossível não escrever desta forma quando a usamos...

      Obrigado, fico contente que tenha gostado...

      Abraço e obrigado pela visita!

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  4. Boa noite, Rafael, li o resenha de seu livro lá na doce Anne e gostei do que li, então resolvi vir conhecer esta tua casa, e que casa bela poeta, os textos que li são de excelente teor, lindas inspirações. Este último é forte, mas é assim que acontece, lembro que meu pai falecido aos 55 anos, mandou uma mensagem através de uma médiun, onde dizia que a maior culpa que sentia era de não nos ter preparado para enfrentar a realidade da vida, somos cinco filhos, 4 meninas e um menino, mas ele protegia a todos até mamãe, quando ele se foi tão novo, eu tinha 24 anos e como meus irmãos e mãe fiquei sem chão, todos nós levamos muitos tombos, acreditávamos em todo mundo, acabaram levando todo o patrimônio que ele com tanto trabalho construiu ao lado de mamãe, sim cada vez mais isto está acontecendo, parece que nos dias de hoje está ainda mais difícil os pais saberem preparar os filhos para a vida, abraços Luconi

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  5. Engraçado com nesta voz passiva, pelo menos pra mim, tem um ar de "revolta social".

    Não consigo ver somente um homem dizendo isso, mas todo um povo, uma geração ou uma sociedade.

    Deve ser por força do hábito ou foi algo intencional?

    Foi apenas uma impressão..

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    1. Oi Nathi! Sim, acredito que isso seja a composição de todos homens revoltados. Se olharmos, com pouca atenção, ao nosso redor veremos vários nesta linha, reclamando da crueldade que é o mundo ao invés de se mexer para resolver este mundo. Nesta linha sai a "revolta social passiva", onde todos reclamam do mundo cruel. Lembra: "ó céus, ó vida, ó azar..."?

      Mas temos a outra revolta social, que vimos há pouco em nossa ruas. Esta, para mim, são os "ativos" engasgados com a possibilidade de uma coleira e ração.

      Claro, acho muito legal estas impressões. E é bom que elas aconteçam...

      Obrigado!

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