domingo, 21 de setembro de 2008

Jardineiro Vazio

Pica terra pilada!
Sinta meu enxadão
Que brutalmente te viola.
Umedeça-te ao meu suor
Digno do dinheiro do patrão.

Enriqueça teus torrões estéreis
Com o esterco fresco que te presenteio.
Deleita-te com a água que te banho,
Sede não mais sentirás.

Abra-te para minhas sementes e mudas.
Receba-as como filhas.
Aconchega-as em teu ventre
E as faça crescer fortes e viçosas.

Venham pequenos brotos,
Sejam bem-vindos a este mundo cinza.
Despontem-se, brinquem ao sol, pequeninos.
Abram tuas folhas ao vento.

Definhem entorpecidos com o fumo
Pulgões malditos.
Apodreçam ervas daninhas,
Sufoquem-se no veneno letal.

Às pestes que ousam invadir o jardim:
Eu as excomungo desse mundo!

Desabrochem frágeis botões.
Banhem-se ao sol morno.
Sacudam tuas gotículas de orvalho
Que cheias de vida refletem um mundo todo.

Abram-se, tímidas pétalas aveludadas.
Transformem-se em coloridas flores delicadas
Embelezem nossa vista, façam a paisagem,
Como pequenas virgens saboreando o vento.

Pairem tuas fragrâncias sedutoras
Para que transbordemos nossos corações
Dos mais deliciosos e nostálgicos sentimentos.

[Suspira o jardineiro, contemplando o jardim com o peito amargo]
Mas de que me adiantam as flores
Se as raízes não possuo?

Um comentário:

  1. Lindo isso, dá para refletir bastante. Estamos sempre pedindo demais para termos facilidades, mas na verdade o que precisamos fazer é pedir para desenvolver raízes fortes e profundas, de tal modo que, quando as tempestades chegarem e os ventos gelados soprarem, resistiremos bravamente, ao invés de sermos subjugados e varridos para longe.

    Bjss!!!

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