Ontem foi segunda-feira e, como uma boa segunda-feira, o dia começou lento, pesado e desmotivador. O trânsito estava carregado, os motoristas com dificuldades em manter-se nas respectivas faixas, em seguir a sinalização e respeitar os concidadãos. O sol já fazia bem o seu trabalho – e muito bem feito – elevando a temperatura rapidamente desde bem cedo. Bom, é São Paulo e é verão, e é óbvio que já sabemos como termina esta história: temporal garantido!
Só que ontem não foi um simples temporal, foi um temporal de segunda-feira, carregado de mau-humor e azedo da ressaca. E ele veio por volta das duas horas da tarde. O dia virou noite, aquele sol machão da manhã desapareceu num relâmpago (que trocadilho mais sem graça, hein?). Mas sim, relâmpagos foi o que não faltou, teve para tudo quanto é gosto: barulhento, demorado, assustador, tímido... E o mundo caiu, é lógico, caiu de uma só vez com toda força e em enorme quantidade. Foi um pouco mais de uma hora no mesmo ritmo, sem diminuir, chuva da grossa, ventania, raios, trovões, pessoal assustado no escritório, boatos brotando mais rápido que o refluxo dos bueiros, e eu assistindo a inundação na rua da frente, que nunca tinha visto daquele jeito.
Enfim, não vou entrar em detalhes porque os telejornais vespertinos fazem isso como ninguém. Mas o que aconteceu foi que o caos se instaurou e não restava opção que não fosse prolongar o horário de trabalho e esperar. E esperei! Então, a chuva passou, até saiu um solzinho entre as nuvens, o chão começou a secar e as buzinas a diminuir. Achei que aquela era minha hora e fui embora. Ainda havia um chuvisco aqui, outro ali, mas nada de alarmante. As ruas que eu passaria haviam sido inundadas por córregos transbordantes, mas quando passei havia apenas um barro fétido nas laterais, restos de lixos e outras tralhas. Aproveitei para passar no mercado comprar umas coisas para casa, inclusive meu jantar, e fui para casa. Conforme me aproximava de casa, aumentava a quantidade de semáforos apagados, alguns com agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) tentando orientar os motoristas, outros abandonados à sorte. Cabe aqui um parêntese: os semáforos de São Paulo não estão aguentando chuva alguma, de qualquer tipo, eles estão entrando em pane até com espirros!
Mas continuemos! E conforme eu me aproximava ainda mais de casa, comecei a notar que uma escuridão tomava lugar por entre as ruas, prédios, casas, bares... Tudo estava um breu só, iluminado apenas pelas luzes dos carros. É claro que não achava que eu seria afetado, mas fui! Cheguei tarde a minha casa, cansado e com minha mochila e a bagagem do mercado que tive que levar no lombo até o oitavo andar, descontando o mezanino, à luz do meu celular que estava com a bateria praticamente zerada. Com o calor que fiquei da subida, o banho gelado foi como um prêmio. Jantei à luz de velas e lamparina, ouvindo as notícias no meu radinho a pilhas – presente do meu irmão, obrigado, e agora kit indispensável para se viver em São Paulo! – e depois me joguei no sofá enquanto o tempo se arrastava a passar. Mas eu não moro longe, não tenho que pegar diversas conduções apertadas para rodar vários quilômetros e fazer uma verdadeira viagem para casa; imaginemos as pessoas que não têm como escapar disso!
Não vou negar que foi gostoso ter uma noite tranquila e prematura como as de um rancho no interior (rio até tinha lá fora), mas a energia elétrica acabou por volta das duas horas da tarde, voltando mais de dez horas depois (isso no meu bairro, há bairros que ainda estão sem energia), sem nenhuma resposta da companhia elétrica aos usuários solicitantes. Estamos falando de São Paulo, uma das mais importantes cidades do mundo e que sucumbe, submerge diante de qualquer chuvisqueiro e agora, além das tradicionais enchentes, tem estas novidades certas: semáforos fragilizados e energia elétrica rebelada. Aí começa toda a discussão: é o fornecimento que foi afetado; não há semáforo que aguente; a chuva foi muito forte! E eu pergunto aos senhores governantes deste povoado: quanto tempo faz que as chuvas de verão não são tão fortes por aqui? Qual é a novidade? Chuvas torrenciais no verão de São Paulo há tempos são tradicionais.
