terça-feira, 28 de abril de 2009

Eterna Companheira

Olá! Há tempos não lhe vejo!
Hoje vem do jeito que mais me agrada:
Plena, definida, radiando glamorosa.

Por onde tem andado?
Há tanto para lhe contar,
Tanto para lhe esconder.
Tanto para entender.

Tem vindo sempre?
Por que não me acordou? Senti falta do seu toque.
As coisas andaram um pouco complicadas por aqui.
Havia nuvens nos separando, estava escuro
E acabei me esquecendo de lhe procurar.

Bom acordar com sua luz invadindo meu corpo,
Aquecendo meu coração neste frio da madrugada.
Senti sua falta.

Lembra de quando iluminava minhas noites amorosas?
De quando eu apagava os faróis para ter a visão da estrada que só você podia me dar?
Quando chorei escondido, quando sentia o amor transbordando em meu peito,
Quando cambaleei triste para casa?
Tantas coisas juntos.

Bom lhe ver de novo,
Iluminando os meus cantos – aqueles que eu mesmo não mais conheço.
Bom saber que estou sozinho.
Esta noite poderei dormir, e será sob seu zelo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A Pena que Lhe Cabe

Ei, carcereiro! Traga-me um pedaço de pano velho.
Permita-me pelo menos uma noite aquecida,
Estas pedras são úmidas e frias.

Que tal um pedaço de pão duro?
Meu estômago dói, aquela sopa e mim já não para
E o limbo das pedras já não mais tempera minha língua calejada.

Ei, carcereiro camarada! Uma caneca de água da sua torneira seria providencial.
Há tempos não sei o que é uma água amarelada,
Esse grosso lodo que me serve se arrasta pela minha garganta.

Não, não jogue esta ponta de cigarro!
Chute-a para mim, deixe-me sentir novamente a fumaça entranhar-se pelo meu corpo,
Acariciando meus nervos esfarrapados.
Deixe-me sentir algo!

Ei, velho carcereiro! Conte-me uma de suas histórias,
Deixe-me conhecer um pouco de você, minha mente viajaria por caminhos diferentes.
Conte-me uma piada sem graça!

Bem que você poderia afrouxar estas algibeiras,
Não tenho para onde ir, nem como ou porque fugir!
A grade é demasiada grossa, cada pedra desta parede pesa mais que dois de mim.

Ei, amigo carcereiro! Estamos juntos há tanto tempo, não me negue um favor,
Só me resta a eternidade da minha vida para toda a minha pena pagar.
Conceda-me um gosto, um gozo, apenas desta vez!

Não ria! Não dê de ombros! Não me dê suas costas, volte aqui!
Não, por favor, não apague a vela! Não!
Carcereiro? Carcereiro?

Foi-se, maldito carrasco!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Na Praça

Lá vai mais uma vez o movimento de fim de tarde pela praça.
Um alvoroço de pessoas cruzando-a rumo ao ponto de ônibus e metrô,
Excitadas rumo ao lar, à família, aos amigos, aos amores.

Fracos raios alaranjados do sol cruzam as densas copas das árvores
Amornando as já gélidas brisas de outono.
Uma mistura que preenche meu coração e desperta sensações adormecidas em meu corpo.
Sensações de um tempo em que tudo era possível, tudo era seguro e tudo era vida.

Aos poucos as cabeças diminuem, a escuridão se aproxima
O alaranjado evade os céus e toma lugar nos postes, agora,
Folhas desprendem-se ao vento frio,
Os barulhos são diferentes, são aqueles dos que bebem nas esquinas, esquivando-se do retorno.

As horas passam, os bares se calam, apenas uma ou outra lamentação ébria.
Complexas arquiteturas dos antigos edifícios dão lugar a formas assombrosas,
Prostitutas e travestis tomam postos sob os postes, como enfeites sob um abajur.
Sombras abrigam agulhas e restos amassados de jornais cobrem corpos trêmulos.

Fregueses vêm, consumidores se vão,
A fina névoa traz o frio da madrugada, dividindo lugar o denso silêncio
Rompido pela coruja faminta e tosses tuberculosas.
Ninguém nas ruas, nada se move, tudo é um nada – uma pintura.

Hora de ir, já vem o sol delator
Expondo corpos caídos, frios, entorpecidos, contaminados.
Vidas agonizam em películas plásticas.

O leve calor matinal saúda com o ardente odor de urina
Aqueles que retornam a mais um dia infernal.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Estou Fora dos Eixos

Nesse vai e vem de pesquisas pela internet, comentários em blogs, referências entre sites, acabei conhecendo o revista eletrônica "Nós - Fora dos Eixos". Frente à bacana proposta de divulgar informações de eventos e conteúdos relacionados às artes, entrei em contato com a revista e recebi a grande oportunidade de divulgar um pouco do meu trabalho por lá através do artigo "A poesia existencialista de Rafael Castellar".

Agradeço a toda a equipe da revista "Nós - Fora dos Eixos" pela grande oportunidade e convido a todos a conhecê-la também!

E vamos que vamos!

Boa Páscoa para todos!

domingo, 5 de abril de 2009

O Elevador

“Boa-noite” disse ao porteiro ao adentrar cansado o edifício,
Enquanto me voltava a fechar o portão.
Adentrei ao saguão onde clamei ao botão a presença de um elevador
Que ali deveria – obediente – estar em sentido à minha espera.

“Boa-noite” disse o morador ao porteiro ao fechar o portão.
Meu estômago fora arrancado.
As portas internas do elevador que chegara ainda se abriam
Enquanto, eu, alucinado, tentava invadi-lo em fuga.

Tempo tinha, coragem não.
Seus olhos me suplicaram a carona,
E a educação imposta me obrigou a conter as pernas e a porta.
Sem me olhar nos olhos murmurou algo tão estranho quanto o meu.

Apertou o nove.
Com o indicador girando, como quem sabe mas não encontra,
Aguardava minha resposta que foi meu dedo no oito.
Descemos.

Minhas pernas me abandonaram, recostei em ódio.
O carona, atleta suado, entrou seguindo o mesmo protocolo.
Apertou o doze.
Subimos, serei o primeiro! Deus, não nos pare no térreo.

Deveria ser o décimo quando passamos pelo sexto.
De olhares fixos no nada, conversamos o silêncio
Como garotos nus em um exame médico coletivo.

Medi os invasores,
Enjoei-me com o suor que ensebava os cabelos sujos do atleta,
Irritei-me com o outro que ainda levava a falsa expressão de simpatia em sua cara covarde.

Voltei-me ao nada.
Retorci os dedos uns nos outros a distrair-me,
Reli os dizeres da sacola da padaria que já tanto conhecia,
Cantei com a banda em minha cabeça.

O tranco revelou: oitavo, ufa! Cheguei e vivo!
Que saiam da minha frente e não se atrevam a abrir minha porta,
Passo feito boi estourado e múrmuro algo tão estranho quanto os deles.

Imbecis.


São Paulo, 30 de junho de 2008.