Mais uma crônica - bem vivida - do Léo Monçores. Esta é realmente daquelas de mesa de bar. Léo, você tem razão, se quisermos problemas, basta procurar! Se cuida e traz logo estes resultados... Abraço!* * *
Não sei se algum dos leitores já passou por essa experiência, mas, em 24 horas vivi momentos inusitados por conta de um tal M.A.P.A (Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial), solicitado pela cardiologista para, obviamente, verificar a quantas anda a minha pressão arterial.
Em 2007, fiz exames de rotina, tipo de sangue, ecocardiograma, teste de esforço e etc, para quem já está na faixa dos 40 e poucos, agora já muitos, isso é importante. Estava trabalhando em São Paulo e, num dia de semana, pela manhã, me dirigi ao hospital para os tais exames. Tudo corria bem até eu entrar naquela sala, onde estava uma atendente de origem japonesa, simpática, que me orientou a colocar os trajes apropriados para o teste ergométrico. Já de short e tênis, tive o torax depilado e os eletrodos devidamente posicionados.
Ao subir na esteira para iniciar o teste, a médica responsável foi enfática:
- Pode descer, o senhor não vai fazer teste nenhum! Sua pressão está 19 por 11! Vou encaminhá-lo para a emergência.
Dito isto, ligou para o setor e vieram me buscar com uma cadeira de rodas. Já me sentindo indo embora para o outro lado da vida, fui para a emergência, onde, após medicado, fiquei em observação, sem nada sentir, por toda a tarde. Não sem antes preocupar minha mulher, que estava no Rio de Janeiro e achou que eu estava lhe escondendo algo.
Após esse pico assintomático de pressão, iniciei a busca por seu equilíbrio. Cardiologista, acupuntura, mais cuidado na alimentação e exames anuais.
Pois bem, com o retorno para o Rio e a consequente troca de médicos. A nova cardiologista solicitou os exames de rotina e o fatídico M.A.P.A. Como já dito no início deste texto, são 24 horas inusitadas.
Vamos lá: Você recebe um aparelho que parece um antigo walkman (os mais antigos vão lembrar), aquele com fita cassete, pesando umas 400 gramas, depois esse aparelho é conectado a uma borrachinha, que passa por cima do seu pescoço, e vai até o seu braço, que fica apertado naquele artefato que infla quando medimos a pressão, não sem antes passar por entre os botões de sua camisa, já que o aparelho fica preso à sua cintura por um cinto, como uma “pochete” (estou soando antiquado?). Após a “instalação” do apetrecho, vêm as instruções. Não pode tirar em hipótese alguma, tem que fazer parte da sua vida por 24 horas, comer, dormir, tomar banho???!!! Não pode molhar, ou seja, banho só da cintura prá baixo, não sem antes tomar o cuidado de usar um cinto na altura do peito, pelado, para não correr riscos. As necessidades fisiológicas são um capítulo à parte, porque o infame aparelho não escolhe hora para medir a pressão e faz isso nos momentos menos propícios. E você tem que parar, senão ele aperta o seu braço várias vezes seguidas, até conseguir a medição satisfatória. Além do banheiro, tem a rua sendo atravessada, a reunião que você participa e tem que avisar a todos que está com o aparelho e que não estranhem se você ficar paralisado por uns dois minutos e, claro, a condução, onde fui muito “apertado”, pelo aparelho e pela multidão do cotidiano.
O mais interessante dessa rotina singular é o relatório que precisa ser preenchido pelo já conformado paciente. Cada atividade deve ser registrada com o horário em que se iniciou ou terminou. “Subi 02 lances de escada, 14h00”. “Almoço, início 12h30, fim, 13h15”. “Caminhada de 10 minutos, início 15h10, término 15h20” E ele te apertando, na hora em que bem entende, e você quieto, senão, é pior.
Finalmente, após o almoço, passadas as tais 24 horas de “tortura” fui devolver o “bicho”, antes porém, tive que ficar parado igual a um idiota em plena Cinelândia, em frente ao Teatro Municipal do Rio, por pelo menos dois minutos, esperando a medição.
Ao chegar ao laboratório para entregar o aparelho, ainda fui “apertado” mais umas três vezes antes disso, depois, fui comunicado pela atendente que o exame tinha sido bom , ou seja, mais de 80% das medições ocorreram de forma considerada normal, e eu não precisaria repetir o exame. Fiquei aliviado, nem sabia que corria esse risco.
Daqui há cinco dias, sai o resultado, o tal mapeamento do comportamento da minha pressão arterial. Espero que ela tenha se comportado bem e que não precise, tão cedo, fazer novamente o exame. O pior, ou melhor, talvez, é que os exames e verificações da saúde vão se tornar cada vez constantes com o passar dos anos. Espero ainda ter muitos para fazer, embora confesse que não gosto deles. Parece que estamos procurando problemas antes que eles nos achem. E quando achamos, mais problemas, é claro.
Vida que segue, ainda bem!!
Léo Monçores