terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Demência Buscada

Quisera eu, sob demência plena, num amanhecer nebuloso, rolar sobre o gramado úmido, por entre voares de gordos pombos, encontrar alegria desenfreada e desprendida, sem dar-me conta das tristes verdades, hipocritamente disfarçadas, que assombram traiçoeiramente os momentos mais nobres, com um acaso ridiculamente proposto.

Quisera eu, alienado desta, lançar-me à outra realidade, a de sonhos, únicos e misturados, criados a cada respirar, moldados a cada pensamento – meu –, vivíveis, tocáveis, reais; a eles me agarraria e entre eles viveria, não ingenuamente, mas pura e puerilmente em toda sua essência, como desde então não sei mais fazer.

Quisera eu, então, entorpecido de mim mesmo, pirar de vez, alucinar e torna-me alheio a mim mesmo e ao meu todo, não mais sentindo ou percebendo a mim mesmo, nem os medos que me congelam, nem os anseios que me turvam, nem as inseguranças que me falseiam, nem as decepções que me enfraquecem e nem os descasos que fazem abandonar-me; sem medo, não por coragem excessiva, mas por desconhecê-lo por completo.

Quisera eu, permanecer assim, lunático, em um mundo não mundo, com todas e nenhuma forma, colorido por todas as cores, mas gentil e doce, onde somente eu seria criador e criatura, sem ao menos perceber.

42 comentários:

  1. É a alienação em febre..
    Forte..
    Beijo

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  2. Quantas e quantas vezes queremos sair de nós mesmos e encontrar um outro mundo onde possamos viver sem as coisas que nos causa mágoas e tristezas.. ahhh como seria bom se esse "outro" mundo existisse e pudesse ser nosso refúgio.

    Beijo grande em seu coração Rafael!!

    *verinha*

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  3. É isso aí, Verinha...sem decepções, sem mágoas e descasos...um mundo próprio...alheio ao todo que só consome...

    Beijos..

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  4. você é genial em seus escritos.

    abraços
    de luz e paz

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  5. Ô loco, Hugo!! Brigadão!! Que bom que gostou...

    Abração...

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  6. " Quisera eu, entorpecido de mim mesmo... ", perfeita frase! Profunda !!!
    Adorei !!!
    Bjinhos!

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  7. por que será Rafa que, às vezes, precisamos sair de nós mesmos pra nos sentirmos melhores..
    será a busca pela nossa essência??

    ah!..eu não gostaria de estar deitada sob os gordos pombos..
    a não ser embaixo de alguma barraca..rs

    saudade de vc no meu blog..

    bjs.Sol

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  8. Oi Daíse!!

    É...essa está bem carregada mesmo..rs

    Que bom que gostou!

    Beijos

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  9. Oi Sol...talvez pq nós estamos imersos em coisas difíceis de se sobreviver...passamos muito tempo nos defendendo e lidando com este tipo de coisa...é ruim.

    vou passar por lá...andei um pouco fora mesmo...

    bjos..

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  10. E quem disse que os poetas vivem em estado "normal" de espírito? Quem disse que os poetas habitam esse mesmo mundo que os demais?

    Caríssimo Rafael... Belíssima poesia... repleta de encantamento e sensibilidade!

    Venho agradecer sua amável visita em meu blog... e deixo meus beijos e meus carinhos afetuosos pra ti!

    Sil

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  11. É verdade, Silene...dizem isso e já pensei nisso também...eita peso!

    Fico contente que tenha gostado daqui e do que encontrou...seja bem-vinda por aqui!

    Beijos!

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  12. Fico meio em dúvida agora, Rafael, mas já que você tem esses aparentemente tão lúcidos propósitos de desvario, sucesso, então.
    Também de que serviria recomendar que você se esforçasse pra ser um sujeito normaaaaal e fazer tudo iguaaaal, enquanto eu, do meu lado, aprendendo aquelas coisas consabidas, né? Beleza, maluco.

    Seu texto tá que tá, gostei muito!

    você

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  13. O belo como a poesia gostam mesmo é das coisas simples..

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  14. Graaande João!!

    Sendo assim, desse exato jeito que vc disse, quero mais em elouquecer cada vez mais...concordo 343%, nada de ser normallll....

    Beleza puro, meu velho!!

    Que bom que gostou!!