São vários os fatores que contribuem para isso, mas o descaso dos nossos governantes não pode ser encoberto com a simples passagem de responsabilidades para o povo e para a “mãe natureza”. O incrível de tudo isso é que, a cada dia mais, São Paulo, a capital do estado mais rico desta nação, uma das mais importantes cidades do mundo, não é menos precária que um ranchinho aconchegante à beira do rio.
Não digas «papo-furado» lá no subtítulo...tu escreves mesmo bem e bem pensado!
ResponderExcluirBj
hauhauhaa....boa Ana, mas é coisa de boteco...esses são os melhores!
ResponderExcluirmuito obrigado!!!
Beijo
Olá meu amigo!
ResponderExcluirCom o a energia brincando de natal, lógico... Não deu para ver o jornal. Agora! Lendo o teu enredo, posso afirmar que falta muito contexto nos teles jornais. Tenho certeza que iria estourar a mídia.
Abraços
Olá José!!
ResponderExcluirSerá? Bom saber...rsrsr...o Datena que se cuide...rsrsr
OBrigado pela visita!
Abraço...
É a primeira vez que venho ao teu blog e achei que o jeito como vc escreve das situações mais cotidianas é incrível. Eu não consigo escrever com tanto detalhamento um momento assim. Meus parabéns.
ResponderExcluirAqui na minha cidade, faz uns dois meses que o dia todo é quente, mas a chuva vem no final do dia ou lá pelas 4, como ontem. Acho que faz esses dois meses que não vemos um dia inteiro de sol, tirando talvez uns dois dias nesse período. Mas eu gosto. Pois como vc disse, fica aquele clima de rancho, e eu acho que em alguma outra vida devo ter vivido naquela tranquilidade, pois é algo mágico nos dias de hoje.
Um abraço!
Olá Gabriela!!
ResponderExcluirQue bom que gostou daqui e do que encontrou por aqui...fico muito contente que tenha gostado e da descrição sobre meu trabalho...muito bacana saber disso, obrigado!!
Sim, esse clima é bom, e um ranchinho é melhor ainda...mas parece que quanto mais passa o meu tempo, mais longe fico disso...ou talvez estaja apenas dando uma volta!
Seja muito bem-vinda por aqui!
Abraço..
Valem esses momentos só nossos que nada nem ninguém nos pode tirar, como os aprecio...
ResponderExcluirBj
É o jeito, Lilás...encarar desta forma e tirar proveito!
ResponderExcluirBeijo..
Rafa, se tem uma coisa que não sinto saudades de São Paulo são as chuvas de verão. Aqui no Rio estamos "fritando", literalmente. Só sinto que, pela atual estiagem, devemos ter um carnaval "molhado", mas, bastante animado, como sempre. Enquanto escrevo essas linhas, vejo aqui da janela o termômetro marcando 34 graus no Aterro do Flamengo.
ResponderExcluirAbs!
Caramba, Léo!!
ResponderExcluirAqui tivemos temperaturas altas hoje também e a dita cuja já está formada e se aproximando aterrorizante...vem com tudo!!
É...a animação não pode faltar mesmo...contra já temos muita coisa...
Passa na praia tomar uma por mim no fim da tarde, Léo!
[]sss
Oi, pra minha surpresa, li seu comentário no meu blog e resolvi visitar o seu. Gostei muito da sua crônica, se é que posso chamar assim, você escreve muito bem, é como se eu tivesse vivenciando tudo. Parabéns!
