quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

José Leitão: Passagem do Ano

Deitado em meu quarto vejo a chuva cair lá fora, debatendo-se contra o vento, numa luta titânica para ver qual chegará primeiro ao asfalto na ultima tentativa do ano de varrer a maldade do homem da face da terra.
Derradeira chuva, que ao cair do céu vem cantando hinos de esperança, que se misturam com os silvos dos carros e com o espocar dos fogos, que mesmo sob água desfazem-se em cores dando um cintilar às gostas fazendo-as parecerem-se com as estrelas, anunciando o crepúsculo de mais um espetáculo que durou 365 dias.
Ao meu redor a solidão se fez presente, por momentos cheguei a ouvir o silêncio. Queria paz, paz na alma, paz no espírito. Queria pensar...Sonhar...com os olhos abertos sem nada enxergar. Daqui a 10 minutos será novo ano, as cortinas novamente se abrirão, outro espetáculo será iniciado...mas meu Deus, não mude só as cores da roupagem dos palhaços, faça-o também e principalmente com as mascaras, quanto ao cenário é lindo, não deve se incomodar com ele.
Não tire a grandeza da terra, nem a imensidão do mar, nem o azul do céu, nem a beleza das aves e muito menos o calor do Sol que acalenta até a indolência dos homens.
Meus olhos se encheram de água, eu estava falando para mim mesmo. Eu me desdobrava em dois e conversava no meu intimo. Tu sabes por que, não? Tu também já tiveste alguém. É fácil compreender.
Lembraste da solidão da vida? E quantas vezes não desejaste uns braços que te abrissem? Umas mãos que enxugassem as lágrimas de teus lindos olhos, hein? Solidão...silêncio...mais silêncio...distancia...zero hora. Ano novo. Mais uma vez sozinho...mas sinto você perto de mim, sinto na carne a sensação de teus braços em meus braços, de teu rosto em meu rosto, vejo meus olhos refletidos nos teus; entro em êxtase e num esforço supremo elevo meu olhar para o infinito e peço ao Senhor Deus para te dar tudo de bom.
Sinto uma dor em meu peito motivada pela angustia que comprime meu coração sofrido; tento respirar profundamente em busca de alivio, que chega lentamente, acompanhado pelo cansaço, pelo sono, por meu suspiro de saudade e duas lágrimas de esperança...


José Leitão

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