    []ssss

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  15. Dizem que sou louca, por pensar assim, mais louco é quem me diz que não é feliz!
    Por outro lado:
    Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual, controlando minha maluquez, misturada com minha lucidez, vou ficar, ficar com certeza maluco beleza.
    É a realidade!! É a vida!!!
    E o poema como sempre, forte e maravilhoso, cada vez melhor!!
    Beijos
    Cris.

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  16. hauhauhau....verdade tia, até parece que vc e o João Esteves conversaram...e é isso, o que mais admiro no Raul é a mensagem de alienação do que somos...e que fez muito bem!!

    Beijos...

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  17. Oi Ana!! São estes simples comentários que enchem de vontade de continuar...fico contente!!

    beijo...

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  18. Muito bom seu texto.

    Acho que sem os sonhos a humanidade já teria deixado de existir há muito tempo.

    Beijos

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  19. Oi, Rafa!
    Vim dar uma olhadinha rs... e não é q fui ficando, lendo, e gostando?!
    Bom demais por aqui! Voltarei!
    Beijinhos!

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  20. Olá "Olhar"!

    É isso mesmo...sem sonhos não temos razão de caminhar...talvez apenas estagnar...

    Muito obrigado...

    beijo..

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  21. Oi Sue!!


    Que bom que gostou, fico feliz em saber...fique à vontade e seja bem-vinda!

    Beijos...

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  22. Participo da mesma loucura, e não quero "remédios" que me façam "normal"...

    Amei teu blog, tua loucura e divagação...

    Sigo-te com prazer.

    Abraços

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  23. Que lindo!!! Perfeito! Pura poesia!

    Deixa eu ser sua vizinha?

    Beijos, Rafa!


    PS: Eu estou bem, eu sou dramática apenas. E os meus textos, nem sempre são reais.

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  24. Sonhos e desejos e um medo receioso de se dar e de se ter...
    Faz parte de todas essas nossas fragilidades, onde desconhecemos muitas vezes a nós mesmos.
    Há um véu que nos encobre, num instante da travessa, onde fingimos ou quem sabe talvez mesmos esquecidos...
    Se fingidos, o que nos basta é a coragem de levanta-lo e dar a nós a liberdade, asas soltas do livre para voar...
    As ditas amarras que nos prende, deixados por se levar nos torvelinhos que bestamente e sem querer nos deixamos envolver.
    Efeitos das causalidades a que fomos surpreendidos em momento frágil.
    Mas tudo a seu tempo. O importante é se atrever. É rever de alguma forma o passado dum tempo ocorrido, as ditas pendências, o algo não resolvido, deixado pra depois e eis que não tarda a cobrança...
    Mas oxalá que de alguma forma assim possa te dar ao conforto, de que isto não acontece somente com você, mas com todos nós na travessia. A dita memória vazia, a que mais se precisa para o reaver, essa não temos... Mas ainda que tenha sido por uma causa consciente, creia por detrás dela tem uma liga, o que nos leva a razão, até então impossível talvez de retroceder...

    Belíssimo texto Rafael, muito bom te ler.

    Bjs

    Livinha

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  25. Essa é a ideia, Janaina!!

    Sejamos loucos de corações transbordantes!

    Fico muito contente que tenha gostado..seja bem-vinda!

    []s

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  26. Oi Erica!!

    Que bom que gostou...e vc tá certa, nem sempre os textos traduzem o que se passa...

    Beijos..

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  27. Ótimas palavras, Livinha...tem toda razão...faz parte da travessia, e acho que a grande diferença não está no "por quê" dela, mas sim no "como"...isso faz como cada um é...

    Excelente comentário!!

    Muito obrigado, fico contente que tenha gostado!

    Beijos..

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  28. É isso mesmo, às vezes precisamos sair de nós mesmos, nos distanciarmos de tudo e de todos, para colocarmos os pensamentos e idéias nos seus devidos lugares, novamente.

    Afinal, como disse Clarice Lispector: "Perde-se também é caminho".

    Beijos!
    ;*'s

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  29. Oi Maíra!!

    Sim, e se precisamos! Ver as coisas de longe...pra tentar entender como elas se interagem e tentar agir...temos que sair de nós mesmos!

    Ótima citação..gostei!

    Beijos..

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  30. Excelente texto. Uma criação notável do criador, que é vc...
    Abraço.

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  31. Muuito obrigado, Nilsão...que bom que gostou!!

    Abraçosss

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