ResponderExcluirAqui onde eu moro é uma cidade pequena, pacata, de interior, bem diferente da sua....Abraços
Http://fadacriativa.blogspot.com
Rafael,
ResponderExcluirverdade que é uma vergonha o que acontece. Parece que moramos numa cidade de papel...
Bom, eu não moro em Sampa, mas imagino a aventura.....aqui no Rio, sempre quando chove muito, é assim.
Mas vamos vivendo !!
Fazer o quê ?
Beijão
Rafael, este ano está chovendo demais e aqui tb está recebendo o q sobra de São Paulo, nunca vi tanta chuva assim, nem tantos trovões tão baixos, na parte da tarde é uma aventura tentar sair de casa, ou tentar retornar , as ruas enchem e fica praticamente impossível se transitar.
ResponderExcluirGostei do seu jeito de se expressar.
um grande beijo!
Olá Gilda!!
ResponderExcluirQue bom que gostou, fico contente em receber este seu comentário... Muito obrigado!!
Apreveite esta sua cidade...também venho de uma pequena e é muito bom...
Abraços
Oi Celamar!
ResponderExcluirExatamente...resta o "fazer o quê?"...estamos sempre nos adaptando a estas coisas...é o único jeito...
Beijo!
Oi Mariz!
ResponderExcluirÉ isso mesmo...o fim da tarde passou a ser a grande atração do dia...saímos de casa com diversos problemas e temos agora que considerar um outro grande: como volta para casa (para ir novamente amanhã).
Que bom que gostou...fico muito contente!
Beijo..
Olá Rafael! Adoro ler crônicas sobre o cotidiano e é curioso mesmo como às vezes sentimos falta das coisas simples mas não aguentamos 2h sem as facilidades que a vida moderna nos habituou...gostei de seu texto! :)
ResponderExcluirOi Yohana!!
ResponderExcluirPior que é...quase pirei tentando ligar as luzes em todos os cômodos que passava...isso pq nem falei da internet ainda!
Que bom que gostou, obrigado!
Que graça Rafa, em meio ao caos, vc sempre consegue inflamar a poesia. Esse rancho gigante, patrimônio brasileiro, pátria aconchegante para uns e aterrorizante para outros, abrigo dos poetas, dos monges, da arte e da penúria. São Paulo em duas faces, assim como o bem e o mal ela existe abrigando e desabrigando, instruindo e destruindo, porém incrivelmente amada.
ResponderExcluirBeijos
Cris.
Oi Tia!!
ResponderExcluirÉ...São Paulo é isso mesmo...todas as coisas em uma coisa só...de todos os jeitos...
Beijos tia!!
Olá, Rafael, vc me fez lembrar de quando menina adorava o faltar da luz. pq não tinha TV e meu pai bricava comigo de fazer sombras na parede. Aí a "maldita" luz voltava e eu perdia meu pai para o sisudo Jornal Nacional.
ResponderExcluirAdorei o seu rancho. Ótima visão do caos. Puro lirismo.
Um abraço,
Oi Malu!!
ResponderExcluirDanado esse Jornal Nacional, hein? Mas vc me fez lembrar que meu pai tbm fazia essas sombras comigo....que gostoso lembra disso!!
Muito obrigado, fico feliz que tenha gostado!
Abraço..
Olá Rafael.
ResponderExcluirBem interessante o texto como o descreveste, acho até que foste carinhoso, quando Sampa a viver tradicionalmente como um copo cheio, sempre a transbordar.
Morro de medo de passar por aí nessa época de verão, quando as chuvas não dão aviso da hora que vai desaguar.
Mas sabe, outro dia uma de minhas ninas assim me disse, após ter caido um temporal aqui em Franca: Mãe, sabe que embora com medo, gosto quando cai essas chuvas de arrombar, as luzes se desligam diante das tenebrosas trovoadas e a gente se reune aqui no sofá e ficamos num longo bate papo que a hora nem vemos e nem temos pressa de passar...
