sábado, 6 de setembro de 2008

À Deriva

Atenta-te, nobre capitão!
Não vês que por águas traiçoeiras
Tripulas sozinho tua nave?

Acalmas o coração,
Aceitas a tua sina.
Não há como guiar-se,
Não estás numa canoa.

Teus homens já não estão,
Tuas velas em frangalhos,
Teus mapas borrados [queima-os e te aqueças].

As estrelas dançam uma valsa sarcástica
Sobre a densa névoa da madrugada.
Entrega-te à deriva.

Não adianta acenares o lampião,
O farol é intermitente e voluntário
E nesta noite não quer te responder.

Conforta-te, fizeras tudo que podia!
Beba teu rum, reze tua unção, salte da prancha,
Mas não espere pelo farol.

Nas rochas baterás antes do amanhecer.
Ninguém virá a seu socorro,
Talvez piratas ao que restar.

Náufrago nunca serás,
Pois já és cadáver, nobre capitão.

2 comentários:

  1. Putz Rafa, realmente esse texto me pega, me identifico, não sei exatamente no quê, mas curto muito!É triste, incomoda, mas passa uma imagem belíssima. Parabéns.

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  2. Gostei da definição "incomoda". Acho que bem isso mesmo que sinto. É como, mesmo ao navegar por nosso belo oceano, tudo conspira contra, abandonando-nos "à deriva"; até mesmo nosso mais confiante e dedicado farol nos dá sua escuridão. No fim, estamos sozinhos condenados a nós mesmos sem, muitas vezes, ter muito o que fazer.
    Coisas da vida...

    Abraço e obrigado pela visita!

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