Isto me soou como uma canção aquelas dos ranchos a luz de lamparina. Sem televisão, sem nada que rompa a interação familiar. É aquela frase velha conhecida e que vive na instinção: Nunca estamos sozinhos, unidos venceremos... Os medos se dissipam, todos se envolvendo e a vida fica como a gente pinta contrariando as máquinas do homem que rompe a nossa vida simples e distinta, no tempo...
Nossa falei demais...
Mto legal a tua postagem meu amigo.
Feliz semana pra ti sem pancadas e trovoadas...
Abraços
Livinha
Olá Livinha!!
ResponderExcluirÉ..aqui temos aventuras agora, na hora da volta para casa...se já não bastassem as dificuldades de uma cidade deste tamanho...
Isso é verdade...estamos vivendo um ritmo cada vez mais frenético e tempo realmente é gasto com o trabalho e a sobrevivência quase que individual, somente estas paradas desta forma para nos colocar num mundo analógico e aconchegante com os que nos cercam, triste isso, né?
Por isso que gosto do meio do mato, das pescarias e dos cavalos...nada como uma vida mais simples e plena...
Não falou demais não, foi muito bom receber este comentário, esta participação verdadeira!
Bom, já tivemos uma chuva de arrebentar hoje, mas ótima semana para todos nós...
Abraços...
São Paulo, Rio...o que mais precisa acontecer no Brasil para os governantes tomarem providências? Triste realidade! Belo texto, palavras acertadas.
ResponderExcluirbeijos
Olá Gabriella!
ResponderExcluirNão desejando o mal, mas talvez, se estas coisas os afetassem, poderia resolver melhor...
Muito obrigado!
Beijos..
É moreno, quando voltar para o interior vou te dar alguns apetrechos de pesca, com esses córregos enlameados é certeza de Túviras e Bagres. Nem perca tempo passando no mercado para comprar a janta. Talvez você poderá fazer isso no transito. E é bom que relaxa.
ResponderExcluirAee Moreno...boa, hein? Bem lembrado, tuviras e bagres seriam melhores mesmo...e pensar que estes dias mesmos eram nossas iscas!!...que situação.
ResponderExcluirAbraço....
Gostei do teu relato e segui-te no teu percurso. : )
ResponderExcluirVoltarei. Abraço
Olá Catarina!!
ResponderExcluirFico muito contente pela visita e por ter gostado daqui...seja bem-vinda!!
Abraço!
Sei bem como se sentiu na sua crônica. Vivi 45 anos em B.H. e sempre sonhei em viver no interior. Hoje, casada, feliz, com pouco trânsito,trabalhando perto de casa, realizei meu antigo sonho, e moro em Poços de Caldas! Não é do jeito que eu idealizava, mas já melhorou muiiiiiiitoooooo. Obrigada pela visita ao meu blog. Não vou pedir para me seguir, pois outro dia fiz isto com o Jefhcardoso e ele disse que não segue ninguém. Aprendi rapidinho e deixo um recado, lá tem sempre alguma coisa que vai servir para tornar sua vida um pouco mais saudável e que sabe poder através de um simples relaxamento vislumbrar seu rachinho paulistano sempre perto de você.
ResponderExcluirAbraços
Suzana Drummond
Olá Suzana!!
ResponderExcluirQue bacana você por aqui, seja bem-vinda!
Imagino que tenha melhorado mesmo...conheço aí e é bem bacana, não só para turistas, mas para morar também (meu irmão fez faculdade aí). Um dia eu chego lá também..rsrs
Caramba, o Jefh disse isso? Bom, cada um com seu jeito...rsrsrs...enfim, eu estou seguindo via RSS...mas vou seguir diretamente também!
Mas pode contar com o retorno sim!!
Muito obrigado pela visita e pelo ótimo comentário..
Abraço..